sábado, 3 de janeiro de 2015

Jangada de Insónia


(Desenho de Francisco Luís Fontinha)


Oiço Oumara Moctar Bambino,
o sémen invisível do sono alicerça-se aos lençóis de porcelana,
habito um terceiro andar reumático,
romântico,
loucamente apaixonado,
brinco com os círculos do desejo,
tenho um sonho,
acordo e sinto-me um palhaço de vidro,
sem beijos,
sem... sem abrigo
Oiço Oumara Moctar Bambino,
e uma jangada de insónia poisa no meu ventre...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 3 de Janeiro de 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

As sombras do poema...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)



Sílabas desencantadas com as minhas tristes palavras,
vírgulas... suicidadas
na árvore azul da parede de gesso,
do outro lado... o espelho do teu olhar,
... o meu rosto parece um verme faminto,
... o meu corpo sobrevoa as sombras do poema...
sem título,
sem dedicatória...
sou uma nódoa envelhecida,
que desce as profundezas do desejo,
sou um esqueleto sem estória...
um pedaço de papel em brasa,
sílabas,
desencantadas,
tristes palavras,
que o tempo alimenta e o luar desenha (no espelho do teu olhar)
as canções emagrecidas,
as cordas voláteis dos homens sem cidade para vomitar...
sem título,
sem dedicatória... nem arma para disparar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2015

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

fugitivo


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


deixei de sentir a tua fotografia nos meus lábios
vi uma lágrima de vácuo galgando o teu rosto
em direcção ao mar
pertencíamos aos peixes sem asas
brincando sobre a árvore das palavras
havia uma tempestade de aço
sobre as tuas pálpebras amordaçadas
e não sabíamos que o amor era um fugitivo
um cadastrado destino
um homem suspenso na gravata dos cintilantes amanheceres
um cadastrado destino
acorrentado à tua fotografia
sem tu o saberes
perdemos os abraços
os beijos
e as caricias defeituosas da madrugada
perdemos o orgasmo literário de uma janela em Belém
sem tu o saberes
a noite construída de infinitos gemidos
e nem tempo tivemos para desamarrar o luar que nos cercava...
o fugitivo amor
um cadastrado destino
a noite construída de mimos
e armadilhas
e simples ruínas
como o vómito da cidade depois de acordar...
sem tu o saberes
o exilado casaco de couro balançando na ponte da angústia
o cheiro sulfuroso das avenidas em flor...
e da tua fotografia que vivia alicerçada aos meus lábios...
nada
desapareceu na neblina
talvez cansada
talvez... talvez
talvez ensanguentada nas mãos em ciúme.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

Poemas vencidos

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Os poemas vencidos
as palavras despedidas pelo patronato
quando a cidade ainda não acordou
os livros carcomidos pelos velhos planetas do teu olhar
o luar em constante destruição depois do adeus
os poemas vencidos
gritando na esplanada desventrada
a cidade é nossa... a cidade é... n o s s a...
e a cidade é apenas um espelho com asas de papel
e lábios de paixão
os poemas não vêem...
nem caminham junto à praia da insónia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Cinzento grito das larvas em silêncio


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Do grito cinzento do silêncio
às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra
ama-se um poema
odeia-se uma flor acabada de nascer
fuma-se o último cigarro
inventam-se esconderijos no corpo de uma mulher...
o relógio não cessa de chorar
o barco que transporta a solidão...
ancorado ao meu corpo desprovido de agasalho
do grito cinzento do silêncio
às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra
uma cova... funda... me espera!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Falsas partidas... (a merda do amor)


Falsas partidas
estas noites enfeitadas de neblina
o composto químico do amor
em construção
o homem desespera pelo regresso das palavras
o falso coração no habitáculo do desejo
esperando que uma das janelas do luar...
se parta
se extinga nas labaredas da tua pele
falsas
partidas
em... em construção.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

Sombras de mármore e ossos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há um beijo inventado
que habita nos meus lábios
há um corpo adormecido
em mim abraçado
há um poema no teu olhar
que transporta o cheiro do mar...
há uma ponte nos teus cabelos
quase a desmaiar,

o desenho no espelho embriagado,

há um livro nos teus seios
que não me canso de ler
e folhear...
há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...
um desejo invisível
um desejo embrulhado em capim
e pedaços de cacimbo
há um beijo inventado
… nos meus lábios
em silêncio
a escrita cuneiforme
entre sombras de mármore e ossos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014