Blogue Cachimbo de Água
quinta-feira, 4 de julho de 2013
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Como tu, refugiada em palavras mortas
foto: A&M ART and Photos
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Como tu
refugiada em palavras mortas
mórbidas borboletas de veludo
voando
sonhando câmbios e orgasmos das
neblinas filhas da madrugada
sou
como tu
embriagado pelas luzes do extinguido
habitáculo de nylon,
Como tu
uma árvore em silencio no recreio da
velha escola
sentamos-nos? Podíamos entrelaçar as
mãos como fazem as andorinhas
quando
como tu?
Acordam as letras envenenadas das
canções de amor...
Não sou nada
parecendo uma pedra lançada ao vento
e cai gravemente sobre o teu peito...
e da ferida... uma pequena rosa
sobrevive aos teus lamentos,
(Como tu
refugiada em palavras mortas)
E insignificantes espelhos da eira
triste
dançando como as bailarinas das
fotografias suspensas no gesso alicerçado às mãos de um inocente
homem com barba branca
dançamos?
(mórbidas borboletas de veludo
voando)
Nunca mais regressarei aos teus abraços
braços
porque agora sou um barco
sem leme rumo ou velas
sem motor marinheiro ou perfume teu
dentro de mim
caminharei sobre os cedros apodrecidos
de uma lápide significando a minha ausência
nunca
regressarei ao porto de abrigo
para ser ancorado e aprisionado a uma
corrente enferrujada com sintomas de tuberculose...
Fumamos?
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Tão linda e tão bela, ela...
foto: A&M ART and Photos
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Oiça, olhe o que eu lhe digo, está a ouvir-me?
Gostava da disposição das mesas, do alinhamento dos talheres, da
preciosidade dos prato, uns sobre os outros, fazendo-me recordar as
fatias de espuma sobre a crista das ondas, gargalhando como pequenos
soluços, ouviam-se horrores transformados em montanhas
desavergonhadas, olhávamos os céu, e víamos o cansaço dos anos em
pequenas travessuras de crianças, doidos, correndo na peugada de
uma sandes de marmelada, ouvíamos, e nada dizíamos, porque éramos
pobres, porque éramos melancólicos, porque
Oiça,
E é tão bom, saber que sobre nós, voa uma voz de
silêncio, vestida de noite, e ouvir sem perceber porquê... o bater
de asas em papel crepe, oiça
Oiça, olhe o que eu lhe digo, está a ouvir-me?
Todos loucos, porque os pássaros deixaram de voar, porque as flores
nunca mais senti que sorrissem para mim, para os outros é uma
coisa... agora, para mim? Eu, o único solitário que lhes pegava com
todo o cuidado, acariciava-lhes as pétalas doiradas de olhar
envergonhado, eu, eu que me sentava em frente a elas, eu que cruzava
os braços, e sorria
Inventava-lhes abraços,
Oiça,
E é
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
E é tão bom quando chegamos a casa, abrimos a
porta, nada lá dentro, e tudo cá fora, entramos, deixamos as roupas
transpiradas no cabide exposto no Hall de entrada, ficar nu, cá
dentro nada existe, apenas um espaço vazio, sem vozes, sem livros, e
palavras
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
E é tão bom, percebermos, que ninguém nos espera,
e é tão bom, tão bom, e palavras voando pela janela até
desaparecerem entre as roseiras do quintal da Augusta, parecem
borboletas vagueando os sonhos do meu corpo desnudo, ósseo, filho de
um esqueleto de vidro, finas partículas de areia, um alto-forno a
temperaturas elevadíssimas, eu, no centro do forno, borbulhas de
azoto, películas de pele levadas pelo vento, panfletos a anunciarem
uma greve geral que nunca chegou a acontecer, um dia, de um País que
nunca existiu, e morreu dentro do alto-forno... todos lá dentro, o
meu esqueleto, a areia, e eles, claro,
Oiça o que eu lhe digo,
Diz lá, Carlitos,
(isto está fodido!)
Isto, isto o quê?
Isto, isto tudo!
Tudo não, porra, porra não, quase tudo, mas nós
ainda estamos de boa saúde, pensa Carlitos, pensa que ainda existem
pessoas em pior situação do que a nossa
A nossa, qual nossa?
A minha e a tua, porra, porra não, é que...
Oiça o que eu lhe digo,
É que ainda estamos vivos, percebes? E nos tempos
que correm... estar vivo é a maior vitória, depois da águia,
claro, claro, claro, não porra, porra não, claro, ah...
E é
É o quê?
Tão linda, ela, mais bela que o mar, mais leve que
o vento... e voa, voa como as gaivotas, e navega, e navega como os
barcos quando entram na barra
Nos teus braços?
E é
É o quê?
Tão linda e tão bela, como ela, como ela quando
entra em casa, tudo vazio, as vozes ofegantes das minhas personagens,
todas elas, dormem, digamos que
Talvez não durmam todas, mas tenho a certeza que
algumas delas, dormem, oiço-as, oiça, olhe o que eu lhe digo, está
a ouvir-me? Gostava da disposição das mesas, do alinhamento dos
talheres, da preciosidade dos prato, uns sobre os outros, fazendo-me
recordar as fatias de espuma sobre a crista das ondas, gargalhando
como pequenos soluços, ouviam-se horrores transformados em montanhas
desavergonhadas,
Tão linda e tão bela, ela...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 2 de julho de 2013
e corações com o marcador encarnado
foto: A&M ART and Photos
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Vivíamos não percebendo que das marés
de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces
envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel
esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo
delineava-te em curvas com sombras de
trapézios
e dos poucos ângulos que sobejavam em
ti
davam para alimentar-me quando chovia
nos lençóis da espuma infância
e sorrias como os milímetros de noite
inertes entre pilares de granito e luzes ancoradas pelo suicídio,
Vou deixar de escrever
(confesso-o apenas a ti)
porque tudo tenho perdido com as
palavras
hoje
(confesso-o apenas a ti)
olhei-me no espelho do meu guarda-fato
(que te garanto, nada guarda)
e vi os meu olhos em pedaços de lume
como a lareira de Carvalhais
(lembras-te do Inverno?),
Sorrir para quê?
