terça-feira, 21 de janeiro de 2014

às palavras poucas

foto de: A&M ART and Photos

a chuva de mim às palavras poucas
entranhado eu nos cinzentos cobertores da solidão
desenho nos lábios da paixão
o beijo
escrevo nas paredes da insónia o eterno desejado prometido abraço...
… e em vão... permaneço obcecado pelas bolas de naftalina do teu olhar
em vão... adormeço pensando nas ranhuras castanhas dos holofotes de cianeto...
as derradeiras gavetas depois do sexo nuas mãos embrulhadas em toalhas de saudade
a chuva de mim às palavras poucas
deambulando loucamente nos pulmões da velha cidade
sem idade
o corpo submerge de um quarto de pensão,

há carícias
há amor...
há... gemidos confundidos com uma triste/alegre canção...
e Adeus
Adeus a ti de mim às palavras poucas...
das palavras sem coração.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 21 de Janeiro de 2014
Poema em destaque – Blogue Cachimbo de Água – Sapo Angola.
Francisco Luís Fontinha – Alijó.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nesta vida de nada

Foto: Ellestudio.net / Fabien Queloz photographi

Nesta vida de nada
que não me pertence porque amanhã sou apenas um grão de areia
vagueando pelas calçadas da cidade
nesta vida sem nada
caminho caminhando... procurando as palpitações das pálpebras embriagadas
e sinto-me pertencer aos mausoléus da saudade
e às janelas quebradas...
nesta vida há o nada e o alguém
que ama
que busca
que cresce... e morre também
nesta vida eu sou o quê? uma pedra um sapato pontiagudo ou uma enxada?

Nada não sou nada
nesta vida de ninguém
nesta triste vida de nada,

Eu sinto-me uma alma penada
um pedaço de papel ardendo nos teus seios
nesta vida de corpos circunflexos... e anexos... e nesta vida de equações lineares
em nada
sou o nada
e sinto-me uma pedra pesada
tão pesada como a penugem de uma gaivota
nesta vida malvada sou um crucifixo disfarçado de madrugada
uma lápide
ou uma dolorosa argila sofrendo nas mãos do pedreiro
que antes de uma vida de anda
foi mestre em culinária e barbeiro... e carpinteiro... poeta sofredor... e nada... nada de doutor.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Janelas de mármore...

foto de: A&M ART and Photos

Os últimos cacos de ti desaparecem nas amoreiras virgens dos telhados de colmo
a dor inseminada que sentiam as tuas dúcteis veias habitam hoje nas janelas de mármore
e durante a noite
a mão solitária da insónia rouba o mar que se ouvia das janelas de mármore...
sinto-te neste momento em finas placas de poeira
inventas o vento para que os teus despojos sejam selvaticamente levados para a montanha
uma ribeira alegremente chora
e no teu rosto de cacos
as pequenas lágrimas de cianeto que invadem o teu doce sofrimento
hei-de ser uma lareira acesa na tua mão de porcelana
um livro em forma de chocolate...
hei-de ser um dos últimos cacos de ti.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Janeiro de 2014

Sanzalas do pecado

foto de: A&M ART and Photos

qualquer coisa começada em pedra e terminada em erva
o terreno límpido onde pastam as vozes dos cortinados ensanguentados
húmidos pelo medo
às paredes o silêncio degredo
a morte vestida de flores embalsamadas
e portas encerradas
janelas que olham o mar
o mar que transforma janelas em barcos para brincar
qualquer coisa em ti
comedida
a dor sobre os teus ombros submersos em carris de aço nos lânguidos lábios em tristes abraços...
sabia-te deitado no meu destino,

ancorado
e bem amarrado como cordas que sustentam as pontes invisíveis das tempestades de veneno
converso e oiço-te em mim...

grito.... “Quero o meu caderno das argolas desbotadas quando a tarde ainda era tarde”... grito e quero-o em mim como se eu fosse um simples suporte de madeira deixado numa qualquer rua da cidade...,

a cidade fervilha e transpira
o corpo despe-se e do espelho do sótão uma lâmina de tristeza embrulha-se em ti
sim eu percebo que você é frágil e de frágeis vivem os jardins como vivem as árvores nos seios das pequenas gaivotas em papel...
a cidade és tu
o corpo é o meu
o meu corpo dentro do teu corpo
dois corpos suspensos na fronteira do prazer... vivemos na alegre solidão da dor...
sinto-as como se fossem as minhas mãos de amoreira em cima das nuvens negras do Inverno inferno travestido de Cinderela adormecida... ancorado... e bem amarrado... o teu corpo vive e habita nos rochedos das montanhas encarnadas
o teu corpo masturba-se nas sílabas assassinadas pela madrugada
oiço-as e invento-lhes nomes para que eu não enlouqueça como a insónia vogal do ciume
vive-se vivendo como esqueletos de ossos em migalhas de pão...
voa-se voando... quando de um corpo sem corpo acordam as sanzalas do pecado.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sem nome – o teu nome

foto de: A&M ART and Photos

Não sei o nome dos teus olhos molhados
quando chovem pedaços de saudade nas pedras íngremes do silêncio
convenço-me que sou um corpo putrefacto esquecido nos pingentes húmidos telhados de vidro
sentindo as tuas mãos em aço
e submergindo nas tempestuosas águas que as palavras trazem depois de escritas
ditas e perdidas nas calçadas com flores apaixonadas pelos candeeiros envidraçados do medo
e na areia da paixão sei que vivem vogais vestidas de negro vendendo o corpo por três moedas...
sei que o teu corpo é um fóssil mergulhado nas quatro pedras de gelo do meu invisível uísque
sinto-as como carícias sombras nas páginas do livro de poemas à procura do barco dos sonhos
apitam e choram apitam... e gritam... e apitam... e gritam o apito da melancolia
e em loucas orgias de sílabas licenciadas em nuvens de sémen...
não sei o nome... dos anzóis da solidão.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vozes de granito

foto de: A&M ART and Photos

Há uma estrada que nos transporta até à cidade do gelo
dento do desejo medo
um livro teu mergulha na inocência da noite poética
o uísque embainha-se no gelo da cidade perdida
e uma personagem invisível veste-se de madrugada
há uma estrada
uma rua e um nome...
há um calendário que me insemina na doce margarida em pétalas fungiformes
dos torrões de açúcar
e escreve no meu corpo os números tristes das planícies dos cegos
a gaivota da tua mão mórbida aparece nas costas do cortinado cinzento junto à lareira da paixão
e um corpo...
o teu corpo... arde como papel vegetal em pequenos esquissos dos loucos projectos,

Há vozes de granito que iluminam a escuridão das tuas pálpebras
e dor que transforma as plantas vivas em mortas jangadas de veludo
há a dita cidade do gelo
encastrada nos seios da mulher de palha...
oiço-os em gritos andaimes depois da despedida que o cais das lágrimas de aço transborda montanha abaixo
rio acima tudo dorme sem perceber que da noite nascem lençóis de prazer
e as pontes de vidro que eu toco são como a frieza dos teus velhos lábios...
o nome que não sei pronunciar
escrever...
o nome inventado nos rochedos de areia da cidade do gelo
há uma estrada em ti que me acorda em todas as alvoradas
e... e desejei eternamente ser em cartolina como os jardins do nada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014