domingo, 21 de fevereiro de 2016

Amanhã, amanhã meu amor, amanhã vamos ao beliche dos sonhos ressuscitar a alegria, amanhã estarei no teu esconderijo, só, eu, para eu adormecer, fazer amor com o teu silêncio, amar-te como o olhar das serpentes, nunca e nunca te dizer

O objecto luminoso que acerca o meu corpo, são sete horas e ainda não acordei, imaginei-me nocturnamente um cubo de vidro com faces pinceladas pelo desejo do orgasmo invisível que a madrugada nos oferece
Amanhã, meu amor?
Nos oferece a cada tímido minuto de solidão, nos oferece a cada minuto de desespero, amanhã, meu amor, amanhã
Do amor?
Amanhã, os contíguos cortinados do medo embrulhados na atmosfera gasosa do abismo, o objecto, luminoso
Do amor, as canibais palavras que me bombardeiam diariamente, o amor, o amor envergonhado pela minha miséria e pobreza,
Não faz mal… sou feliz assim, diz ele todas as tardes junto à taberna, lá dentro meia dúzia de cadáveres embalsamados pelo álcool, os ossos rangendo como serpentes no acordar do amanhecer, desisto,
Luminoso, desisto do teu corpo, alimento-me de pequenas drageias e alguns uivos teus, nos oferece, e engana, o som da morte, rodopiando as tenazes aventuras como acontecia em Lisboa, íamos ao Tejo, vomitávamos as palavras do Sol que iluminava a parada, o amor, o corpo do amor, nos meus braços,
Do amor, a vergonha da miséria, a miséria alheia, a minha, a que aqueles que me odeiam preferem proferir a todos o acordar, deixam-me louco, sem palavras, amargo, invisível, snobe e encabeçado nas alegres manhãs de Primavera, amanhã, meu amor, amanhã
Do amanhecer, da preguiça de me levantar, tomar banho e lavar os dentes, o frio, a geada, a tua ausência, todas elas argumentos para eu
Amanhã, amanhã meu amor, amanhã vamos ao beliche dos sonhos ressuscitar a alegria, amanhã estarei no teu esconderijo, só, eu, para eu adormecer, fazer amor com o teu silêncio, amar-te como o olhar das serpentes, nunca e nunca te dizer
Amo-te!
O objecto luminoso que acerca o meu corpo…
 
Francisco Luís Fontinha
domingo, 21 de Fevereiro de 2016

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A cidade dos livros


O silêncio dos livros adormecidos

Que se alicerçam ao meu cadáver

O perfume das palavras que envolvem o meu cadáver…

A viagem sem destino percorrida pelo meu cadáver

O silêncio dos livros…

Sabendo-os mortos

Esquecidos nas prateleiras da luz

Regressa a manhã

Traz no olhar a simplicidade do abismo

Das crateras da solidão

E das loucas avenidas

Que habitam a cidade dos livros

Não me ouves, meu amor,

Adormeceste no passado longínquo

Como adormecem as montanhas de insónia

No meu leito desfigurado

Complexo

Amargo

Como o marfim do amanhecer

Perdes-te no labirinto da morte

Querendo levar-me contigo

Sou um pedaço de sono

Mergulhado nos teus braços

Sem saber que lá fora

Não há cidade dos livros

Sem saber que lá fora

Todas as nossas fotografias são tons de paixão

Pincelados de marés de inferno

E barcos de aço encalhados no cais da despedida

Abraço-te, meu amor,

Pego na tua mão

E finjo ser um casebre em ruínas

Com poucas janelas

E porta alguma…

O silêncio, meu amor,

Dos livros

Todos mortos

Como eu, meu amor,

Habitante da cidade dos livros

Transeunte camuflado pelos alicerces do desejo

Habito-te

E permaneço em silêncio…

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 20 de Fevereiro de 2016

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Cidade fantasma


Ao incenso amor

A paz e o descanso eterno,

Os beijos prometidos pela paixão

Encarnados no inferno,

O teu olhar

Recheado de lágrimas,

Ao incenso amor

O fraterno amanhecer

Quando a esperança cessa de viver,

E ao longe

O mar galga as tuas coxas madrugadas,

Entre ruelas e calçadas

Perdidas nesta triste cidade fantasma…

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2016

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Viagem ao infinito


Despeço-me de ti, meu amor,

Não me apetece levar nada, mas terei de levar alguma coisa…

Despeço-me de ti como se fosse para uma viagem infinita,

Sem regresso,

Levarei na bagagem lágrimas

E um pedacinho do Tejo…

Os apitos dos Cacilheiros

E as gaivotas que transportas no teu olhar,

Despeço-me de ti, meu amor, sem chorar,

Como se eu não pertencesse ao teu corpo

Nem tu à minha vida,

Apenas levarei a noite para me acompanhar

E sorrir na despedida!

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2016

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O poço da insónia


Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,

Sabíamos que tínhamos uma viagem para alimentarmos a alma,

E nenhum de nós se aventurou,

Olhávamos os sorrisos da morte…

E os pregos do inferno,

Estávamos acorrentados ao desejo

Como duas loucas gaivotas poisadas no mastro de um barco,

Flutuávamos no infinito da solidão

Sem percebermos que do outro lado do rio

Um cais nos esperava,

Cordas,

Âncoras de amanhecer com odor a nostalgia,

O silêncio das garças embainhado nos nossos corpos suados

Como bandeiras por hastear…

Baloiçando o amanhecer,

Comendo pedacinhos de sol e algumas flores adormecidas pelo frio,

Tínhamos na algibeira o rochedo dos sonhos

Que todas as manhãs nos acordava,

Tínhamos nas mãos as pétalas em papel dos lábios de uma cegonha,

Envergonhada às vezes,

Atrevida, outras,

Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,

E assim ficávamos até voarmos em direcção à montanha…

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Lágrimas envergonhadas


As lágrimas envergonhadas

Do silêncio anoitecer

O cansaço da vida

Viver

Sem viver

Sentado nesta triste esplanada

Sem fotografia para o mar

Sem fotografia para o escurecer

Do silêncio anoitecer

O cansaço da vida

Viver…

Sem ser visto

Junto ao pôr-do-sol…

E escrever

Escrever no teu olhar

O poema do morrer

Aos poucos

Devagarinho

Como um passarinho ao acordar

Saltita na árvore dos sonhos

Brinca na eira dos desejos…

E as lágrimas envergonhadas

Prisioneiras nos invisíveis beijos.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2016