domingo, 6 de setembro de 2020

O livro

 

O sono. Construído sobre o teu corpo

Em cerâmica, veste-se de humildade,

Vive despreocupadamente na penumbra da noite,

Até que todas as luzes da ladeia se cansam,

E, também elas vão dormir na tua mão.

A saudade. Habita em mim o silêncio

Das tuas palavras, imagino-te pegando em mim,

Ao longe, depois de todas as sanzalas acordarem,

Depois de todas as palhotas lavarem o rosto nos teus cabelos.

O mar. onde te deitavas. Dormias como uma andorinha vadia,

Sentavas-te nos rochedos da sombra,

E, brincava com os meus calções recortados dos trapos abandonados.

Os sapatos. Não gosto deles.

Luanda. Ontem, lá, era feliz.

O hoje. Cidade esquecida no Oceano. A garganta vomita palavras

De ninguém, escritas na areia húmida da manhã,

Saltando de barco em barco,

De maré em maré,

Até que chegue o cansaço.

A noite. Agora. Apenas eu e, tu.

Todos os planetas morrem depois de acordarem, chove.

Chovem estrelas de falar.

A palavra. O livro.

Mais nada.

Mais nada, meu amor.

Apenas em mim, a loucura.

E, tanta saudade.

 

 

Francisco Luís Fontinha, 06-09-2020

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