segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sinfonia da paixão


Sou um ignóbil cemitério de cinzas
recheado de falsos amanheceres
e de tristes madrugadas,
sou um pirata
que tem medo da noite,
sou... um pirata
de lata,
que chora e branca
nas sanzalas da infância,
sou uma sombra com odor a insónia
que não se cansa de lutar,
sou um ignóbil cemitério de cinzas,

prateadas
amadas
e cansadas...

arde a cidade do meu corpo
como plumas de sílabas enraivecidas,
tenho um livro na algibeira
sem palavras...
sem... sem brigas, sem... sem vírgulas,
sou um covarde vestido de luar
sou um desalmado com medo...
com medo de amar,

sou um ignóbil cemitério de cinzas
recheado de falsos amanheceres
e de tristes madrugadas,

sou a bailarina do desejo
em busca do sexo barato,
sou rua,
sou... sou lagarto,
sou... sou prostituta,
sou a âncora dos teus abraços
quando emerge em ti a sinfonia da paixão,
e todo o amor morre em tesão...

simplificado
os meus lábios inseminados pelos teus seios,
esta cidade que saltita no meu amor...
e me acolhe nos seus rochedos.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

domingo, 7 de dezembro de 2014

Gaivotas & Revoltas


Oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
sinto o círculo das tuas coxas alicerçado ao centro geométrico do meu corpo,
somos apenas um ponto perdido no espaço...
traçamos parábolas na cintilante areia do Mussulo,
e há na tua pele de neblina adormecida... flores,
gaivotas,
revoltas,
palavras gritadas em vão...
e gemidos rochedos ao pôr-do-sol,
não habito em ti... mas há barcos nas nossas veias,
cansados de amar...
marinheiros sem pátria,
toda a gente nos apedreja com silêncios
e medos desgovernados,
somos um ponto em movimento,
temos coordenadas,
e... massa,
a luz que nos ilumina esconde-se entre a chuva miudinha do fim de tarde,
e toda a gente,
em delírio...
chicoteando as nossas sombras,
em pedaços de fotografias embriagadas pelo suicídio...
oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
nesta cidade em ruínas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Dezembro de 2014

Palavras sem paixão


Todos nós
somos anfíbios poetas,
algas de acariciar...
todos nós somos estrelas em solidão
nuvens por catalogar...
palavras sem paixão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Dezembro de 2014

sábado, 6 de dezembro de 2014

O menino da preia-mar


Há feridas invisíveis no teu sorriso
que nem o espelho da saudade consegue desenhar,
pareces uma fotografia embalsamada,
sem alma...
esquecida num qualquer lugar,
há feridas invisíveis...
e crateras de espuma
que só as tuas pálpebras alicerçam às meticulosas palavras sem destino,

em ti o menino vestido de preia-mar
que corre e correr... e corre sem se cansar,
em ti e de ti...
as feridas entristecidas dos biombos nocturnos da vaidade,

esta cidade,
o teu corpo vagueando no sexo da paixão
como um cadáver enraivecido... fundeado no rio sombreado pelo incenso...
uma carta sem destino que te bate à porta,
um carro preguiçoso em tristes aventuras,
há feridas invisíveis no teu sorriso
que os cigarros da despedida alimentam,
mas... mas no teu olhar cessaram as lágrimas de chocolate,

em ti
e de ti...

a mentira do silêncio embrulhada na portaria
de pequeníssimos fios de luz,
o teu livro preferido que arde... enquanto se extingue o dia,
dentro dos teus seios,

em ti
e de ti...

o cansaço abstracto das montanhas de papel,
os rochedos envenenados pela noite dos marinheiros
e que tu não entendes os seus medos
e inquietações,
não me ouves... porque a minha voz pertence ao cacimbo
e do cacimbo emerge como uma lâmina de sangue,
em veias de nylon
ao deitar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

Migalhas


As migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
os tentáculos da tua dor
mergulhados na calçada do Adeus
há uma rosa
há uma flor
que a noite alimenta
e não quer
na lareira da solidão
mas só as estrelas conseguem
desenhar na tua mão,
há uma paisagem sem amor
no sorriso de um caixão
há jardins embriagados esquecidos na escuridão
as migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
há ossos de papel voando na madrugada
que só o amanhecer consegue parar
há barcos infelizes
e há barcos apaixonados...
mas as migalhas do teu suor
são os alicerces da cidade dos pássaros aprisionados.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Esqueletos e escuridão


Esta casa sem mão
completamente embriagada pelo fogo da madrugada
de janelas encerradas
com portas em latão,
Esta cabeça casa sem mão
o teu corpo em desalinho
dentro da lareira...
sem perceber que há um amanhecer colorido,
Este caixão
na casa sem mão
o celibato cansaço quando há na tarde esqueletos
e escuridão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

Não consigo imaginar


Não consigo imaginar
As lágrimas de uma criança
Quando tem fome
Medo… que cresce sem infância
Não consigo imaginar
As lágrimas de um menino
Sozinho
Esquecido no centro da cidade
Não consigo imaginar…
A mãe do menino
Com medo
Com fome… sem nada para lhe dar.

Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014