sábado, 26 de novembro de 2022

O louco menino

 Este inferno

Do frio silêncio

Do louco menino

O Inverno

Do inferno

A noite é a morte

Na morte da noite

Quando as palavras

Morrem

E as estrelas

Levam-me para os teus braços

E adormeço

 

Este inferno

De caminhar nesta estrada

Neste túnel

Sem saída

 

E o pão

Traz a mim a fome

Quando este inferno

Do Inverno

Rouba-me o coração

E rouba-me a morte

 

Não valho nada

 

E este inferno

Do frio silêncio

Do louco menino

Corre-me nas veias

Quando procuro nos teus olhos

Envelhecer

Sem morrer

Enquanto dorme a Primavera.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Cerejas do teu olhar

 Esta noite,

Caem as cerejas do teu olhar,

Esta noite,

As sílabas dos teus lábios,

Que envenenam os beijos,

Caem, como as cerejas do teu olhar.

 

E esta noite,

À sombra da solidão,

Vou procurar no mar,

As cerejas do teu olhar.

 

Esta noite,

Crescem na minha mão,

As flores do teu olhar,

Que tal como as cerejas do teu olhar,

caem nas palavras do teu olhar.

 

Esta noite,

Do teu olhar,

Nascem as palavras do meu olhar,

Que sendo as tuas palavras,

As palavras do teu olhar,

Caem, como caem as cerejas do teu olhar.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Sílabas flores

 Sento-me nesta cadeira

E oiço o som desta fina lâmina de aço

Que trago no coração.

A insónia atravessa o quarto

Enquanto as palavras se afogam na minha mão,

Ouvíamos dos rochedos desta praia

Os tristes fios de nylon do suicídio,

E percebemos que esta fogueira onde habitamos,

Um dia, dormirá nos teus olhos.

Esta cidade entre quatro paredes

Esconde-se no frio limbo da solidão…

Até que um pedaço de silêncio morrerá em ti.

 

A tua mão semeia em mim

As sílabas flores das abelhas,

O corpo recebe da alvorada,

Os cortinados que taparam o teu rosto

Poisam nesta janela de tristeza.

 

No rosto

Transporto o desejo granítico que me levará

Para aquele barco fundeado nos teus seios,

 

E se eu quisesse pertencer à tua sombra,

Como pertencem as árvores que desenho nesta paisagem…

Eu seria apenas um pedacinho de cinza; enquanto o meu cigarro morre.

 

Todos os meus retractos morreram.

 

E neste barco fundeado,

Onde desenho o teu rosto de menina,

Um suspiro se ergue em mim,

Estendo as mãos…

E dos teus lábios recebo a noite à beira deste mar incendiado.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Os barcos da minha infância

 Procuro na tua boca

O simples abraço nocturno dos pássaros embriagados

Procuro nos teus lábios

Os barcos da minha infância

Que repentinamente deixei de olhar.

 

Tragam-me aquele mar de incenso

Tragam-me as lágrimas dos poemas

Que deixo no teu diário

E quando tiver o simples abraço nocturno dos pássaros embriagados

Posso partir em paz; entre o silêncio e a madrugada onde poisas a cabeça.

 

Procuro nas tuas mãos de sono

As tristes palavras que habitam no meu peito

E este feitiço de sémen

Permanecerá enquanto houver manhã

Como as flores dos teus olhos.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

(Francisco)

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

As frestas do teu olhar

 As frestas do teu olhar deixavam entrar as finíssimas lâminas de luz que em viagem regressavam dos rochedos em flor,

Inventa-me, enquanto acredito nas feras amansadas das tristes noites de Primavera.

Deste veleiro em busca do vento, oiço as canções das tuas lágrimas, com que te escondes enquanto as flores do meu jardim, entre os parêntesis da manhã, correm para o mar.

E o mar ergue-se na alvorada, ele é pássaro, ele é nuvem, ele é a luz…

O corpo flutua nas tardes junto ao cais, a caneta que dá vida às palavras, separa-se do corpo, troce-se sobre a mesa, e esta cidade sufoca-me,

O cigarro morre,

Entre olhares, a rádio em ecos desvairados, os animais em círculos, caminham para o areal em sinfónica maldade da noite, quando a paixão mergulha nas mãos de um mendigo; as flores, meu amor, as flores que transportas nos teus olhos cinzentos e de mil e uma palavras, o barco morre, e termina o luar nas tuas mãos.

Este mar de insónia, morre-me,

E acredito que as palavras que deixo no teu diário, também vão morrer, de tédio.

Cruzas os braços, e também eu, de tédio, morrerei numa tarde de sono. Agora, vêm a mim a tua mão, pegas no meu olhar, e em pequenas fatias de paixão, voamos em direcção ao Sol.

Sou o sono, oiço-te.

E estamos vivos porque as cancelas da noite nos prendem ao calendário diurno das tardes em poesia, beijo-te e invisivelmente, sou a fera metálica das lareiras em chama, e ardem nos teus braços as flores cintilantes do olhar.

A tua voz, morre-me,

E morrem-te as minhas palavras em ti, como morrem todos os poemas que escrevo.

Voamos em direcção ao Sol, como voaram todas as abelhas das colmeias que habitavam junto ao rio. Depois, os sonhos mergulharam nos degraus que nos levavam até ao sótão.

E este barco dorme docemente nos teus seios, quando a minha boca inventa em ti as sonâmbulas lágrimas dos socalcos floridos; um barco, um barco de silêncio nas tuas coxas, meu amor.

E cai sobre ti a alvorada e as frestas do teu olhar.

 

 

 

 

Alijó, 25/11/2022

(Francisco)

(ficção)

As palavras de amar

 Nas finas corda de sangue

Peço à tua boca o prazer desejado

Das palavras que te escrevo

E a semente que deixo no teu peito

Mais tarde

Um poema nasce e sobe até à lua

 

E da lua

E de todas as estrelas

Oiço a voz dos silenciados foguetões das madrugadas invisíveis

 

Um grito

Os pequenos suspiros dos ossos envergonhados

A tua boca na minha boca

Quando as gaivotas junto ao mar

Dizem-me que são apenas palavras

 

As palavras de amar.

 

 

 

 

 

Alijó, 25/11/2022

(Francisco)

Os pequenos lençóis do sono

 Este homem que vos escreve

Com um braço de sono no coração

E daquele livro em construção

As muralhas da cidade

Em círculos de insónia.

 

A fogueira esconde-se na algibeira dos sonhos

Junto à janela

Amo-te enquanto os teus pedacinhos de mel

Dormem sobre o meu peito

Onde juntamente com os teus pedacinhos de mel

Uma espada rouba-me a tua voz.

 

Não durmo enquanto a lua não acordar

Não durmo enquanto dos cortinados dos meus sonhos

Os pássaros da madrugada subirem a montanha

E procurarem-me em vão

Como se eu fosse uma sombra de pedra

Sem perceber porque morrem as abelhas.

 

O meu corpo parece um pequeno silêncio de espuma

Na secreta lápide onde escondo as nuvens

E nesta mão

Este homem que vos escreve

Dorme nos lábios da cidade.

(dos pequenos lençóis do sono)

 

 

 

 

 

Alijó, 25/11/2022

(Francisco)