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foto: A&M ART and Photos
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Praia, mar, sol... poesia, corpo, poético entre os
raios coloridos do nocturno desejo, o colorido poema fantasiado de
arraial círculo que em noites de Verão rompem na aldeia como
lâmpadas sobre o tecto silêncio da pele saboreada pelas sombras de
mim,
Louco, ele, ela, as coisas compostas e as não
compostas,
O colorido poema tridimensional submerso sobre a
falsa areia, as conchas de plasticina alicerçam-se aos tentáculos
da solidão, há uma mulher em fuga, esconde-se debaixo da palmeira
do largo S. João, ouvem-se ainda réstias de migalhas que sobejam da
boca dos pássaros esfomeados, transformados em lenços de papel, da
algibeira, a mulher em fuga, guarda uma chave, e não sabe, e nunca
conseguirá saber... que porta se abrirá...
De entra, poderá ser uma porta de saída, dizem-me
que todas as portas servem para entrarmos, e sairmos, ou para alguns
se suicidarem, conforme o meu vizinho do rés-do-chão direito,
coisas tão simples, que nós, às vezes, os vizinhos, complicamos,
com a amizade, me despeço de ti até sempre, e nunca
Nunca mais apareceu junto aos arbustos onde existia
um granítico banco com escotilha para o Tejo, livrai-nos senhor
destes abutres esganiçados pela carne apodrecida, esperando as
árvores tombarem, ainda vivas, correndo pelos corredores da insónia,
Tenho a fome do prazer entre palavras e cristais
líquidos, transparentes como a pele escaldante da musa inspiradora,
sobre o sofá, de livro na mão e ouvido encostado à parede de
gesso, do outro lado, dois corpos transpiram, desejam-se, e ouvem-se
os gemidos do cansaço, um, dentro do outro, como o cimento cola a
suspender azulejos brancos numa parede enferrujada de um velho
cacilheiro, havíamos de descobrir o silêncio enquanto fazíamos
amor
Foram as suas últimas palavras antes de descobrir
que a caixa em madeira onde dormia, não era um quarto a sério como
o da prima Augusta, mas sim, e só, a caixa de fósforos do tio
Augusto, coincidência, hoje percebemos que nas equações
diferenciais existem beijos disfarçados de loucos corpos, tórridos,
de loucas, sebentas com capa de cabedal, e o amor, fazíamos-lo junto
às prateleiras que hoje, quase todas, vazias, mortas, e nunca mais
senti durante a noite aqueles passos trôpegos sobre o meu tecto, e
nunca mais ouvi o telintar dos talheres esquecidos dentro de pratos
em falsa porcelana, faiança milagrosa que serviu para sobrevivermos
durante alguns meses, e nunca mais, senti, o clique... do interruptor
da sala de jantar,
E assim, deixamos de ouvir o raiar da noite,
E quando se enfureciam, elas, entravam-nos pela
janela como se fazia nas ruas antes de acordar o Verão, puxávamos
os lençóis da neblina e começávamos a sonhar com poesia
dissimulada em corpos tórridos...
Sem nuvens,
E assim, deixamos de ouvir o raiar da noite, sem
nuvens, como dizíamos, azulejos brancos numa parede enferrujada de
um velho cacilheiro, havíamos de descobrir o silêncio enquanto
fazíamos amor...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha