O
silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o banho imaginário nas traseiras
da casa onde habita o teu jardim, o teu corpo é um esqueleto de veludo, fossilizado
nos fantasmas da noite, regressa o mar, traz na algibeira as flores da
madrugada, simples, magoadas, como as sentinelas da morte,
O
ausentado menino dos socalcos de xisto, que brinca nas margens do rio
envenenado pelas enxadas da insónia, tenho medo, tenho medo dos alicerces da
dor quando do teu corpo apenas consigo observar estrelas e fumo…
Ao
amanhecer,
A
trovoada que abraça a parede granítica do sonho, o miúdo complexo em círculos
no quintal infestado de Mangueiras e Mangas, e quando ele percebe, tem um
papagaio em papel brincando entre os finos dedos, não chove, deixou de chover
nesta terra, deixei de ouvir o cheiro da terra queimada, e o poço é cada vez
mais fundo, observo-o, alimento-o, e sinto o peso das plumas nocturnas dos
bares de Lisboa,
Ao
amanhecer, os vidros das janelas rangem de frio, a lareira morta na esperança
de acordar de madrugada, e o silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o
banho imaginário nas traseiras da casa onde habita o teu jardim, cobertos por
um finíssimo cobertor de geada.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
2 de Dezembro de 2017