sábado, 4 de abril de 2015

Confissão


Sinto o teu olhar

Nas madrastas canções de amar

O silêncio beijo escondido na tua boca

As palavras minhas

Percorrendo o teu corpo

A tua imagem melancólica

Nas vidraças dos rochedos

O segredo

O amor em segredo

Nas pálpebras do fugitivo

Amanhã não venho

Aos teus braços

Cansei-me das tuas alegres noites

Quando a sinfonia do orgasmo tricolor

Poisa docemente no Tejo

O amor

O amor sem compreensão

Que os orgasmos de lata

Cintilam

Nas árvores da saudade

Eu só

Esperando-te sem perceber quem és

Uma conversa em triângulos soníferos

Os fósforos

E os cigarros

Na aldeia da paixão

Mergulhar o teu corpo nos lençóis da tristeza

Acreditas?

Sempre

Amanhã

Outro dia

Outros homens

E outros barcos

O teu corpo polvorizado pelas pálpebras de cinza

O amor

Os beijos

As metáforas embriagadas nos cortinados da cama

Nua

Desfeita

Calibrada nos imperfeitos botões de rosa

Amo-te…

Como?

O sonolento poeta

Nas coxas da literatura

As canções

Os poemas

O teu corpo na minha cama

Sofrendo

Insónias e vapor de medo

Ao deitar

A fotografia da noite

Vivíamos debaixo de um cortinado de sémen

As cartas

E os telegramas

Infestados de viagens

E alegrias ruas do Rossio

Cais do Sodré

Putas à vez

Da cidade dos imbecis currículos de areia

Perco-me

Finjo

Nada

Morto

Nas palavras.

“Foder-te contra o espelho do infinito”

A vastidão das estrelas

Camufladas rosas de ensurdecer

Coloridas

No amanhecer

Voando

As gaivotas

No teu ventre…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O carteiro


Vivíamos como dois círculos

Descendo a madrugada

Tínhamos no olhar

Todas as palavras do Universo

O corpo

Teu

Fervilhava entre duas rectas transversais

As paralelas sombras dos teus seios

Em cubos de medo

Quando a mão te acariciava

E da mão

A húmida esfera de sémen

As gaivotas pinceladas no teu ombro esquerdo

Voávamos nas montanhas do abismo

O exílio da luz

Que as tuas coxas absorviam

Nas imagens prateadas

Encarceradas num cinzeiro de vidro

Escrevia-te uma carta

Esquecia-me das palavras

Respondias-me

Nada

Como poderias responder-me

Se a cidade se tinha transformado em morte

Camuflada nas ruas e avenidas dos teus gemidos

O carteiro dizia-me…

Respondias-me

Nada

O carteiro respondia-me que hoje

Nada

Como poderias responder-me

Se deixaste de ter alvorada

Secretária onde escrever

E papel

Ardeu

Na tua boca em baloiços beijos

A loucura atravessava a cidade

Vivíamos entre cartas

E

E desenhos de chocolate

Em finas películas

Dormindo na tua pele

Domingo

A cancela do desejo

Encerrada

Reabrimos amanhã

Hoje

Nada

Papel

De parede

Com olhos de centeio

O vento abraçava-te e tu

E tu Domingo

Sem fala

Escondida nos barcos clandestinos da saudade

A água nas pétalas do teu sorriso

Tínhamos

A vida na vida

E a vida em papel

Hoje

De parede

Enferrujados poemas no púbis da maré

A casa inanimada

Dói-lhe?

Sem resposta

Nada

Sem fala

E tu Domingo

Suspensa no calendário da solidão…

Uma criança de luz

Nos teus braços

Fim.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 3 de Abril de 2015

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Entre paredes


O sono

Do soalheiro destino da palavra

O inferno

E a cabana

No vulcão do silêncio

Procuro

E perco-me nas tristes luzes da cidade

Amar-te se existes

E só se ama quem existe?

