(feliz dia de África)
Não sei,
Não sei como será o
Inverno
No Inferno,
Não o sei…
Mas… quem o saberá?
Farto-me de escrever
poemas a Deus…
E Deus está literalmente
a cagar-se para mim,
Não me importo,
Quero lá eu saber de
Deus,
Tal como ele,
Quer lá Deus saber de um tal
de Fontinha…
Não o sei,
Quem o saberá…
Vocês sabem como será o
Inverno no Inferno?
E de um tal de Inferno
disfarçado de Inverno?
Não, não me interessa…
Em criança, até um determinado
período da minha vida…
E que vida,
Meu Deus,
Que rica vida eu tive…
Não sabia o significado
de Inverno.
E era muito feliz!
Muito mesmo…
Tão feliz que…
No meu Inverno,
Trazia os meus calções e
as minhas sandálias de couro…
Que couro, meu Deus,
Que calções…
E quer lá saber Deus dos
calções e das sandálias…
Deus,
Deus passa todo o seu
tempo a escrever poesia…
Entre calções,
Tão feliz que fui…
Muito feliz,
E do meu Inverno,
Que Inverno,
Aquele meu Inferno,
De aprender o significado
de Inverno…
Quando eu…
Tudo esqueci,
As sandálias, os malditos
dos calções, o Mussulo, tudo,
Tudo mesmo.
Durante muitos anos,
Muitos mesmos,
Queria perguntar ao meu
pai porque choravam as acácias da minha infância…
E tudo,
Já não me lembrava de
nada…
Apenas…
Machimbombo…
Que coisa, esta, do
Inverno ser Inferno…
E Deus, o poeta, ser tudo…
Tudo o que não fui,
Tudo o que não quero ser,
Ser o quê…
Mais um, por aí…?
E chorei.
E chorei sem perceber que
chorava…
Que apenas me recordava,
De ter chorado,
Não porque me apetecesse
chorar…
Mas chorava,
Tinha medo de me perder,
E um dia, perdi-me, por
aí…
Um dia, meu Deus…
Um dia…
Chorava porque tinha
frio,
Chorava porque tinha
medo,
Chorava porque me sentia
só…
Qualquer coisa que nasceu
comigo, não me pertencia…
Tinha morrido,
E até hoje,
Hoje… nada,
Até hoje não sei a coisa
que morreu,
E que até hoje,
Não consigo dizer que
coisa é essa…
E se não há coisa,
Não haverá cadáver,
Nem haverá crime…
(peço desculpa pela ausência,
mas assuntos do foro privado chamavam-me)
A minha mãe,
Coitada da minha mãe…
Tal como eu,
Também ela chorou muito…
Muito…
Éramos assim…
Como deslocados,
Ausentes de corpo e alma,
Não,
Nunca acreditei na
existência da alma…
Nunca.
A minha mãe,
Coitada da minha mãe…
Eu chorava,
E eu sabia que a minha
mãe chorava porque eu chorava…
Éramos ausentados,
Deslocados da terra e do
primeiro pigmento de cor…
Abraçava-me a ela,
E ela mentindo-me,
dizia-me… um dia, um dia meu filho…
Um dia tudo vai melhorar…
Um dia,
Um dia cairá chuva na
minha mão,
Um dia,
Um dia…
Não sei,
Não sei como será o
Inverno
No Inferno,
Não o sei…
Mas… quem o saberá?
Farto-me de escrever
poemas a Deus…
E Deus está literalmente
a cagar-se para mim,
Não me importo,
Quero lá eu saber de
Deus,
Tal como ele,
Quer lá Deus saber de um tal
de Fontinha…
Ou do Inverno no Inferno,
Do Inferno a infernar o
Inverno…
Quer lá ele saber…
A não ser…
Que Deus seja accionista
do Inverno e credor do Inferno…
Ó pá,
Deus é comunista…!
Deus não é nem nunca será
capitalista…
Veremos, um dia…
Um dia, um dia veremos.
Francisco
25/05/2023