O
burro morreu. Paciência, dizem uns, coitado, dirão outros, mas eu é que o perdi
e é a mim que faz falta.
Em
homenagem ao meu burro falecido…
Tinhas
a alegria da paixão.
Todas
as madrugadas, ouvia os teus sons melódicos da fome matutina,
Sentia-te
nos teus aposentos, rosnavas como um cão e uivavas como um lobo, com só tu o
sabias fazer,
Lias
os livros perdidos comigo,
Escrevíamos
lado a lado na secretária de madeira,
Com
cheiro a poeiras e outros cheiros…
O
Ópio abafava-nos, levava-nos aos confins do Universo, comíamos cenouras,
bebíamos uísque de Sacavém…
E
tinhas sempre um sorriso na algibeira.
Todas
as flores eram nossas,
E,
o quintal perdido na imensidão do desejo…, contiguas aos pássaros das árvores
de brincar,
Sempre
no desejo, de um dia, seres eterno como eu.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19 de Maio de 2018