O
que eu estranho na tua voz,
Os
musseques de Luanda, ao longe, a praia e o mar…
Sinto
o velho capim embrulhado nos meus braços,
Assobios,
Abraços,
Sinto
no meu corpo o sorriso dos mabecos, enfurecidos pela tempestade,
Chove,
a água alicerça-se no meu peito,
Estou
morto, nesta terra sem fim,
Dilacerada
como um cancro de chumbo poisado no meu sorriso…
A
morte é bela,
E
passeia-se pela minhas mãos.
Ouves-me?
Camarada das noites perdidas…
O
que eu estranho na tua voz,
O
silêncio das flores,
As
raízes do cansaço em frente ao espelho, sinto e vejo… o susto,
O
medo de adormecer no teu colo,
Meu
cadáver de lata,
Recheado
de lâmpadas encarnadas…
Ouves-me?
Camarada das noites perdidas…
A
jangada laminada,
O
sorriso de uma pomba, correndo a Calçada,
E
no final da tarde,
Antes
da alvorada,
Uma
pedra se parte, arde na minha mão, como uma faca de sombra…
Cravada
no corpo.
Assobios,
Abraços,
Enquanto
eu o que estranho na tua voz,
São
as sílabas do desespero.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19/08/2018