Mostrar mensagens com a etiqueta caverna. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta caverna. Mostrar todas as mensagens

domingo, 2 de novembro de 2014

Caverna espelhada


Os corpos incandescentes vivem na caverna espelhada
o amor cessa
porque um olhar se acorrenta às arcadas nocturnas da insónia
os corpos transparentes voam
e não regressam mais...

O difícil é partir
sem regressar
esconder-se nos claustros invisíveis do amanhecer
deixar sobre a mesa-de-cabeceira um simples bilhete...
parto e nunca mais regressarei,

Regressar porquê?
se ninguém notará a minha ausência...!
o amor cessa
e das palavras regressarão os abismos de um Oceano habitado por cadáveres
e em cada cadáver uma flor na lapela...

Os corpos...
fogem das ruas inanimadas com odor a Primavera
o amor cessa
como cessaram todas as andorinhas
e todas as gaivotas que conheci...

A caverna espelhada transpira solidão e embriaguez alicerçada aos barcos de papel
o menino de calções desenha nas sombras do entardecer
corações e triângulos que um adulto qualquer vai fotografar
e mais tarde...
queimar na fogueira do desejo.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Novembro de 2014

domingo, 18 de agosto de 2013

A caverna da paixão

foto de: A&M ART and Photos

A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, as outras vozes, as outras palavras disfarçadas de vozes, mergulhávamos nos corredores de acesso a elas, às vozes e às cavernas, choravas pela partida do presente, pelo teu futuro incerto, choravas com o medo, de partires e deixares... a caverna e a paixão, que de dentro da caverna, vivem, comem, fazem amor ao final do dia, e no entanto, há uma janela, uma janela de onde se ouve o silêncio do mar a bater contra os rochedos do desejo, fervilhas como água em ebulição, pegas na minha mão, oiço os teus dedos longos e poéticos, de onde
Há sons melódicos em perfeita paixão,
Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,
Dirias que eu
És louco, Francisco!
Dirias que... o piano do meu corpo está perro, velho, enferrujado... e brevemente
Dirias que eu
És louco, Francisco!
No fundo do mar, deitado sobre a areia húmida das tuas coxas, dirias que eu... e brevemente voávamos como pássaros sobre as tangerinas que dormiam na nossa caverna,
Conta-me uma estória, Francisco!
(Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,
Dirias que eu
És louco, Francisco!)
A de um piano enferrujado com a mais bela voz da caverna da paixão, um piano disfarçado de piano, com braços, pernas, cabeça, um esqueleto com duzentos e seis ossos, um velho como eu, vivendo que faz de conta viver, sinto-te mergulhada em mim, sinto-te dentro de mim, como quando as tuas mãos se entranham no teclado do meu corpo... e tocas-me, e ouvem-se as vozes, os sons, e todas as palavras que a paixão alimenta,
És..., és louco, és louco Francisco Luís!
A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, se me é permitido o fazer! Diz-me tu!
Que és louco, Francisco, que és simplesmente louco...
E não o sou, Francisco, e não o sou...
Porque és tão querida, porque és tão desejável e desejada, porque há uma janela em nós de onde podemos ouvir o mar, e os sons do meu corpo... quando entranhas os teus dedos nele, e tocas, e tocas... os mais belos solos de piano, o meu corpo, ele, vestido de piano...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013