Encurralado entre
vírgulas e parêntesis
Este corpo encostado à
marginal
Sou espiado por um barco
Que pincela os olhos de
encarnado
E nas unhas
O invisível verniz da
paixão
O vento me leva
O vento nunca mais me vai
trazer
E no entanto
Bebo
Fumo
Escrevo
O que importa se vou e
não regresso?
Se tantos barcos da minha
vida
Partiram
Fundearam
E hoje
São sucata no fundo do
mar
Depois
Gosto da noite
Amo os meus poetas
Ouvi-los
Lê-los
E às vezes
Converso com eles
Adoro conversar com o AL
BERTO
Com Cesariny
Cruzeiro Seixas
Alexandre O'neill
Sentar-me lado a lado com
o Pacheco…
Depois ele pede-me vinte
paus
Mas como ando sempre teso
Ficamos apenas pela
conversa
E quando dou conta
A noite já não é noite
A noite acordou
Eu não dormi
A noite deixou de me
pertencer
Mas como eu amo a noite
Fico como se tive morrido
E se me perguntarem
(morreu de quê?)
Alguém dirá
Morreu
O vento me leva
O vento nunca mais me vai
trazer
E eu acordo
E eu adormeço
E eu caio
E eu me levanto
E o vento me leva
E o vento nunca mais me
vai trazer
Escrevo-lhes
Oiço-os
E habito neste pequeno
silêncio de asas.
Alijó, 02/12/202
Francisco Luís Fontinha