segunda-feira, 14 de julho de 2014

Olhar suspenso nas cerejas do amanhecer


Há um olhar suspenso nas cerejas do amanhecer,
não existem em mim palavras para o descrever, desenhar…
observar como se ele fosse o silêncio do luar,
mas esse terno olhar... existe, tem um corpo, tem uma alma… e tem asas de voar,
sinto-o todas as manhãs, todas as noites quando habitadas pela insónia,
ele grita pela solidão, e ela, e ela aparece-me vestida de branco,
sei que a loucura não só pertence aos humanos,
conheço árvores loucas, pedras ainda mais loucas, e flores… tão loucas como eu…
sinceramente, este olhar, o olhar que está suspenso nas cerejas do amanhecer…, não,
nunca me pertencerá,
talvez…
talvez seja a ténue luz do desejo, talvez tenha um nome, um apelido,
Um beijo para me presentear,
Talvez,
gritar por ele,
gritarei, gritarei sem o saber,
e talvez, e talvez o venha a desejar…
o querer,
Há um olhar que pertence aos sonhos de sonhar,
um círculo, um quadrado… um triângulo no rosto da música mais bela da floresta…
talvez,
talvez esse olhar, o olhar suspenso nas cerejas do amanhecer…
me diga,
me diga o que fazer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Julho de 2014

domingo, 13 de julho de 2014

Este poema com o nome de beijo!


Horrível,
este poema sem marinheiro,
feliz deste barco embrulhado no vento,
desgovernado,
só...
só... e em sofrimento,
faltam-lhe as palavras,
faltam-lhe... faltam-lhe os encantos dos murmúrios de Inverno,
este poema... filho do Inferno,
que arde na lareira do desejo,
horrível...
este poema com o nome de beijo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014

Páginas sem nome


Que faço a estas páginas sem nome,
que digo às palavras escritas nestas páginas sem nome...!

Triste, a mão que se recusa a escrever,
a mão trémula que inventa cigarros de arder...
que faço a estas páginas de escrever,
anónimas, desorganizadas... páginas mortas, páginas amarguradas,
triste, a mão que acaricia o rosto da madrugada,
e não se cansa de amar,

Que faço... ao cabelo sem vento!

Sem nome, prontas a escrever,
que faço eu mergulhado no teu corpo de neblina...
triste, a mão que não se cansa de sombrear o amanhecer,

Que faço, eu!

Que faço eu nesta tela envergonhada,
onde moram os teus seios de menina...
que triste..., que triste as páginas deste livro quase a morrer,
que faço eu, às palavras não escritas,
aos beijos desenhados na mesa-de-cabeceira,
sem saber o que fazer...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014

sábado, 12 de julho de 2014

Fogo


Fogo,
o teu corpo em liberdade,
suspenso nos braços do desejo,
o fogo que não arde,
o teu corpo quando mergulhado nas asas da madrugada,
o fogo, o fogo em teus cabelos que gritam o silêncio,
o teu corpo evapora-se e dele nasce o beijo,
o fogo... o fogo húmido da tua pele,
adormecida nas mãos cansadas,
tristes, tristes... porque o amor alicerça-se à alvorada,
e o fogo, o fogo que invade o verbo amar,
o fogo extingue-se e tu... e tu és um cubo de vidro com janelas para o mar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 12 de Julho de 2014

Viver


Vivíamos encaixotados numa lâmina de silêncio,
tínhamos dentro de nós o sonho, tínhamos a transparência do amanhecer,
vivíamos sem saber que vivíamos...
viver,

Vivíamos dentro do espelho de uma folha por escrever,
vivíamos como se amanhã fosse o dia mais belo do luar,
tínhamos as palavras em gritos, e vivíamos acreditando que havia uma árvore nua, em despedida...
sentada na alvorada... esperando o regresso do mar,

Vivíamos no centro do círculo de vidro,
tínhamos no olhar a distância transatlântica do desespero..., havia em nós o medo, a solidão,
vivíamos não vivendo,
… porque tínhamos um beijo em nossa mão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 12 de Julho de 2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Mãos de papel...


Não estavas,
levemente desapareceste nos panos húmidos da manhã,
sentia-se a brisa que regressava da montanha,
peguei na tua mão,
percebi que era de papel, percebi que era impossível segurá-la...
hesitei,
voltei a pegar,
a tua mão ardeu, e vi a cinza madrugada rolando calçada abaixo,

O rio absorveu-a, o rio absorve todos os corações sem nome,
levemente... deixou de haver manhã,
perdi a noção do meu corpo, perdi nas pálpebras da tua dor o meu sorriso...
fiquei carrancudo, absorto, como o granito esquecido numa rua sem janelas,
a pedra, e as flores...
absorvidas pelo mesmo rio que hoje alimenta o meu desejo,
não estavas,
e hoje tenho medo a todas as mãos de papel...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 11 de Julho de 2014

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Não, não me obrigues a voar!


Não alimentes a minha fome,
porque eu não quero comer,
não, não grites o meu nome...
… porque sem a tua mão sou capaz de viver,

Escrever,
e... e sonhar,

Não alimentes a minha fome,
não cerres toas as janelas do meu olhar,
não me peças para chorar,
não, não sei chorar...

(escrever,
e... e sonhar),

Não alimentes a minha fome,
não quero os teus lábios de ciclone,
vagueando no meu peito, sobrevoando os meus cabelos tristes,
não,
porque insistes?
que eu seja o que nunca quis ser,
não,
não quero comer,
não,
não quero correr...
apenas quero ser o mar,
com lençóis de amanhecer,

(escrever,
e... e sonhar),

Não, não me obrigues a voar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 10 de Julho de 2014