quinta-feira, 19 de novembro de 2015
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
O choro da laranja
Meu
amor, hoje pertenço-te, absorves-me, alimentas-te das minhas palavras
esquecidas num qualquer engate, é tarde, meu amor, a noite rebenta no meu
peito, sinto o peso das estrelas nas minhas pálpebras inacabadas, o pintor
adormeceu sobre o seu próprio corpo, é inerte, invisível na paleta das cores
diluídas na alma, a morte, meu querido, o fantasma clandestino do abismo
descendo a Calçada, e ao fundo
-
O rio reflectido nos teus lábios, meu amor, a vaidade da folha de papel
esquecida sobre a pobre secretária de pinho, o caruncho, a ferrugem das
ardósias iluminando a noite,
E
ao fundo, os barcos adolescentes brincando na sonolência da inocência,
-
Tenho medo, meu amor, alicerças-te ao meu cansaço, o Francisco partiu hoje para
o desconhecido, sabes, meu amor, gostava dele, amava-o… e amo-o, e tenho medo,
meu amor, dos pássaros que voam, das flores que choram, das abelhas que
incendeiam a manhã dos silêncios de Oiro, sabes, meu amor, tenho medo
-
De ti, de mim, de estar vivo inventando a vida em quadriculados poemas, mais
nada, meu amor, mais nada, apenas o medo, a alegria de amar-te, sem saber que o
amor habita neste caixão de enxofre,
Oxalá
-
As portas, os tristes alicates da escuridão vestidos de mendicidade, a tua boca
na minha, o beijo, a orgia matinal da poesia, gemes
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
E
nada quer de mim o que tu desejas…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira,
18 de Novembro de 2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Indefesa árvore que me protege
Tudo
ou nada
Nada
de tudo
Tudo
de mim
Desde
a árvore indefesa que me protege
E
habita o meu jardim
Até
ao rochedo invisível que caminha comigo
Quando
cresce a noite
E
adormece o dia nos teus olhos
Tudo
ou nada
E
nada tenho
De
mim
Nada
de tudo
Assim,
como as flores que choram junto à minha lápide
E
nunca perceberam o significado da palavra “chorar”
Tudo
Avassalador
Triste
Tudo
consumido na fogueira da paixão
De
nada ter
E
de tudo perder
Tudo
ou nada
Nada
de tudo
Assim
De
mim
Sem
o saber.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
terça-feira,
17 de Novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
os cabelos da alvorada
esconde-se
o corpo no tapete nocturno da solidão
as
cânforas manhãs do desassossego libertam-se das amarras
a
liberdade acorda
todas
as flores são livres
e
todos os pássaros voam sobre os cabelos da alvorada
o
olhar da serpente brinca num longínquo quintal abandonado
onde
uma criança
também
ela livre…
sonha
com barcos em papel e estrelas coloridas
o
corpo nunca teve medo
a
não ser da solidão
que
é a única prisão que amedronta o homem sem corpo…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira,
16 de Novembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
luminosidade abstracta da noite
a
tempestade de silêncios que adormece no meu peito
enquanto
tu, meu amor, gritas o meu nome entre os rochedos do inferno
a
sombra dos teus lábios
o
cansaço das tuas mãos
me
adormecem
e
me fazem fugir para a montanha imaginária
a
fuga
a
tempestade de silêncios que há em ti
e
só agora percebi
a
luminosidade do teu olhar
quando
não cresce a noite
na
minha solidão
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
domingo,
15 de Novembro de 2015
sábado, 14 de novembro de 2015
musseque da esperança
este
rio de sangue
em
direcção ao musseque da esperança
o
cacimbo envergonhado na solidão
o
triste amanhecer esperando nas mãos da manhã
um
novo dia a acordar
novas
palavras prontas para a vida
um
livro sobre a secretária no silêncio a arder
nos
teus lábios
junto
ao mar
um
barco amarrado aos teus braços
neste
rio de sangue…
…
impossível de zarpar
Sonhar
E
crescer
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
sábado,
14 de Novembro de 2015
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
o sofrer no corpo do sofrido
o
viver do sofrer
no
corpo do sofrido
a
partida de um amigo
querido
sem
fronteiras as imagens do silêncio
querendo
fugir da multidão
quando
ele
só
sente-se
acorrentado ao luar
e
tem não mão
uma
rosa em papel
e
tem nos lábios
um
beijo de amanhecer
o
viver
do
sofrer
no
corpo clandestino do sofrido…
o
querer
não
o poder
viver
sem
ter
de
mendigar o corpo do amigo
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira,
13 de Novembro de 2015
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