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foto: A&M ART and Photos
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Azul sou azul como os pássaros do infinito
amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os
calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos
amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua
dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa
alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito
amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados
prazeres, nem aos dias faltam malabarices eternas, como as pieguices
do catrapuz sistema de equações lineares, havia uma fígado
encharcado em vodka, um fígado doente, mas contente, um... perfeito
idiota, mafiosa como as bolachas de água e sal que deixavas sobre a
mesa de granito que em pequenas rotações, mínimas, conseguiam
alimentar um exercito de abelhas com pequenos parafusos de aço, com
asas de porcelana, lama, a cama na lama que havia em ti, havia e
havia
aprendi a consultar nas páginas amarelas
O teu rigoroso endereço num papel encarnado,
escreveste o teu nome, número de polícia e telefone,
e ouviam-se-te os berros das horas por terminar, e
ouviam-se-te os berros dos dias entalados na penumbra que os pássaros
do infinito amanhecer, esse
O teu
silêncio que dizias-me existir no teu coração e
que eu, nunca, acreditei, acredito no azul como eu do azul os
pássaros, colados na tela que as velhas flores que crescem nas tuas
coxas que a Primavera absorve, come, diz-se que o teu
Esse?
porque são as tuas coxas amarelas?
Diz-se que o teu corpo pertence às searas brancas
com pontos de luz e pequenos torrões de açúcar quando se acendem
na tua pele os pigmentos mórbidos das caravelas em flor,
misturam-se-lhes as ditas coisas que despedaçavas como gargantas
infelizes, e berravas, dançavas como estrelas em queda livre, até
que os dias se transformavam em martírios e delírios, e uma pequena
longa cruz de cedro poisava-se sobre os teus cabelos, à rapaz, de
rapaz, saltavas os muros da aldeia e partias as cabeças dos
transeuntes como tu, crianças como tu, e como tu
desejavam-se-lhes as pequenas palavras tatuadas no
pescoço, um poema em forma de vidro, ou um pequeno vidro, travestido
de poema, efeminado, ele, eu, corríamos suavemente sobre as palha
adormecida do palheiro do tio Joaquim, e adoçavam-se-nos os corpos
com pequenas caricias de mel e de mãos dentro de ti que procuravam o
clitóris literário dos teus dias como nós
Vagueávamos nas docas encobertas com rochas e
músculos comboios de areia, sabia-te como fosses um gladíolo
comestível, ou prisioneira numa jarra de murmúrio, havia-nos de
acontecer entrar no nosso palheiro, além do desejo, da paixão, do
amor... a eterna saudade de ti quando fingias não me veres, e
sentia-te sobre o meu ventre...
todo o teu peso, mínimo, a equação de três
incógnitas, três equações suspensas por três letras aleatórias,
e eu, resolvendo-as sem saber que tu existias, nunca te vi, mas
imagino-te habitares dentro de uma integral tripla, ou numa talvez...
pequena, sempre pequena, derivada do co-seno ou seno, tão simples, e
não conseguia perceber que estavas lá, que sempre
Estive nesse lugar como os protões e os electrões,
Que sempre, ou não,
“azul sou azul como os pássaros do infinito
amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os
calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos
amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua
dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa
alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito
amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados
prazeres”
Que sempre, ou não, acreditar que dos teus lábios,
um dia, soltar-se-à
os triângulos dos teus olhos, adoro-os sem o
saberes...
Soltar-se-à a madrugada com pequenas pétalas das
flores que és tu.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha