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sábado, 14 de outubro de 2023

Flor de fumo

 

A meio da noite, meu amor, a meio da noite acorda a luz no teu corpo, a meio da noite, meu amor, a meio da noite, deita-se a luz no teu corpo, abraça-se a luz às minhas mãos, que poisam no teu corpo as primeiras sílabas da manhã,

A meio da noite, meu amor, a meio da noite acordam os pigmentos de cor, com que pincelo o teu ombro, a meio da noite, ele sonolento, tão sonolento como as predizes da madrugada,

A meio da noite,

Meu amor,

A meio da noite acorda a luz no teu corpo, ergue-se o livro esquecido no chão, poesia de uma afegã, a meio da noite, os teus olhos, meu amor, a meio da noite vestem-se de estrelas, e passeiam-se nos meus lábios, quando o meu beijo desce suavemente sobre o teu ventre, a meio da noite, o incêndio, a fogueira da noite, que a meio da noite enrola no teu cabelo, e voa sobre um ninho de cucos, perdidos na noite,

Meu amor,

A meio da noite, fogem de mim as diáfanas águas da ribeira dos sentidos, que a meio da noite, trazem as pedrinhas com que construo a minha noite, quando a meio da noite,

Sobre ti, lábios de luz, sobre ti, silêncios de ti,

A meio da noite,

Acorda,

Ergue-se o livro da poetisa afegã…

Que perdeu a noite,

Que nunca teve noite, como eu, quando procuro no teu corpo o poema mais belo do céu nocturno em “Flor de Fumo”,

E querida Nadia Anjuman, a meio da noite, porque te assassinaram, quando possivelmente as tuas noites eram como são as minhas noites, sonhar com poesia, respirar poesia, snifar poesia…

A meio da noite, uma flor se aproxima de ti, se deita no teu colo, e recorda-me a infância com muitos meios da noite, eu olhava as estrelas, pedia um desejo,

E voava,

Sobre ti a meio da noite,

Porque te assassinaram?

Flor de Fumo…

 

 

14/10/2023

Vida


Talvez a vida tenha começado no espaço

Frio e escuro

Dizem eles

Os cientistas

Talvez a vida tenha vindo do espaço…

Mas eles dizem tanta coisa…

Que eu não sobrevivia aos primeiros meses de vida

E cá estou eu

Sentado numa cadeira

Em frente ao mar…

À espera

À espera de que o mar me leve

E a escrever parvoíces.

 

Talvez a vida seja apenas uma imagem

Reflectida no espelho da insónia

Talvez a vida tenha começado fora

Fora da Terra

E eu

Aqui

A queixar-me da vida.

 

Talvez a vida tenha começado na tua mão

Também ela

Reflectida no espelho da insónia

Também ela

Perdida em frente ao mar

À espera

À espera da minha vida

Da minha mão.

 

Talvez a vida tenha começado na minha rua

Em frente à minha casa

No número quinze

Terceiro esquerdo

Talvez a vida

Talvez a vida tenha começado no teu silêncio

Quando me olhas…

E nem bom dia me dizes

Talvez a vida…

Eles dizem tanta coisa…

 

Talvez a vida tenha vindo dos teus olhos

Também eles reflectidos no espelho da insónia

Que existem para me acordar

Que existem para eu contemplar…

Quando acorda a manhã

Quando se deita a noite nos teus braços

E dos teus lábios

Emerge-se a vida

A vida que começou no espaço

Frio e escuro…

 

 

14/10/2023

domingo, 8 de outubro de 2023

Castelo

 

Sentamo-nos.

Suicidamo-nos com o fumo deste cigarro

Quando dispara sobre a manhã

A bala de prata.

Suicidamo-nos com as lágrimas do mar

E sentamo-nos nesta pedra cinzenta,

Velha,

Ferrugenta,

Sentamo-nos e suicidamo-nos pelo entardecer,

Junto ao rio,

Quando o teu corpo não se cansa de arder

E chorar,

O veneno que nos vai matar,

 

No verbo de escrever.

Sentamo-nos no chão com o odor do teu corpo,

Suicidamo-nos com as flores da Primavera…

Voamos para o castelo do silêncio,

Quando os teus lábios se transformam em pigmentos de luz…

Em pedacinhos de amanhecer,

E suicidamo-nos quando acordar o dia,

Quando o sol nascer,

E nos oferecer,

Ao pequeno-almoço…

Poesia.

 

Sentamo-nos.

Suicidamo-nos com o fumo deste cigarro,

Nutriente do meu corpo viver,

Sentamo-nos sobre esta pedra, esta pequenina pedra de veludo…

E suicidamo-nos com as primeiras lágrimas da manhã,

Nós

Sentados…

À espera de que o mar nos leve.

 

 

08/10/2023

sábado, 7 de outubro de 2023

Cansaço

 

Desenhar-te,

Cansa.

