segunda-feira, 23 de março de 2015

Silêncios da Primavera...


Os dias nefastos da melancolia
a palavra envenenada
na boca de uma caneta
triste
e só
o círculo do desejo
desenhado na ardósia noite do sonâmbulo beijo
os dias
do enforcado movimento pendular
contra a janela do meu quarto
as sombras
brincam nas almofadas da solidão

dás-me um beijo
e partes
como uma imagem
ao despedir-se e o vento a leva
sem perceber
que a morte
é o fim da fotografia
negra
encurralada nas ruelas do abismo
demoro-me
e negra
quando acordam os silêncios da Primavera...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Março de 2015
As andorinhas pintadas na fachada do desejo, o corpo transversal entre dois pontos sem coordenadas, o vazio, a carta regressada do nada
Amo-te, meu querido,
Não sei quem é, preenche-me os sonhos, e brinca na minha cama
António?
Sim, Margarida!
E brinca na minha cama como a criança acabada de nascer, as primeiras palavras, o primeiro poema, a primeira paixão, o amor, a desobediência do coração de prata, a mina mergulhava nas canções Primaveris, as orquídeas desenhavam círculos na sombra da tempestade, pai?
Sim, filho...
A guerra,
Que tem a guerra?
Não me lembro, meu filho..., não me lembro...


(ficção)
Domingo, 22 de Março de 2015
Francisco Luís Fontinha . Alijó

domingo, 22 de março de 2015

As equações do sono


O gatilho da paixão
uma bala vestida de palavra
entranha-se no meu peito
grito
grito o poema assassinado pelo poeta
a espingarda da saudade
nos lábios tristes da madrugada
o gatilho da paixão
em pausa
suspenso na minha mão
disparo
não disparo...

mato
morro
não sei...
quando o papel arde
no pôr-do-sol da solidão
o amor
o amor das clandestinas manhãs
e o uivo da boca
no beijo cansado das nuvens de algodão
não paro
caminho em direcção às equações do sono
é amanhecer

vejo a cidade em lágrimas
chove
nos cabelos da maré
invento-me nos teus braços
como um louco esqueleto de pano...
o piano
dança junto à lareira do adeus
a despedida
a partida
uma mala vazia
quase vazia
porque lá... habitam os socalcos do sonho.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Março de 2015
O meu melhor amigo, morreu
Maldita guerra, terra... nada, para nada, recordo o sorriso dele, em criança brincávamos junto ao mar, desenhávamos barcos nas paredes do sono, sentados, pintávamos beijos no térreo chão com odor a desejo, Margarida
Farta das cartas, meu amor, amo-te, ando no mato e percebo que a tua sombra me acompanha, sinto os teus doces lábios no cano da minha G#. bê lá, meu amor,
Margarida, desenho no cano da minha espingarda... Amo-te...
O meu melhor amigo, a criança de sorriso encarnado que todas as tardes voava sobre os nossos cabelos de espuma...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha - Alijó
Domingo, 22 de Março de 2015

sábado, 21 de março de 2015

Princesa dos Oceanos


Tu
princesa dos Oceanos de brincar
madrugada
em flor
tu
a mulher desejada
pelos homens de luz
anoitece nos teus lábios
e os teus beijos são pedacinhos de sorriso
sombras
a penumbra dor dos barcos de papel
tu
a imagem melancólica do poema
morto
morto...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Março de 2015