foto: A&M ART and Photos
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O corpo do texto mergulha na espuma recheada com
“Liberation serif”, anunciam que brevemente vai começar a Prova
Oral (Antena 3) e sinto-me tão absorvido no diário que brevemente
terminará com o regresso do jantar, que desconheço se é em directo
ou em diferido, ou qual é o tema, oiço que a Troika vai-nos dar
mais sete anos, e não percebi muito bem, mas que de certeza é para
nos enrabar a todos, ou só a alguns,
(eu enrabo, tu enrabas, nós todos enrabados e eles
enrabam-nos como pequenos grãos de areia sobre a praia das marés
embriagadas, televisão, desisto, não vejo e não oiço, vou
desligar-me das coisas perfeitas, e fartei-me de tantos comentadores,
de política, futebol e afins limitada)
Risos em plena sala, o histerismo das flores sem
cabeça (afinal já passou, foi-se e finou-se), página um de um,
padrão, Português (Portugal) e clica-se sobre o botão perdido no
bolso da camisa, um som melancólico perde-se entre os tijolos das
cabeças inseridas nas ranhuras da pele enjoativa com saliências de
pólen que as avenidas das cidade esconde, e procuro-me nas sandálias
que a menina de chocolate calça, e descalça-se, e descalça corre
pela praia, procura-me e não me encontra, perdidos, ao fundo da
fotografia, uma rua sem nome, sem idade, eu, nada, apenas converso
com os números de polícia, e descubro de no número treze, todos os
homens vestiam-se de mulher, mais à frente, no número vinte e
cinco, terceiro esquerdo, quatro mulheres trabalhavam em sociedade
anónima, SA, cinquenta e cinco escadas, três vezes ao dia, quatro
drageias com mel e água destilada...
(INSER – PAD)
A menina dos rebuçados – Coitado, passou-se da
cabeça! - injectáveis, e das nádegas dele saem silêncios de luz,
durante a noite, ouvem-se nada, nem água, nem telefone, nem carro,
nem trovoada, e a menina, diz-se crucificada na parede de betão,
vêem-se os ferros doirados com alguma ferrugem junto aos dentes de
marfim que os barcos de papel deixam cair, um aqui, outro ali,
outro... meninas SA, número vinte e cinco, cinquenta e cinco
degraus, chega, fartei-me, cansei-me, e vou voar,
(dois vidros partidos e três telhas desgovernadas
contra o automóvel do tio Joaquim, trezentos cavalos, barbatanas de
néon, faróis de liga leve, oito metros de adereços sobre a
esplanada junto ao rio dos segredos, estou preso na despensa, oiço o
pulsar da cozinha, na parede, um calendário, tem uma menina, não
tem roupa, a vizinha acusa-me de pornografia, eu discordo, um
calendário serve para ver e ouvir os dias, as semanas, os meses, as
luas, e claro, as coxas da Gaivota..., dois, ou quatro, e três
telhas desgovernadas – Onde puseste as clarabóias da menina
Gaivota? - não sei, depois de as ter na mão, voaram, sumiram-se,
resumindo, todos)
Enrabados por eles,
(três por cinco)
Quando cinco contos ainda valiam cinco contos,
quando o cigano – Primeiro o dinheiro – e eu, pensava, “fodi-me,
literalmente”, e não, ciganos honestos,
(três por cinco)
A menina dos rebuçados – Coitado, passou-se da
cabeça! - injectáveis, e das nádegas dele saem silêncios de luz,
durante a noite, ouvem-se nada, nem água, nem telefone, nem carro,
nem trovoada, e a menina, diz-se crucificada na parede de betão...
(INSER – PAD)
Desistes de mim? Eu, eufórico, diabólico, trave de
madeira apodrecida, o caruncho mergulha-me nas mãos, oiço os
orifícios e cavernas, há minhocas vestidas de Cinderela,
trapezistas, malabaristas, e palhaços de gesso com pernas de milho,
o circo chegou à cidade do Cio, e o rio, completamente desprovido da
roupa tradicional, nu, como as aranhas vagarosas das tardes de
literatura, havia barracas de Farturas, Pipocas – O Guru? - e
Churros e Amendoins sem casca, eufórico, trave de madeira em
suspenso porque o chão derreteu e desapareceu, O BURACO, O
DERRADEIRO BURACO, enfim sós, eu e tu, nós, que às vezes
(INSER – PAD)
Que – Vai um pacotinho de Pipocas? - que os
taludes da insónia deslizam sobre os lençóis da tristeza, hoje,
não sei se voltava a levantar-me da cadeira, começar a caminhar, ir
até ao cais, e ver ao longe uma ponte deslizante, como manteiga em
fatias de pão, que – Pipocas? - que tudo começou quando ouvi pela
primeira vez que havia barbatanas comentadores e lesmas de açorda, e
inventam-nos palavras como se as ardósias das Primavera fossem
jardins cobertos, uma enorme tenda, um trapézio e palhaços, há
Farturas & Churros & Pipocas – Posso experimentar? - claro
que não, e o – Lucro? - embrulhadas em folhas envelhecidas de
prostitutas amarelas das antigas telefónicas páginas – Parvalhão!
- é mais barato, higiénico, e lembra-me a infância, de feira em
feira, de cidade em cidade, de mar em mar, de cachimbo em cachimbo,
regressei ontem, e foi como se vivesse aqui desde sempre, nasci aqui,
e fui concebido ali, mesmo ao lado, lá para as bandas da Vila Alice,
- Chique ah – rés do chão, Luanda à esquerda,
(queria falar-vos dos meus passeios de lambreta, eu,
o meu pai e a minha mãe, mas o tempo de chuva, inibe-me, e lembra-me
as noites junto ao Tejo embrulhado em saliva de charros e eu à
frente, em pé, e se me pedisses em casamento, responder-te-ia que...
prendia as duas mãozinhas no volante e inventava curvas na Baía de
Luanda)
Luanda, a mesma Luanda à esquerda da Vila Alice.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha