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Juro, se fosse hoje, se fosse hoje inventava-me,
colocava umas luzinhas na cabeça, pedia ao senhor Arsénio que me
desenhasse umas asas e mandava-as construir ao tio Serafim, quando
regressasse a casa com a estrelada, coitada, manca
Estrelada!
E amanhã não me fodes mais porque vais ficar na
loja porque com a pedrada que te dei, e enquanto isso, o Serafim a
jogar ao pino com os colegas da escola, e tenho quase a certeza que
ele me constrói umas asas com vista para o Tejo, pensava o menino
Pedro antes de adormecer e enquanto a família, pai, mãe e avós,
todos, numa irritação
É a tua cara Alberto,
Não é não, respondia a avó Madalena, e
acrescentava
É tal e qual o meu João, isso não tenho duvidas
E eu, e eu tenho a certeza que tenho algumas
parecenças com um embondeiro, com um mabeco, ou na pior das
hipóteses
Com um Anjo,
(mais uma breve pausa para ir à casa de banho
regressamos o mais breve possível)
Sim, com um Anjo, Porque não? Deve estar louco
menino Pedro, queixava-se o porteiro embriagado quando madrugada
dentro ele
Eu, tu, regressávamos das longínquas sentinelas de
estanho, deixávamos as mesas de granito junto aos jardins
caquécticos da casa de S. Pedro do Sul
Constipação
Ou
Fígado,
Constrói-me umas asas, tio Serafim
E a coitada da estrelada só em três patas, sofreu
tanto, tanto sofrimento teve esta ovelha, e o menino Pedro e a menina
Margarida
Eu, tu, regressávamos das longínquas sentinelas de
estanho, deixávamos as mesas de granito junto aos jardins
caquécticos da casa de S. Pedro do Sul, deixara de chover, o fígado
pifou uma vez mais, constipação
Ou
O pai retratava o filho com imagens a preto e
branco, no tornozelo uma fitinha azul com o nome e o dos
progenitores, e se fosse hoje, e se fosse hoje juro
Tinha-me inventado.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó