Tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso
quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, alguns
caixotes desaromados, alguma roupa e um sonho, acreditávamos no amanhecer junto
à geada, a esfera do caos esbranquiçada poisada na nossa mão, eu era uma
criança mimada, filho único, Africano de nascença, apátrida e desapontado pelas
raízes do poder, tinha medo, meu pai, tinha medo da tua terra…
E sem o perceber
Assim temos mais prazer, penso nos teus
seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira,
gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,
E que noite, meu amor, e que noite,
E sem o perceber acordei junto a um dos
caixotes, sentia o vento do mar a entranhar-se nos meus frágeis ossos, chorava,
gritava… nem um mabeco em meu auxílio,
E sem o perceber, tínhamos uma nuvem de
silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro
lado do rio, e soníferos beijos, lembras-te, meu amor, o cheiro intenso da
madeira envelhecida e triste, os pregos enferrujados de tédio, e algumas
frestas de solidão, ninguém, ninguém imagina este concerto de sons melódicos e
metálicos do sofrimento, a morte, a ressurreição e a alvorada,
A tristeza de não saber quem és…
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
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