sábado, 29 de abril de 2023

Mercado do luar

 Se eu pudesse escrever qualquer coisa no meu corpo

Certamente

Quase de certeza

Escreveria… vende-se.

 

Vendem-se duzentos e seios ossos

Todos em bom estado

Diga-se

Ossos de um só dono

E em boa conservação

E a bom preço.

 

Mas actualmente

Ninguém quer comprar ossos…

Querem lá eles e elas saber de ossos e afins

E olhem

Menina?

Menino?

Nunca fracturei ou parti qualquer um dos meus ossos.

 

Também poderia escrever no meu corpo

Outras muitas coisas

De que…

Vende-se.

 

Mas por agora

No mercado do luar

Despacho os ossos

Também… não me servem de anda

E daqui a uns tempos parecem mais gonzos à procura de sexo

Ferrugentas navalhas de barbear

De que ossos

Os meus ossos.

 

Se eu pudesse escrever qualquer coisa no meu corpo

Certamente

Quase de certeza

Escreveria… vende-se.

 

Se eu pudesse escrever qualquer coisa no meu corpo

Certamente

Quase de certeza

Escreveria… vende-se

(Vendem-se duzentos e seios ossos

Todos em bom estado)

Poderão ser cozinhados

Fumados…

Ou bebidos

Os ossos têm uma enorme utilidade

E olhem

Menina?

Menino?

Servem para fazer pentes

Pentens que brincam com o cabelo da lua

Há jóias construídas em osso

Outras tantas coisas em osso

Há ossos felizes

Ossos tristes

E os meus;

Os meus ossos

Os meus míseros duzentos e seis ossos.

 

 

 

Alijó, 29/04/2023

Francisco Luís Fontinha

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