Ou o amor é inexistente…

Procuro

Nos teus seios

 

A delapidada canção do desejo

Sinto

Nas pálpebras

O cheiro do teu corpo

O “tesão de papel” mergulhado na inocência

Das coisas

Dos coisos

A manhã imerge nas tuas coxas de assalariada

A esplanada

Vazia

Com livros

E poesia

 

E lágrimas

(crocodilo)

O amante da insónia

Sentado na cabeceira do adeus

Aceno-lhe

E penso

Não regresses mais

Meu amor

As canónicas carícias

Do calendário “Gregoriano”

As plantas solidificadas no beijo da mediocridade…

Não tenho imagens

 

Desenhos

Ou pontes de cansaço

O transversal esforço

Na cama

Em gemidos

Meu amor

Não

Não regressava mais

Sabia-o

Como sei que hoje são dois de Abril de dois mil e quinzes…

E mesmo assim

Desprezei-a

 

Como sempre o fiz

Entre paredes

A simbólica melodia

Nas calças do amanhecer

Amanhã

Não

Meu amor

Sabia-o

Sempre

Sabia-o

Como sempre o fiz

Entre paredes…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 2015

Vertigem


A vertigem

O dia triste

Quando é envenenado pela saudade

Há no olhar da esperança

Um cigarro poético

Derramando palavras

E nuvens cinzentas

A rua perde-se em mim

Como eu me perdi nos teus braços

De aço

Prisioneiro dos cadeados invisíveis

O marfim dos dentes do crocodilo

Esperam-me sobre a mesa da sala de estar

Não estou

A porta encerrada

Sempre

Sempre

Como o mar submerso na neblina de sal

A vertigem

Apodera-se dos meus sonhos

Não há rios nesta cidade indesejada

Os peixes

Não

Não estou

Hoje

Nunca

À tua espera

Porque não espero nada

Nem ninguém

Como nunca esperei a madrugada crescer

Nos teus cabelos

A vida me come

A vida me mata

A fome

E…

Será que tens cabelos?

Fios de xisto

Descendo o Douro

O meu pensamento está longe

O Tejo

Aguarda serenamente a sombra do meu corpo

A ponte iluminada

Dançava

Quando o vento se alicerçava

E eu

Brincando numa parada militar…

Soldado de pedra

Com uma espingarda de nada

A vertigem sonolenta das coisas belas

Quando o dia

Hoje

Não

Nunca

Os peixes

Não

Não estou

A casa desassossegada

Com a minha ausência

Parti

E ninguém

Percebeu que não estou

Os livros na intimidade do desejo

A vertigem

Nas minhas veias

Caminhando apressadamente

Como os homens acabados de regressar

Do infinito

Os cubos e os círculos de gelo

Palmilham as lâmpadas do medo

Na ardósia

As equações do amor

Sem resolução…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 2015

Diário de hoje


Sem sentido

Os alfinetes da solidão

Espetados nas esplanadas dos enforcados

A vida

Um barco

Sem amarras

Dormir na cidade

Quando as ruas pertencem à madrugada

As palavras

Viagens

Regressar

Não regressarei

 

Nunca

Os corpos à poeira

Do adeus

Sem sentido

As mulheres que me abraçaram

E hoje

Sombras

Sémen de prata

Semeado no destino

Escrevo-lhe

E

Meu amor

 

Não acredito nos adormecidos continentes

Na chuva

A neve

Sobre a mesa

Rompendo as narinas camufladas na insónia

O pó

Branco

Sem estória

Ou regressar

Nunca

Mais

Vou desenhar o teu olhar de sentinela de papel

 

Na cama escrevíamos poemas no corpo

As mãos

Húmidas

Percorriam os livros de “Lobo Antunes”

Perdi-me

Regressarei?

Sem saber que amanhã

Às oito horas e trinta minutos

Tu

Meu amor

As sentinelas

Letras

 

Voando

Como os apaixonados casebres de nata

Extingue-se a luz dos milagres

Eu não acredito

Na tua língua

O casaco

E a algibeira

Pigmentos soníferos dos corações do sono

O casaco

E a algibeira

O amor

No amor

 

Letras

As avenidas

Os homens de negro

Os pássaros

As mulheres mais belas do meu cansaço

(Passou-se… oiço-os)

Mas esta vida é uma “merda”

Comestível pelas circunferências dos anzóis de Níquel…

Silencio-me

Cerro os olhos

A partida

Dois abraços e um beijo.

