Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,
Sabíamos que tínhamos uma viagem para alimentarmos a alma,
E nenhum de nós se aventurou,
Olhávamos os sorrisos da morte…
E
os pregos do inferno,
Estávamos
acorrentados ao desejo
Como
duas loucas gaivotas poisadas no mastro de um barco,
Flutuávamos
no infinito da solidão
Sem
percebermos que do outro lado do rio
Um
cais nos esperava,
Cordas,
Âncoras
de amanhecer com odor a nostalgia,
O
silêncio das garças embainhado nos nossos corpos suados
Como
bandeiras por hastear…
Baloiçando
o amanhecer,
Comendo
pedacinhos de sol e algumas flores adormecidas pelo frio,
Tínhamos
na algibeira o rochedo dos sonhos
Que
todas as manhãs nos acordava,
Tínhamos
nas mãos as pétalas em papel dos lábios de uma cegonha,
Envergonhada
às vezes,
Atrevida,
outras,
Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,
E assim ficávamos até voarmos em direcção à montanha…
Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016