terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esferas de desejo


Se os olhos são a tua boca
e os teus lábios o leme dos meus beijos
se o orvalho é o cais do teu cabelo
quando nele atracam esferas de desejo...
suspensas sobre as sílabas das tuas coxas...
oiço a tua voz nas conversas de solidão
sobre um divã magoado pelo teu peso de vidro
se os teus olhos são a tua boca
deixa-me ser o teu marinheiro como se tu fosses um barco atracado no meu coração
é madrugada
tu percebes as tristezas dos elefantes quando o capim se transforma em chuva
miudinha
e as poças de lama chamam-te de amor
e tu
amas-las como amas as minhas tristes palavras...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono

foto de: A&M ART and Photos

Do amor cansaço dizem-me as persianas do amanhecer, uma gaivota gira como um pião na mão de uma criança, do amor, dizem-me, da madrugada até ao desaparecer do sol que existem árvores com perfume de sonho, que vivem castelos de orvalho na ponta dos dedos da mão da criança que brinca com o pião, do amor, sinto-a mover-se como uma enxada mergulhada na crosta sincera do infinito luar, uma nuvem diz-me que todas as ruas da tua cidade extinguiram-se como pássaros em madeira estrangeira, há uma névoa de soalho esquecido no teu peito... e
Do amor,
O mar crescido nas planícies juntamente com a névoa de soalho
Na lareira?
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos... construía vestidos em chita para um palhaço de areia, e a morte ficava à entrada da porta, não entrava, tinha medo do boneco em palha que funcionava como espantalho, o milho ficava a salvo das garras dos melros e restante família e das tempestades embriagadas das noites intermináveis,
Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono, o mar parece um espelho repartido por vários inquilinos, grita o presidente do condomínio
Quem é a favor da expulsão da inquilina do sexto esquerdo levante a mão,
Ninguém,
O presidente do condomínio triste como abelhas em dia de feriado,
E tu, tu meu menino que brincas com o pião na tua mão mão, és a favor ou és contra?
O miúdo...
Quero lá saber... nem de cá sou,
O mar não é meu, o mar é apenas um quinto das migalhas de ti que trago na algibeira, o amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
Vestia o mar com insónias de chita, o pião sentia-o... como hei-de dizer... o pião esconde-se nas cordas e
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
(Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros)
Engraçadinha,
Que mais fará plopque...
O portátil pifou,
Engraçadinha,
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
Adormecias nos meus braços...


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mágico espelho das palavras teus lábios


Um espelho perfumado olha-te e absorve-te, um espelho magoado puxa-te, e mergulhas no silêncio da penumbra lareira do desejo, olhas-te, e finges viver na solidão dos pássaros, perguntas-te
Quem sou?
E um emaranhado de palavras são pinceladas nos teus lábios de cetim, adormeces e vives, e sonhas
Quem sou eu, perguntas-te...
Um espelho suspende-se nas tuas costas e entranha-se na tua coluna vertebral... há sons melódicos na tua boca, há poéticas sílabas nas tuas mãos..., e

Quem sou eu?
E percebes que o espelho perfumado olha-te e absorve-te, e percebes que és filha das palavras, e percebes que és filha das imagens... e percebes
Que sou a noite?
Quem sou?
Um espelho, perfumado, um espelho perfumado com coração de cacimbo... perdido na areia.

@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013

poéticas madrugadas de ninguém

foto de: A&M ART and Photos

poéticas madrugadas de ninguém
mergulhadas no mar parecendo um veleiro embriagado
coitado...
poéticas manhãs sem sentido que da vida absorvem as tristes palavras de viver
as tristes caligrafias embainhadas no sofrimento alheio...
pensava-te dentro do meu corpo de estanho
montanha arrefecida depois da explosão de insónias labaredas em lábios de incenso
as tristes
poéticas madrugadas de ninguém
porque o são adormecem sem o saber
comendo magoados corações de areia
e bebendo as tempestades das sanzalas com telhados de vidro
poéticas tuas mãos
que poisam sobre o meu ombro curvado na sombra nocturna dos corredores sem portas
há fotografias perdidas que acordam de vez em quando
hoje umas
amanhã...
… as outras
todas elas poéticas madrugadas de ninguém
que ardem
e se extinguem no sonho de uma criança
esquecida
perdida...
perdida dentro do curvilíneo livro da infância


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013
Francisco Luís Fontinha - Alijó.
Participa na "Antologia SOLAR DOS POETAS - Volume I"

domingo, 13 de outubro de 2013

poderíamos

foto de; A&M ART and Photos

poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
uma cama
uma canção
uma flor com sintomas de paixão

poderíamos ter o mar
os filhos e as filhas do mar
as maré e o pôr-do-sol
poderíamos ter um cão
um letreiro e a esmola do mendigo que sentado na calçada suspira como gente ofegante

um olhar penetra no teu corpo doirado
poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
um sofá com asas de carvão
poderíamos... mas não mas não um triste sorriso de adormecer

uma noite mal dormida
chuva
neblina
chuveiro depois de fazermos amor...
poderíamos

poderíamos ter um cão
um rio com lábios de sangue
uma gaivota poisada sobre os andaimes do tos teus seios...
poderíamos ter um cão
beijos e uma lanterna com fotografias de sonhar


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes

foto de: A&M ART and Photos

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013