O sono. Construído sobre
o teu corpo
Em cerâmica, veste-se de
humildade,
Vive despreocupadamente
na penumbra da noite,
Até que todas as luzes da
ladeia se cansam,
E, também elas vão dormir
na tua mão.
A saudade. Habita em mim
o silêncio
Das tuas palavras,
imagino-te pegando em mim,
Ao longe, depois de todas
as sanzalas acordarem,
Depois de todas as
palhotas lavarem o rosto nos teus cabelos.
O mar. onde te deitavas. Dormias
como uma andorinha vadia,
Sentavas-te nos rochedos
da sombra,
E, brincava com os meus
calções recortados dos trapos abandonados.
Os sapatos. Não gosto
deles.
Luanda. Ontem, lá, era feliz.
O hoje. Cidade esquecida
no Oceano. A garganta vomita palavras
De ninguém, escritas na
areia húmida da manhã,
Saltando de barco em
barco,
De maré em maré,
Até que chegue o cansaço.
A noite. Agora. Apenas eu
e, tu.
Todos os planetas morrem
depois de acordarem, chove.
Chovem estrelas de falar.
A palavra. O livro.
Mais nada.
Mais nada, meu amor.
Apenas em mim, a loucura.
E, tanta saudade.
Francisco Luís Fontinha,
06-09-2020