Ausento-me.
Enquanto o sono se
despede de mim,
Enquanto esta fogueira me
consome,
Enquanto o dia se
derrete,
Enquanto a lua se deita,
Enquanto o medo me absorve.
Ausento-me.
Enquanto o silêncio habita
neste corpo,
Enquanto estes ossos não
se transformam em pó,
Ausento-me.
Enquanto o mar não entra
pela janela,
Enquanto a morte não me
vem buscar.
Ausento-me.
Enquanto ainda tenho
beijos,
Enquanto ainda existem
abraços,
Enquanto este relógio não
pára de caminhar…
Ausento-te.
Enquanto este poema não
morre.
Ausento-me.
Enquanto esta cidade não
dorme,
Enquanto este rio não
deixa de correr para o mar.
Ausento-me.
Ausento-me,
Enquanto escrevo e a tua
mão não deixar de me tocar.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 19/02/2022