Se eu pudesse escrever qualquer coisa no meu corpo
Certamente
Quase de certeza
Escreveria… vende-se.
Vendem-se duzentos e
seios ossos
Todos em bom estado
Diga-se
Ossos de um só dono
E em boa conservação
E a bom preço.
Mas actualmente
Ninguém quer comprar
ossos…
Querem lá eles e elas saber
de ossos e afins
E olhem
Menina?
Menino?
Nunca fracturei ou parti qualquer
um dos meus ossos.
Também poderia escrever
no meu corpo
Outras muitas coisas
De que…
Vende-se.
Mas por agora
No mercado do luar
Despacho os ossos
Também… não me servem de
anda
E daqui a uns tempos
parecem mais gonzos à procura de sexo
Ferrugentas navalhas de
barbear
De que ossos
Os meus ossos.
Se eu pudesse escrever
qualquer coisa no meu corpo
Certamente
Quase de certeza
Escreveria… vende-se.
Se eu pudesse escrever
qualquer coisa no meu corpo
Certamente
Quase de certeza
Escreveria… vende-se
(Vendem-se duzentos e
seios ossos
Todos em bom estado)
Poderão ser cozinhados
Fumados…
Ou bebidos
Os ossos têm uma enorme utilidade
E olhem
Menina?
Menino?
Servem para fazer pentes
Pentens que brincam com o
cabelo da lua
Há jóias construídas em
osso
Outras tantas coisas em
osso
Há ossos felizes
Ossos tristes
E os meus;
Os meus ossos
Os meus míseros duzentos
e seis ossos.
Alijó, 29/04/2023
Francisco Luís Fontinha