foto: A&M ART and Photos
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Uma fina lâmina de aço vive no meu
corpo
e voa dentro das minhas veias até
chegar ao coração
até... conseguir-lo transformar em
vitrina mecânica numa loja de conveniência
vivo dentro de ti sabendo que as tuas
tristes palavras
aquelas que tu não prenuncias
como eu me recuso a escrever quando
sinto-te presente na escuridão da noite
e oiço uma voz lânguida e trémula e
moribunda...
que a morte traz e semeia na tua velha
mão de centeio,
Uma mulata despede-se de mim sobre o
cais das merendas
e entre poucas palavras
e entre longos beijos
escrevo-lhe nos seios o poema de ti
sobre mim com alguns estilhaços de vidro
que alguém deixou adormecer sobre as
pálpebras do orgasmo eterno auspício do sossego...
e eu permaneço intacto como os
triângulos de tédio no jardim das orquídeas,
Vivo parecendo uma lâmina com
aparências
a uma outra que dentro de mim escreve
poemas no sangue de neblina
quando desce sobre os pequenos barcos
de papel
vivo acreditando que os meus voos
nocturnos sobre os cristais de iodo
servem-te de martírio consolo nas
tardes de domingo
sei
que uma fina lâmina de aço
mastiga-se na tua boca de lábios
minguados pela paixão do adeus...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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