 

Beijo

Beijo

Beijo

Beijo

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 2 de Abril de 15

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Infelizes madrugadas


O teu nome

Martirizado nas ombreiras do silêncio

Na parede

A solidão dos ossos

Vaporizando-se em pedacinhos de incerteza

O poema sente os teus lábios

O poema alicerça-se ao poeta

Que beija

Os teus lábios

O teu nome

Sem nome

Como as infelizes madrugadas do prazer

Acendo a insónia dos travestidos medos

A ponte balança

… Mas… mas não cai

Como todas as pétalas de rosa

Do jardim do teu livro

Onde habitam as tuas mágoas cinzentas…

 

                       

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 1 de Abril de 2015

terça-feira, 31 de março de 2015

O fim


O fim

Duas rectas paralelas…

… Abraçadas

No infinito cansaço

A sinfonia das pálpebras em veludo

Na sombra do amor

Gaivotas tontas

Tontas… tontas flores de papel

Sobre o teu ventre

Envenenado

O fim

Duas

 

Rectas

Longas

Infinito…

Abraçadas

Triste

A distância

Triste

A solidão nos dias em companhia

Os livros

Me alimentam

Abro a janela

O Douro à espreita

 

Nos barcos azuis da madrugada

O comboio pára

Os homens e as mulheres

Nos livros

Triste

Infinito…

E longas

As tardes sem ti

Adormecia no teu colo

E inventava aviões de musgo prensado

Olhava as lâmpadas dos teu olhar

O tecto dos teus seios

 

No mar

O comboio se esconde no teu púbis

E entre apitos

Uma nova paragem

As mão

Escalam o teu corpo de cera

Em chamas

Não sei o teu nome

Meu amor

Sei o dia em que nasci

Sei o dia em que vi o mar pela primeira vez…

Mas o teu nome

 

Meu amor

As mãos

Nos livros

Triste

Infinito…

E longas (pernas)

Ruelas sem saída

Mulheres de ébano

Semeadas no passeio da ilusão

O esqueleto meu amor

Dançando sobre a praia

Nua (ela ou ela?).

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Março de 2015

Entre beijos e poeira…


As línguas abraçadas no céu-da-boca

A chuva argamassada contra o silêncio nocturno

Em redor de dois corpos invisíveis

O prazer nas palavras

Saltitam enquanto folheamos um livro sofrido

Em lágrimas

Da morte inanimada

O Sol embrulhado dentro de quatro paredes

O tecto desce

Desce…

E tomba no pavimento lamacento de um dos corpos

O fim da tarde evapora-se

Nos lábios de um cigarro

Negro

Noite

Sombrio

Como os pássaros da minha aldeia

Subo aos teus cabelos

E sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada

A cidade cresce

Os automóveis enfurecidos

Em raiva

Como os cães selvagens

Montanha abaixo

A ribeira espera-os

Como visitantes insignificantes

O sexo suspenso nos cortinados do desejo

Os gemidos

E as sílabas da saudade

Há no teu corpo

Vapor de água

E cristais de prata

A imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego

O mar

O mar dentro de ti

Construindo marés de esferovite

E alguns sorrisos apaixonados pelo sono

Perdi-me neste tempo infinito

Quando ainda existiam equações de areia

No quadriculado olhar

Hoje

Sou uma caneta avariada

Que deixou de escrever palavras

Que…

Que tem uma lápide sobre a secretária

E uma fotografia

Húmidas vogais

Agarradas às escadas da paixão

Sem saberem que a morte

Não é a morte

Que o medo

Não é… o medo

Voar

Sofrer enquanto caminho sobre um arame

(sempre quis ser trapezista)

Artista de circo

Palhaço

Andante…

Sem nome

Quando acordo e sinto que estou vivo

A praia parece a eira de Carvalhais

Graníticas espigas de cio

Nas frestas do sonho

Oiço o sino da Igreja

Quase a desfalecer

Tensão alta

(dizem)

E nos teus cabelos

As luas de Saturno

Envergonhadas

E Titã…

Entre beijos e poeira…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Março de 2015