domingo, 18 de agosto de 2013

dizer-te

foto de: A&M ART and Photos

dizer-te que as minhas ervas são felizes
como são felizes os sons melódicos das tempestades de areia
orgasmos invisíveis que as plantas constroem na penumbra ilha do amor
dizer-te que os barcos são cinzentos
lentos
como o coração apaixonado
como o corpo em desejo
perdidamente perdido
em ti
no teu beijo
dizer-te que as minhas ervas são tão felizes
que vivem no meu jardim sem o saberem

amam
sofrem
fazem amor no silêncio pôr-do-sol
e dizer-te que tal como as minhas ervas
que não o sabem
também tu
nunca saberás se amo
amei
porque também o teu jardim
é escuro
e tem muitas árvores vestida com sobretudos verdes
e sofrem e são felizes porque eu... dizer-te

tu
não acreditarás nas magnólias e sem o dizeres
dizes-me que amanhã haverá um barco em regresso
um piano vomitará sons como do terceiro andar descem pingos de sémen
que o vizinho deixa sobre as ervas da querida vizinha
tu
não acreditarás em mim
nem saberás que as minhas palavras
vivem
choram
e dormem no meio de nós
como se fossem um Deus à procura das almas perdidamente perdidas...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013

A caverna da paixão

foto de: A&M ART and Photos

A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, as outras vozes, as outras palavras disfarçadas de vozes, mergulhávamos nos corredores de acesso a elas, às vozes e às cavernas, choravas pela partida do presente, pelo teu futuro incerto, choravas com o medo, de partires e deixares... a caverna e a paixão, que de dentro da caverna, vivem, comem, fazem amor ao final do dia, e no entanto, há uma janela, uma janela de onde se ouve o silêncio do mar a bater contra os rochedos do desejo, fervilhas como água em ebulição, pegas na minha mão, oiço os teus dedos longos e poéticos, de onde
Há sons melódicos em perfeita paixão,
Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,
Dirias que eu
És louco, Francisco!
Dirias que... o piano do meu corpo está perro, velho, enferrujado... e brevemente
Dirias que eu
És louco, Francisco!
No fundo do mar, deitado sobre a areia húmida das tuas coxas, dirias que eu... e brevemente voávamos como pássaros sobre as tangerinas que dormiam na nossa caverna,
Conta-me uma estória, Francisco!
(Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,
Dirias que eu
És louco, Francisco!)
A de um piano enferrujado com a mais bela voz da caverna da paixão, um piano disfarçado de piano, com braços, pernas, cabeça, um esqueleto com duzentos e seis ossos, um velho como eu, vivendo que faz de conta viver, sinto-te mergulhada em mim, sinto-te dentro de mim, como quando as tuas mãos se entranham no teclado do meu corpo... e tocas-me, e ouvem-se as vozes, os sons, e todas as palavras que a paixão alimenta,
És..., és louco, és louco Francisco Luís!
A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, se me é permitido o fazer! Diz-me tu!
Que és louco, Francisco, que és simplesmente louco...
E não o sou, Francisco, e não o sou...
Porque és tão querida, porque és tão desejável e desejada, porque há uma janela em nós de onde podemos ouvir o mar, e os sons do meu corpo... quando entranhas os teus dedos nele, e tocas, e tocas... os mais belos solos de piano, o meu corpo, ele, vestido de piano...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013

Poço da morte

foto de: A&M ART and Photos

Como será o poço da morte
vestido de madrugada
sem flores
sem... sem quase nada,

Como será o teu olhar
entre horas e desgovernados ponteiros de papel
como habitas tu em mim...
como? Se eu para ti sou uma gaivota suspensa por um cordel,

Como será o teu cabelo
embrulhado no vento
como? Diz-me tu? Se o amor é uma árvore
adormecida no jardim do sofrimento...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013

sábado, 17 de agosto de 2013

Os travestidos bares do amor

foto de: A&M ART and Photos

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
reescritas no corpo incenso que a tempestade leva
longe chegam as nuvens tristes
silenciosas
tâmaras teus olhos prisioneiros de mim
tuas mãos de porcelana
amam
fazem sexo com as minhas mãos de areia
inventas-te como inventaste a chuva
como inventaste as janelas viradas para o mar
transgénicos barcos navegando em teus seios de prata
com velas de púbis desgovernados dentro do fumo incandescente do amanhecer,

Amávamos-nos como duas árvores de papel
aprisionadas a um cordel...

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
como uma cidade que arde dentro de ti
incendeias-te vomitando as palavras proibidas
gemidas da tua boca
em loucas avenidas
correndo subindo correndo e subindo...
como guindastes de ossos procurando o prazer nos sexos dos marinheiros
mórbidos entre o cais
e os travestidos bares do amor
cai o cortinado do teu peito
e encerra-se para sempre o desejo em ti
das tristes janelas viradas para o mar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

Os calções brancos

foto de: A&M ART and Photos

As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu
Tu nada podes comprar,
Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas
Fervilham,
Transparente como a chuva depois de se masturbar sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de molhado, depois
Fervilham,
Diz ela,
Porque para mim, um simples aldeão esquecido no musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos, todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes, que só
Diz ela
Fervilham as hormonas,
Ai se não fervilham, que só em África existem, que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme, extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades virtuais, e começam verdadeiramente os
(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada)
Textos infestados por pequenos insectos, os calções, os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que,
Tu nada podes comprar,
Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos, âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que segura as asas do vento, e tu
Diz ela
Nada podes comprar,
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que... muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os barcos em regresso, e ficávamos
A ouvir o mar,
E ficávamos...
Simplesmente a ouvi-lo,
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto)
Fervilham as hormonas dentro dos finos calções brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da miséria cubata invisível...
Uma placa sobre a porta de entrada,
“Há caracóis”, e vivíamos felizes como serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido dos calções brancos,
Definitivamente,
Hoje, Hoje há caracóis...
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto).

(não revisto – texto de ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

noite cinzenta

foto de: A&M ART and Photos

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
fundem-se-lhe nas mãos clandestinas que a dor adormece
faz de conta que vive
sem viver
sem resmungar com os transeuntes vestidos de negro
que se fazem passear
entre os gladíolos do jardim da insónia
e a triste numeração da calçada sem memória,

caçávamos borboletas dentro do escuro quarto com janelas gradeadas
e o aço que antes gemia
hoje morto
derretido como os dedos do poeta amaldiçoado,

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
em vidros de pergaminho...

cinzentas as árvores de linho
que adormecem nos teus cortinados
a fome emerge
submerge
como pregos semeados na seara tua cama
as pedras castanhas... como ravinas de azoto...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

encruzilhada

foto de: A&M ART and Photos

procuro-te nesta encruzilhada de caminhos
como um leão fingindo dormir
ou como a gaivota madrugada
não fingindo nada
simplesmente vivendo a vida como se a vida tivesse vida
fosse comestível
tivesse força própria
como se ela
a vida
a tua vida em encruzilhada de árvore ancorada
fosse... uma alma
penada


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013