Dizem que ela nasceu nas
florestas invisíveis do sono.
Alimenta-se das sombras sobejantes
da insónia e,
Quando acorda o Sol,
Dorme como a Princesa das
amoreiras em flor.
O amor,
Meu amor,
Tardes ínsitas das
esplanadas chuvosas,
Cartas em despedida,
quando um perplexo suicídio, desce a montanha,
Abraça-se ao mar e,
Flutua como uma jangada
de beijos.
As palavras ao canto da
boca,
O cigarro minguo entre os
dedos de fumo,
Ele, acabrunhado, entre
gritos e silêncios, chama por todas as cartas escritas.
Ela, habitante de todas
as florestas invisíveis do sono, aguarda pelo regresso da maré.
Os barcos, meu amor,
Trazem-nos o vento que
alimenta o nosso jardim,
Brincam os pássaros de
papel colorido,
No pavimento, meninos de
ninguém, procuram as planícies dos musseques perdidos,
Uma lágrima, de prata
envenenada, entra no peito dela, como uma lança de desejo;
Todas as flores que
amamos, todas as paisagens onde caminhamos, são glândulas de sono, na
derradeira íngreme eira de Carvalhais.
O avô é sincero, honesto
nas palavras e nos afectos,
Recordo um machimbombo
envelhecido brincando nas ruas de Luanda antiga,
Descia a Mutamba… e,
Hoje é apenas um pedaço
de tecido na minha mão.
Ho meu querido pai!
As saudades dos barcos,
Eu menino, suspenso na
tua mão, olhando o Mussulo;
Queria agora, hoje, aqui,
que a mãe me explicasse o que era a (lhá) e,
Só hoje percebi, tantos
anos depois, que (lhá) era apenas a linda água do mar.
Sabes, meu amor, o pai, a
mãe, são retractos do menino esquecido nos calções.
(Dizem que ela nasceu nas
florestas invisíveis do sono.
Alimenta-se das sombras sobejantes
da insónia e,
Quando acorda o Sol,
Dorme como a Princesa das
amoreiras em flor.
O amor,
Meu amor).
Francisco Luís Fontinha -
Alijó, 05/11/2020