Sonhar-te,

Cansa.

Desenhar-te nos meus braços,

Cansa.

Desejar-te,

Cansa.

Amar-te…

Cansa muito.

No entanto,

Desenho-te,

Sonho-te,

Desenho-te nos meus braços…

Desejo-te

E amo-te muito

Tanto o quanto te odeio….

 

 

07/10/2023

domingo, 1 de outubro de 2023

O carrasco

 

Tragam o carrasco

Estou pronto para ser castigado

Sempre estive pronto

Tragam o carrasco

Com os seus alicates

Com as suas garras

Tragam o maldito carrasco

Do dia que nasce

Ao dia que morre

Pronto

Sempre estive pronto para as suas garras

 

Tragam o carrasco

E o saco com os pecados

Tragam vinho

Tragam pão

Uísque

E charros

Tragam o carrasco e castiguem-me

Me atormentem

E me matem

Se Deus quiser

 

Quando cair a noite

Tragam o carrasco

E os seus métodos de tortura

Na fome que dura

Que dura na mão do carrasco

Tragam o carrasco

Tragam a chuva

Que eu mereço

O castigo

Do carrasco

 

 

01/10/2023

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Galeria-boutique El Capitan


 A galeria-boutique El Capitan fica na Foz do Arelho.

Conheci a artista plástica Zahra Aghamiri, descendência Iraniana, pai Iraniano, mãe Americana e marido Inglês.

 Gostei imenso dos seus trabalhos, conversamos sobre as suas origens, processos criativos e ainda deu para tirar uma foto e fazer-lhe um convite para visitar o nosso lindo Douro.

Que tenha muito sucesso.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Solstício

 Meu pequeno solstício do desejo

Meu poema

Minha oração cansada

Quando deitada

Nesta cama

 

Sem perceber

Se um dia ao acordar

Também acordará a poesia

A mentira fictícia da ausência

Entre o sonho e o mar

Entre o mar

E o dia

 

E o dia em clemência

Pedindo

Ordenando que acorde também a noite

Quando um pedaço de tudo

Se ri de mim

E rindo

Também me rio também me amar

Do mar eu

Ao teu nosso mar

 

Meu pequeno solstício do desejo

Meu poema

Minha oração cansada

Quando deitada

Nesta cama

 

Dos livros nossos livros

Das nossas flores

Flores nossas mãos entrelaçadas

Ao lençol de neblina

Que cobre a tua pele

Do linho amargo ao silêncio-pastel

Deitado na tela

Deitado no teu ventre.

 

 

27/09/2023

sábado, 19 de agosto de 2023

Planície

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Figura

Estátua granítica

Como o teu coração

Em tristes grãos de pedra

Montanha em despedida,

 

Amo-te

Cabeça dura

Noite perdida,

 

Amo-te

Invisível silêncio

Quando se ergue a manhã em teus olhos de mar…

E uma amêndoa poisa docemente nos teus lábios,

 

E dos teus lábios… acorda o luar,

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Montanha

Noite perdida

Na noite dos embriões de papel

Em teus lábios de mel

Do mel da boca fugida…

 

 

Alijó, 19/08/2023

Francisco Luís Fontinha

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Lábios de mel



Nos teus olhos de mar

Nascem as púrpuras manhãs de incenso,

Dos olhos de mar

Acordam as madrugadas

E adormecem

Nos teus olhos de mar

As manhãs cansadas,

 

Aos teus olhos de mar

Regressam as gaivotas em papel

E as primeiras palavras do amanhecer,

Nos teus olhos de mar

Esconde-se a paixão,

O beijo…

E o desejo de beijar os teus lábios de mel.

 

 

 

17/08/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Janelas

 


Olhos de amar

 

Perco-me neste labirinto

Procurando a sombra da tua mão

Na tua mão que sinto

Que sinto a tua mão

 

Perco-me dentro deste livro de poesia

Procuro neste livro os teus olhos de mar

Procuro neste livro o sorriso do dia

E as lágrimas do luar

 

Procuro neste labirinto de insónia adormecer

As primeiras palavras da madrugada

E sem querer

 

E sem o desejar

Procuro neste labirinto o teu rosto de cansada…

Quando este labirinto é os teus olhos de mar.

 

 

 

Alijó, 15/08/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 13 de agosto de 2023

Lágrima assombrada

 

Esqueço os teus olhos de mar

Em mar teus lábios de mel

Esqueço os teus olhos em luar

Do luar que assombra este papel

 

Esqueço a tua boca e o teu cabelo de vento

Esqueço o domingo inventando

Espadas no meu pensamento

Do lamento esquecer os teus olhos que fui sonhando

 

Esqueço que este poema não te pertence

Que este poema morreu junto ao rio

Esqueço a força que me vence

 

Quando a noite se esconde na madrugada

Esqueço que este navio

É uma lágrima assombrada.

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)