quarta-feira, 20 de março de 2019
terça-feira, 19 de março de 2019
Não
sei, meu pai, não... sei,
O
frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo,
António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de uma reza se
tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino
silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada
pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um
cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se
abraçaram a ele
E
ele?
Incrédulo,
Vocês.
Aqui?
In
“Amargos lábios do poema”
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 18 de março de 2019
O silêncio.
Entre
as mulheres, o crucifixo da paixão,
As
sílabas na rebelde tarde poeirenta,
Esperando
o regresso do rio Doirado.
As
palavras milagrosas, nas mãos do peregrino,
As
lágrimas, tenebrosas,
No
rosto do pobre menino…
Escrevo-te
esta canção,
No
papel pardo, que alimenta,
E
respira,
O
meu corpo cansado.
E,
o vento me atira,
Todas
as pedras da montanha,
Ninguém
me apanha na escuridão…
Sofro,
a morte aparece suspensa nas paredes da aldeia,
Tenho
uma ideia,
Um
dia, um dia deitar-me no chão,
E
sonhar-te enquanto caminhas em direcção ao mar.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
18/03/2019
domingo, 17 de março de 2019
Corpo de incenso
No
futuro, amar-te-ei?
Escrevo-o
no teu corpo de incenso.
A
escravidão de amar.
STOP.
A
carta que nunca recebi,
As
palavras tontas, esfomeadas, que enviaste da cidade,
As
ruas íngremes, sonolentas e cansadas…
Como
eu, o assalariado poeta das noites perdidas,
Sentir
no corpo o peso da tua sombra,
Quando
descem sobre mim os candeeiros a petróleo,
Imaginados
pela loucura,
Numa
tarde de Primavera.
A
morte.
A
sorte de morrer, sem o sentir,
Sentir
a morte, sem morrer,
Nos
livros,
E,
palavras.
O
fim.
No
futuro, amar-te-ei?
Escrevo-o
no teu corpo de incenso,
O
lanche envenenado pela solidão,
O
pão,
O
sorriso do teu cabelo,
Nos
jardins de Belém…
A
partida.
Para
sempre; a morte, da morte…
Na
morte.
E,
as palavras.
As
palavras da morte.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
17 de Março de 2019
sábado, 16 de março de 2019
Tudo o que há em ti
Tudo
o que há em ti, meu amor,
São
sílabas envenenadas,
Nos
lábios cansados,
Do
poeta.
Tudo
o que há em ti, meu amor,
São
amêndoas em flor,
Nas
mãos da madrugada…
São
palavras inventadas,
Poemas
revoltados…
Do
poeta.
Tudo
o que há em ti, meu amor.
Do
poeta,
Os
livros engasgados no teu ventre,
O
poema abraçado aos teus seios, como uma caravela,
Esquecida
no mar,
À
deriva.
Tudo
o que há em ti, meu amor,
Os
pássaros que brincam no teu cabelo,
Olhando
a calçada,
Quando
desce a noite na pele cinzenta das árvores queimadas,
Tudo,
meu amor.
Tudo
se cansa em mim,
Como
pedras ensanguentadas,
Os
comprimidos do sonho,
A
injecção da esperança,
E
tu, meu amor,
Nesta
amaldiçoada canção.
Tudo
o que há em ti, meu amor,
A
manhã em pequenas quadriculas de tecido,
A
agulha, o dedal…
Junto
ao mar.
Tudo
o que há em ti, meu amor.
O
desejo da paixão,
Num
corpo apaixonado,
Tudo,
meu amor,
Da
janela desventrada,
O
silêncio dos livros queimados,
Na
tua ausência…
Do
poeta,
Tudo,
tudo o que há em ti, meu amor!
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
16/03/2019
Subscrever:
Mensagens (Atom)