foto: A&M ART and Photos
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O corredor encastrado nas rochas sobre lâminas
pulmonares que sobejavam das cansadas manhãs de sobriedade, o
corredor, altíssimo como o abismo, e aos poucos deixava de ver-se o
tecto, dando a terrível sensação de claustrofobia, parecendo ao
olhar do simples comum que as duas paredes se uniam no infinito,
evidentemente que não, e a largura do tecto milimetricamente igual à
largura do pavimento térreo, onde as tuas sombras mergulhadas em
asas de pequenos tecidos réstios, recordando-me paisagens da África
do Sul ou Austrália, recordando-me silêncios submersos em canções
melódicas em roda de uma fogueira, quando recheada a noite, vinham
até mim, sem perceberem que eu os desejava, os esperava, vinham até
mim pequenas lascas de vento, saboreava-as, e claro que quando
adormeciam debaixo de ti os recusados orgasmos matinais que dos
cortinados do medo remexiam páginas e pequenas folhas dispersas
sobre a mesa em fórmica barata que tinha adquirido numa das minhas
visitas à feira da Ladra, apetecia-me comprar uma pistola, munições
de argila, e brincar como as crianças, imaginando alvos, imaginando
vidros, na escola, quando pontapeava uma bola em borracha, e a milhas
da baliza, quebrava um dos grandes vidros da janela onde hoje habita
a biblioteca municipal,
coisas de putos,
E de “Putas”,
coisas de gajos como eu, desajeitado, imprimido numa
madrugada em mil novecentos e sessenta e seis, pior do que isso, um
belo domingo de Sol, era verão, e era Janeiro, havia flores em redor
da maternidade algures esquecida na cidade dos sonhos, para uns,
desejos, para mim, pesadelos, e para ela
A cidade da vaidade, da arrogância, uma cidade em
pedras comendo as lâminas pulmonares dos homens com janelas
quebradas por um miúdo desajeitado, um miúdo, estúpido, um miúdo
que depois de crescido, ficou palhaço, o circo entra cidade adentro,
o miúdo esconde-se nas catacumbas do desassossego, porque sempre que
o corredor aumentava em altura, notava-se, que, não sei... mas
parece-me que aumenta também em comprimento,
cumprimenta o senhor General, Margarida Armanda,
Bom dia, senhor General,
coisas de putos,
E de “Putas”,
uma fogueira, quando recheada a noite, vinham até
mim, sem perceberem que eu os desejava, os esperava, os comia mesmo
antes de entrarem em mim, (bom dia, senhor General), e ele fazia-a
acreditar que a lua era redonda, e que das nuvens, depois do prazer
aconchegado das mãos do senhor General, eram de algodão, porco,
filho da puta, e dizia-se que era normal, as meninas, mandadas pelos
pais, cumprimentarem o senhor general,
Bom dia, senhor General,
e o prazer transformava-se em dor, e as pedras da
parede do corredor, algumas, transformavam-se em pequenas bonecas,
bonecos, e estrelas
E de “Putas”,
que ficavam no céu até acordar o dia,
deitávamos-nos quando os machimbombos começavam as alegres
caminhadas palas ruas da cidade, havíamos de conquistar as sanzalas
com meninas que diziam ao acordar
Bom dia, senhor General,
palhaço, o circo entra cidade adentro, o miúdo
esconde-se nas catacumbas do desassossego, porque sempre que o
corredor aumentava em altura, notava-se, que, não sei... mas
parece-me que aumenta também em comprimento, e a tristeza na
proporcionalidade de cinco para um, desfaz-se em pequenos grãos de
areia, ela agachava-se para espantar o medo
Bom dia, senhor General,
e o medo sabia a lágrimas como capim enrolado na
ferocidade dos mabecos que durante a noite, entravam nas casas, e
subiam à cama das meninas, e numa voz dilacerante, ouviam-se-lhes
Bom dia..., bom dia, senhor General.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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