foto: A&M ART and Photos
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Mostra-me onde fica o mar, sussurra-me poemas como
quando sinto os cortinados da minha janela, porque acorda o dia, a
cintilarem, dançam entre vidros e sombras de luar, mostra-me, se não
tiveres medo, onde fica a casa do amor, o silêncio do desejo,
mostra-me, sem pudor das imagens, o mar, as palavras do mar, fica,
não vás agora para a distante solidão dos desejos de amar,
mostra-me, mostra-me o que é o amor, e eu, oferecer-te-ei este
desenho, este desenho das minhas mãos, quando eu, ainda tinha mãos,
e tu, vagueavas dentro da minha cabeça como os peixes no aquário da
paixão; amar-me-ás? E se eu confessar-te entre murmúrios e sons
melódicos que te amo... zangar-te-ás como fazem os pássaros quando
lhes retiramos os cobertores nocturnos da geada? Guarda-o, e não
tenhas medo, deste, dos outros, de tantos e tantos... desenhos meus,
porque teus fantasmas são,
o branco negro da solidão, precisarei de lágrimas
como tormentos meus para perceberes que a minha pobre embarcação,
velha, cansada, começa, aos poucos de nada, a meter água, enche-se
de medo, desassossego, e eu, espero-te desde ontem na ponte dos
camuflados soldados de chocolate, lembras-te de mim, ainda?
São, todos teus, os tristes desenhos meus,
porcarias sem nexo, e avança sobre mim a vergonha, a língua de fogo
que a manhã transforma em dor, em poeira,
ai a poeira...!,
E não, não o digas mais, que a culpa foi dos
morcegos, das equações de Einstein... porque não, não são os
tectos da relatividade os culpados pela ausência de barcos na nossa
cama, se ainda temos cama, sono, tempo para abraços, não, não
foram os cansaços, culpados, prendam-me se for necessário,
acorrentem-me a um cais de embarque, que eu, eu lanço-me ao mar,
rio, onde vocês quiserem, mas... não culpes o Einstein
havíamos construído um casulo circular na
profundidade do silêncio da areia, vestias-te de encarnado, a blusa,
e das tuas velhas calças de ganga, ouviam-se-lhes ainda os gemidos
da noite anterior, tínhamos medo, nós éramos o medo disfarçado de
poesia, e inventávamos poemas nas descamadas conchas perfumadas dos
moluscos envenenados por algas, ruídos de automóveis em confrontos
desnecessários com os vizinhos do rés-do-chão, e tu, dizias-me
Amo-te,
eu, parvamente, engolia palavras, comia-as, como
hoje almoço os livros que leio, como ontem dormíamos sobre os
lençóis de seda com desejos prometidos, Amo-te, dizias-me tu, eu, e
nós acreditávamos no largo das palmeiras, e enquanto te sentavas
junto ao lago víamos os cisnes a dançarem nas encostas socalcos do
Douro, havíamos
Amava-te, digo-o hoje, e comia-as, alimentavas-te de
pequenas gotas de suor que o teu finíssimo corpo transbordava quando
as minhas mãos
escrevias no meu corpo palavras, desenhavas-me e
dizias-me que a tela dos meus seios, pequenos, ínfimos, tinham
sussurrado o teu nome enquanto esperávamos pelo comboio para
Alcântara, havia barcos estranhos nas nossas costas, crestados
abraços, milímetros quadrados de tristeza, a saudade, escrevo-te,
escrevo e peço-te que,
As minhas mãos, inventávamos sonhos e Primaveras,
que
peço-te que não culpes o Einstein...
Que, e dizias-me, onde ficava o mar, sussurravas-me
poemas como quando sinto os cortinados da minha janela, porque acorda
o dia, a cintilarem, dançam entre vidros e sombras de luar,
mostra-me, se não tiveres medo, onde fica a casa do amor, o silêncio
do desejo, mostra-me, sem pudor das imagens, o mar, as palavras do
mar, fica, não vás agora para a distante solidão dos desejos de
amar, mostra-me, mostra-me o que é o amor, e eu, oferecer-te-ei este
desenho, este desenho das minhas mãos, quando eu, ainda tinha mãos,
e tu, vagueavas dentro da minha cabeça como os peixes no aquário da
paixão; amar-me-ás?
peço-te que não culpes o Einstein... , e havíamos
de cruzar os Oceanos arbustos que Belém aconchegava, e um rio,
Chorava,
tu choravas ensanguentando os meus braços de
cinzentas lágrimas...
E choravas, sentia-te dentro dos lenços de papel.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha