segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Loucos pássaros


Fontinha – Outubro/2015
 
Ouvi-los… nunca,
Estes loucos pássaros envergonhados e tristes,
Estes homens sem fronteira
Galgando a sombra de outros homens,
Na fome, na miséria beleza
Quando o mar se aproxima, e mata, e eles fingem morrer,
Junto à ribeira,
Com o medo de tudo perder,
Eles, os pássaros, eles, os homens sem fronteira,
Agachados nos riachos envenenados pelo dinheiro,
Rastejando no capim outrora fértil de palavras…
E hoje, e hoje Oceanos de lágrimas laminadas.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Outubro de 2015
 


domingo, 11 de outubro de 2015


Fontinha - Outubro/2015

Revolta


(Liberdade para todos os Presos Políticos em Angola)

 

Não acredito no amor,

Porque “o amor é um gajo estranho” (Pop Dell`` Arte),

O amor é um cadáver deitado no vazio,

É um esqueleto de estanho,

Em cio,

No princípio da madrugada,

Com fastio,

Drogada,

Não acredito no amor,

Não acredito na alvorada,

Me mente,

E me ama…

Como uma enxada,

Desenhando nos Socalcos do Douro a paixão de quem manda,

O fuzilamento de mim

Abraçado ao teu cabelo,

Sentado,

Cansado…

Cansado deste jardim,

Me escondo de ti,

E tenho saudades tuas…

Escrevo, rasco o que escrevo…

E nem devia,

E não devo…

Escrever o que sentia,

Esquecer o que me rodeia…

Nesta aldeia,

Neste cubículo de quem semeia…

O amor que não acredito,

Paro,

Escuto e grito,

“Liberdade para os presos Políticos de Angola”,

Foda-se,

A prisão

E as ditaduras,

O medo,

O medo e todas as esculturas,

Os ditadores,

Os impostores…

Agachados nos meus berços.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 11 de Outubro de 2015

sábado, 10 de outubro de 2015


Fontinha/Outubro-2015

Os desenhos do amor


Os vampiros da noite

Ente os aplausos e o derradeiro Adeus,

Do silêncio teu corpo

A alvorada impressa na sombra do teu olhar,

Do silêncio teus lábios

A madrugada a mendigar…

Nos vampiros,

Da noite,

A gaivota apaixonada voando sobre os desenhos do amor,

As palavras embriagadas

Dormindo nas esplanadas sem dono

Perdidas na cidade,

 

E eu aqui,

Sentado,

À tua espera…

 

Os vampiros da noite

Descendo as escadas da paixão,

Descendo até à profundidade da solidão,

Trazes-me um livro,

Pegas na minha mão,

Não falas,

Não sorris porque a escuridão engole-te…

E mais uma vez desapareces,

Transformas-te em poeira…

Cinza,

Sanzala inabitada,

Sem meninos… sem nada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 10 de Outubro de 2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Querer-te

Querer-te não te quero
Querendo, assim, querer-te sem saber se te quero,
Querer… dormir nos teus braços,
Não querendo,
Querer…
Sonhar nas tuas mãos,
Querer-te não te quero
Querendo
Querer-te,
Assim… triste como a noite,
Desejando querer-te
Querer… beijar os teus lábios querendo,
 
Sem tempo,
Sem crença…
De querer-te,
 
Querer-te não te quero
Querendo, fingir que te amo não te amando,
Querendo,
Não o quero…
Querer-te
Querer-te brincando,
 
Neste submerso cansaço da paixão,
O querer e não o querer,
O amar e não o ser amado,
Querendo,
Querer…
Querer-te amando,
Amar,
Sem saber que o amor é querendo,
 
Sem saber que o amor é querer-te,
Hoje,
Ontem não, ontem não querendo,
Querer-te beijando,
O querer,
O não o querer,
Sem sono,
Sem o saber,
Que querer…
É querer sem o saber,
E o quero-te…
É uma carta por ler.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 9 de Outubro de 2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

As lágrimas da solidão


Invento as lágrimas da solidão

Sobre o papel amarrotado da paixão,

O significado da morte esvaece-se no corpo de um sonâmbulo,

O mar que desenhei no teu olhar…

Não existe mais,

Nem o mar,

Não existe mais,

Nem o teu olhar,

 

Invento as lágrimas da solidão

Antes do regresso da noite vestida de canção,

Perdeu-se nas palavras adversas, perdeu-se nas planícies submersas…

Dos jardins suspensos da madrugada,

 

Visivelmente cansado…

 

Inventar objectos estranhos como as lágrimas da solidão

Em combustão,

Sobre o papel amarrotado da paixão,

Visivelmente cansado,

Sem destino,

Sem uma mão,

Caneta…

Para escrever no coração da tristeza…

 

Este menino,

Visivelmente cansado,

Sem destino…

Dorme docemente na sombra do abismo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 8 de Outubro de 2015