Se todas as minhas fotografias são
tristes
inexpressivas e doentes
até parecem (disseram-me um dia)
cadáveres voando sobre os Oceanos onde
mergulhavas em busca de cardumes inexistentes
de peixes
e lobos descendo a Serra
aldeias perdidas em ti
como eu
(disseram-me um dia, que as madrugadas
não eram todas iguais)
apelidei-te de PARVALHONA e hoje
percebo que errei
(peço-te desculpa)
porque nenhuma madrugada consegue ser
decalcada no estirador onde habitas
digamos que (onde ainda consigo ver o
teu corpo no esquisso),
Abro a janela
(para quase todos eles, já é noite)
para mim (para mim acorda agora o dia)
começam as brincadeiras dos meninos
enquanto mães desassossegadas
habitam como tu no estirador semi-nu
das estrelas de plátano adormecido,
(confesso-o apenas a ti, tenho fome)
fome daquela que estávamos habituados
a saciar
coisa que conseguíamos resolver com
dois ou três livros
alguns beijos
e corações com o marcador encarnado
deixando no teu peito uma rosa
um silêncio
sem queixumes
saudades
ou pieguices...
abro a janela
e deixaste de descer a Serra
como os lobos
(quando ouviam a velha máquina de
costura Singer),
Hoje
Que dia é hoje, (se posso apelidar-te
de amor)?
Não sabes ou não queres responder...
deixei de perceber se é Sábado
Terça-feira
não o sei porque não o desejo saber
(Vivíamos não percebendo que das
marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces
envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel
esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo)
porque se o soubesse
perceberia o quanto feliz eu era sem as
malditas palavras...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Labels:
arte,
Carvalhais,
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desejo,
Desenho,
inverno,
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Poesia,
primavera
Location:
5070 Alijó, Portugal
segunda-feira, 1 de julho de 2013
e nunca e nunca tenhas medo de me desejar...
foto: A&M ART and Photos
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deseja-me imprimido nos teus braços
como fatias de xisto expostas à
claridade dos teus lábios
deseja-me em fios de luz
como as sílabas escondidas no poema
deseja-me entre clarins e melancolias
quando desce a noite
e te vestes de neblina,
deseja-me dentro de um espelho
morto
cansado e abandonado
não importa o desejo teu quando
acordarem as estrelas em ti
mas por favor...
se me ouves
deseja-me nem que seja apenas em verso
pensamentos vagos
mas deseja-me... ou em sonhos
nas palavras ou em arbustos junto ao
Tejo
… deseja-me como se eu fosse uma flor
na boca de uma abelha
deseja-me ou inventa desejos em mim
como se fossem os teus desejos,
as tuas tristes palavras
deseja-me antes de adormeceres
se o conseguires
reza como se eu fosse o teu Deus
Cristo crucificado nos teus braços de
insónia
doirado teu adormecido corpo
arde como madrugadas em delírio...
e nunca e nunca tenhas medo de me
desejar...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
domingo, 30 de junho de 2013
As tuas tristes algas
foto: A&M ART and Photos
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Flutuávamos como duas abelhas sobre desejos de mel,
abraçavas-me e beijavas-me, não percebendo eu, o significado do
amor em equações diferenciais, acariciava-te a integral tripla dos
teus seios, e tu, tu olhavas-me como se eu fosse uma flor com
pequenas convulsões, desejava-te, e não percebia, que eu, também
mulher como tu, mergulhava num círculo de tédio com pequenos cubos
de insónia, olhava-te, olhava-te... até me cansar, até
desapareceres do meu espelho verde alface que sempre viveu dentro do
meu coração, flutuávamos como duas serpentes e acabávamos pela
manhã, entre a madrugada e o amanhecer, enroladas uma na outra, como
duas cordas em sisal, como duas âncora a aprisionar barcos que
gemiam enquanto éramos pássaros, que saltitavam os quintais dos
velhos pescadores, como nós éramos, meu amor, duas simples gaivotas
sem qualquer plano de voo,
Tinha medo de perder-te, e ausentares-te de mim,
quando o pensava, parecia-me um suplício, uma tristeza disfarçada
de palavras, poucas, porque bastavam-nos os lábios, e nunca, nunca
precisávamos de livros, sebentas... ou canetas de tinta permanente,
porque éramos pétalas vagueando sobre um rio em delírio, porque te
amava como ainda te amo, a ti, ao teu corpo, aos teus sonhos, e às
tuas algas,
E como é triste, o silêncio do teu corpo,
Como são tristes, as tuas algas, os teus
esconderijos, que fazes-me procurar-te entre pinheiros e gaivotas,
entre marés e o pôr-do-sol, como é difícil olhar-te e ouvir da
tua voz
Amo-te, minha querida,
Como, o quanto difícil é, dizer-te
Amo-te, minha querida,
Como são tristes, as tuas nádegas, depois de
partires, como será sempre triste, a tua triste ausência, navegando
tu pelas sílabas dos alicerçados desejos, e como são tristes,
todas as peles bronzeadas que te conheci, quando deitavas a tua
cabeça sobe os meus seios, e imaginávamos barcos a brincarem nas
nossas coxas...
Sempre tua,
Ana.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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