foto de: A&M ART and Photos
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As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino
manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos
deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão,
ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu
Tu nada podes comprar,
Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se
tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas
Fervilham,
Transparente como a chuva depois de se masturbar
sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre
os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de
molhado, depois
Fervilham,
Diz ela,
Porque para mim, um simples aldeão esquecido no
musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os
calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado
o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos,
todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes,
que só
Diz ela
Fervilham as hormonas,
Ai se não fervilham, que só em África existem,
que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme,
extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades
virtuais, e começam verdadeiramente os
(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco
a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha...
cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer,
por caridade, por nada)
Textos infestados por pequenos insectos, os calções,
os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink
Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz
Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios
dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve
e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo
compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil
de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho
musseque, que,
Tu nada podes comprar,
Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um
apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos,
âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que
segura as asas do vento, e tu
Diz ela
Nada podes comprar,
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil
de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho
musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que...
muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o
corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e
comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os
barcos em regresso, e ficávamos
A ouvir o mar,
E ficávamos...
Simplesmente a ouvi-lo,
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de
AL Berto)
Fervilham as hormonas dentro dos finos calções
brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher
onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de
cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por
caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da
miséria cubata invisível...
Uma placa sobre a porta de entrada,
“Há caracóis”, e vivíamos felizes como
serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido
dos calções brancos,
Definitivamente,
Hoje, Hoje há caracóis...
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de
AL Berto).
(não revisto – texto de ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013
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