terça-feira, 13 de agosto de 2013

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel

foto de: A&M ART and Photos

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos
Quando acordava a manhã, tínhamos sede, bebíamos água salgada, e mergulhávamos num tanque de algas encarnadas, tínhamos a saudade imprimida nas verdes nádegas em doce algodão, e amávamos-nos e beijávamos-nos quando éramos gaivotas, hoje, o que somos hoje, meu amor?
Réstias infiltravam-se nos orifícios das munições perdidas, algumas, até esquecidas, antes mesmo de
Amávamos-nos como serpentes suspensas nos caules tubérculo dos esqueletos de arame, sentá-te vergares-te sobre a sombra do cansaço, gritavas por mim, e nós, as três, na janela da morte, e procurávamos
De?
Cigarros, pedaços de madeira e fósforos já usados,
E
De?
Amávamos-nos como correntes de água descendo o corpo teu, nosso, meu, e teu, de nós as três
Quatros?
E
De nós as três vestidas com tecido branco, puras e imaculadas, inocentes como as andorinhas antes de acordar a Primavera, e brevemente alguém
Loucas, elas,
Loucas...
Nós, loucas?
Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos entre triângulos, amávamos-nos entre quadrados, sentadas sobre o cosseno, a Teresa... deitada
Onde, minha querida?
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
E nada, nem o círculo trigonométrico resistiu à queda livre do amor quando este
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quando este se atirou do nono andar, havia uma viga metálica, havia três corpos submersos no silêncio das pequenas gotículas de suor, os vossos corpos
Entrelaçados como malhasol... e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quê...
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...
Vi, e havia serpentes, havia aço, havia corpos, corpos beijando-se na penumbra noite de Agosto, e depois, davas-me a mão, e eu, eu ficava-te com os teus lábios durante toda a noite, inventávamos horários nocturnos e as nossas noite
Trinta e seis horas, o tempo necessário para saborear os teus lábios, os dela, os nossos lábios... e tu, Gabriela?
Eu o quê, Teresa?
Nada, nada... querida Virgínia... nada,
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Agosto de 2013

Texto em destaque - Sapo Angola - Blogue Cachimbo de Água
Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras

foto de: A&M ART and Photos

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas, os cabelos incham, aumentam de volume, voam sobre os arbustos comestíveis das searas negras, vultos com sorriso nos olhos, à mão, vêm como penas dos pássaros assassinados pelo vento, e o corpo
Navega, estreme como a tua voz quando me ouvias dentro dos cubos de gelo que existiam no velho jardim dos desejos cabelos, os cabelos incham, aumentam de volume, cresce, o corpo cresce vagarosamente, a idade constrói-se num calendário esquecido no arame que vive e sempre viveu... nas traseiras da casa, o banco onde te sentavas, depois do jantar, morreu, e o livro que trazias sempre debaixo do braço
Morreu?
Não, não morreu, deixei de o ver, desapareceu, ausentou-se numa noite de Inverno, estava a lareira acesa, havia lençóis de geada em frente à nossa casa
Lembras-te?
Da casa, do livro... ou da geada?
De mim, se ainda te lembras de mim...
Não, Morreu?
Como morrem todos os livros e todas as geadas, de cansaço, de insónia, de
À mão, meu querido?
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?
Não, morreu?
E nada fazia crer que tu, tal como o livro, e tal como a geada... deixasses
Deixasse o quê, meu querido?
Deixasses de me visitar, deixasses de perceber como eram construídos os sonhos antigamente, não hoje, mas ontem, o correio electrónico impaciente, não se cala, desassossegado, impaciente...
Saudades das cartas perfumadas com corações desenhados pela tua mão minúscula, pela tua mão... de criança, na altura, cresceste, és mulher, de papel ainda vives deambulando junto ao Tejo, oiço-te quando espero pelos barcos, oiço-te quando me sento num banco em pedra, sinto o frio no rabo, e imagino-te... saltitando nas minhas coxas, oiço
Os apitos,
Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas,
Os apitos, comestíveis, partilháveis... como se fosses um livro emprestado, folheado por toda as pessoas lá do bairro, e à mão, o corpo
Inchava e aumentava de volume, e o teu cabelo parecia uma noite de luar, e o teu cabelo parecia uma noite de boémia, num qualquer bar em Cais do Sodré, e o teu cabelos, os apitos, cruzavam o rio, olhava-te e sentia dentro dos teus olhos as tempestades
O corpo, chora, meu querido?
Morreu...
Tempestades como ramos de rosas sobre a lápide do teu desejo, como a lápide da tua vagina quando as gaivotas
Quais gaivotas, meu querido?
Quais gaivotas, meu amor...
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Agosto de 2013

A pauta

foto de: A&M ART and Photos

Entre nua e as Quatro Estações de Vivaldi
O corpo balança no Dó Ré Mi
Algo de estranho de passa no Fá
Desisto quanto oiço o Sol
E ela nua
À espera do Lá…
Abre-se a janela em Si
E o corpo
Balança o corpo como um piano suspenso no tecto da alvorada
Desce sobre ela o amanhecer
Nua
Nua sem o saber…

Não percebo nada de música
Melodias
Poesia ou
Ficção vagabunda…
Mas tu nua
Não
Não enquanto brotam os sons de Vivaldi
Na tua mão
Dos teus seios
Toda nua
Tu
Uma pauta com sabor a limão.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 11 de agosto de 2013

Doce lareira em delírio

foto de: A&M ART and Photos

A tempestade vai abrandar, o mar ficará calmo e suave e a areia húmida da noite sobreviverá aos alicerces das árvores abandonadas..., uma gaivota sobrevoará as tempestades do infinito silêncio, coisas débeis insignificantes, olhos verdes, barbatanas cinzentas..., asas em papel construídas em pequenas neblinas de azoto, e eu pergunto-lhe se as marés são em lápis de cor, carvão, o acrílico sorriso da tua doce lareira em delírio, olho-te e desejo-te, e oiço-te como um mendigo desgovernado... até que o vento te faça sorrir, até que o vento seja música, seja poesia, sejas simplesmente... tu.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Quando descem as charruas ao silêncio teu púbis de areia

foto de: A&M ART and Photos

Tua mão poética sobre o meu rosto melódico
sisudo
dizes que sou ambíguo
como os alicerces das árvores apodrecidas
sisudo eu
como as vagabundas ondas dos seios teu Oceano
tua mão em mim
sou um barco navegando dentro de ti...
desço ao teu mais secreto poço da insónia
cambaleio como mabecos em cio
à espera que regressem as vadias chuvas
amar-te-ei?

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

Tua mão poética mão em seda pergaminho
tua mão de dedos finos
e palavras argamassadas nas janelas do amor...
tua mão
meu amor
minha paixão
Amar-te-ei?
Quando descem as charruas ao silêncio teu púbis de areia,

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

Como um piano envenenado pelos teus olhos cerâmicos
talvez sonhe contigo e com as mãos que fazem parte de ti
e de mim,

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

E perceba que a simplicidade está no teclado do teu corpo encarnado.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Poesia Sem Gavetas Parte II - Autores - AQUI HÁ POETAS!






Participação de Francisco Luís Fontinha