terça-feira, 25 de julho de 2023

Porquê

 Sinto tanto a tua falta

Pai.

Depois de partires

As pedras

As pedras pai

As pedras começaram a cair sobre nós

Defendo-me de um lado

Sou atacado do outro

Não percebo

Pai

Não entendo porquê eu.

 

Foi a mãe

Pai

Foi a mãe uma fotocópia tua

Dor

Dor

Tanta dor

Porquê

Pai.

 

E eu

Pai

E eu procurando qualquer coisa

Talvez Em Busca do Tempo Perdido

E nem Proust consegue me explicar

Porquê

Pai

Porquê.

 

Porquê

Eu.

 

Se sou feliz

Pai

Nunca

Nunca fui feliz

Pai.

Nunca.

 

 

25/07/2023

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Da noite teus olhos

 

Se morressem os teus olhos

Nunca mais haveria noite

Nem dia

Nem lua

Ou luar

Poema

Ou poesia

 

Se morressem os teus olhos

Nunca mais haveria Primavera

Gaivotas no mar

Crianças a brincar

Com um papagaio em papel

Se morressem os teus olhos

Não haveria vento

E o teu cabelo deixava de dançar

E o teu cabelo era apenas um momento

 

Se morressem os teus olhos

O silêncio era a solidão

E a solidão

Um pequeno abraço de silêncio

Se morressem os teus olhos

Não existiriam versos de amar

E versos de odiar

E de ser odiado

Enquanto os teus olhos morriam

E os meus olhos

Se suicidavam no mar

 

 

 

24/07/2023

Poema do desejo

 Às vezes

Às vezes penso em ti

E tantas vezes

Desejava abraçar-te novamente

Às vezes

Às vezes recordo-te quando dançavas sobre uma fina lâmina de alumínio

E ficava a olhar-te

E perdia-me nos teus braços

E perdia-me nos teus olhos

 

Às vezes

Às vezes eu desmaiava

Outras vezes

Em tantas vezes

Sonhava

Vomitava

 

Às vezes

Amava-te

E quando acordava a manhã em mim

Odiava-te

Às vezes

Às vezes esquecia-me de viver

De amar

Se ser

 

Às vezes

Às vezes apetecia-me beijar-te novamente

Pegar em ti

E dançar sobre o vento

Às vezes

Às vezes apetecia-me querer-te

Tanto

Mas depois

Começo a odiar-te

 

Às vezes

Às vezes penso

Penso

Se não seria melhor voltar a abraçar-te

Voltar a olhar os teus olhos

Beijar os teus lábios

E depois

Depois deitar-me junto ao mar

E esperar que o vento escreva em mim

O mais belo poema sobre o desejo.

 

 

 

24/07/2023

Do ausentado

 Neste resto de cidade

Onde as árvores brincam com o luar

E durante o dia

São palavras do mar

São palavras em poesia

 

Deste ausentado

Com quase nada na mão

Deste pobre poeta

E coitado

Em contramão

Que não sente

 

A vida

Pela sombra da tristeza

Desta cidade abandonada

Na dor e na paixão

E na beleza

 

Neste resto de cidade

Onde se perdeu o teu olhar

Não é a minha cidade

E nunca será o meu mar

 

E o tolo

Porque é tolo

Habita neste resto de cidade

Onde as árvores brincam com o luar

E o poeta ausentado

Suicida-se no mar.

 

 

 

24/07/2023

domingo, 23 de julho de 2023

Retracto

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Estás com muito bom aspecto

E até pare que os anos não passaram por ti.

 

Olho o teu retracto.

Escondo no teu retracto, o meu retracto

Um qualquer

Pode ser no Mussulo

Pode ser aqui

Ou ali.

 

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Parece que os anos se esquecem de ti

E se lembram de mim.

 

Olho o teu retracto

E confesso-te

Que começo a odiar o teu retracto

E todos os meus retractos.

 

Olho o teu retracto

E não vejo nada

Nem um sorriso disfarçado

Tão pouco

Os segredos da madrugada.

 

Olho o teu retracto

E vejo o meu rosto abraçado a um baloiço

E enquanto me transmites a força necessária para eu voar…

Eu olho o teu retracto

E no teu retracto

Escuto os silêncios do mar.

 

 

 

23/07/2023

Luís

Caravela

 A tarde morre nos teus olhos

Depois de uma sombra de luz

Roubar o pôr-do-sol

A tarde desaparece

Veste-se de noite

E leva para o mar

Os teus lábios de Caravela Quinhentista.

 

O homem está louco

Está maluco

Que a tarde nunca morre

Tão pouco se esconde

Nos teus olhos.

 

Que sim.

Que não.

Que talvez seja um empate técnico

Ou outra coisa qualquer

De preferência

Nos teus olhos.

 

A tarde morre nos teus olhos

Depois de uma sombra de luz

Roubar o pôr-do-sol

A tarde desaparece

Veste-se de noite

E leva para o mar

Os teus lábios de Caravela Quinhentista.

 

E nunca mais haverá tarde

Nos teus olhos!

 

 

 

23/07/2023

Francisco

Marte



Suicido-me com o primeiro sorriso da manhã

Agarro-me ao vento

Abraço-me ao vento

E peço

E peço ao vento

 

Suicidar-me com o primeiro silêncio da manhã

Nas palavras que escrevo

E que lanço

Sobre o papel

 

Suicido-me com o primeiro abraço da manhã

Quando Deus desliga as estrelas

E lança sobre a Terra a alegria

De quem pensa

Que não pensa

Que a poesia

É vida

E que da vida

Suicido-me com o primeiro desejo da manhã

 

Suicido-me com o primeiro olhar da manhã

E que Marte me escuta

E me vai levar

Para as suas planícies

 

Suicido-me com o primeiro grito da manhã

Que na madrugada cresceu

E na minha mão

Depois de me suicidar com o vento…

Morreu

 

Suicido-me com o primeiro lençol de tristeza

Que no mar habita

Sem saber quando é dia

Sem saber quando é noite

Porque se suicidou ele com um beijo

E apenas sabe

E nunca se esquece

Que o poeta se suicidou…

Com a palavra; Amo-te.

 

 

 

 

23/07/2023

Francisco