quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Alegria

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Hoje há festa
nas paredes da minha biblioteca oiço baixinho os sorrisos invisíveis da alegria
pela primeira vez ouvi o metro do Porto como se fosse uma orquestra
... imaginava-o uma lagarta
feia
triste...
e hoje
tão belo
e hoje
tinha poesia
e canções
e... e alegria.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O sangue quando disfarçado de texto, a ficção caminha nas veias quadrangulares da paixão, um finíssimo raio de Sol acorrenta-se ao papel emagrecido que as nocturnas cidades constroem nas arestas do sofrimento, há dor, há pobreza...
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
E não quer,
O coração apaixonado estoira, em pedaços de areia grita pelo regresso do mar, o mar aflito, grita pelas palavras enclausuradas da solidão,
Quer, ter de passear-se vestido com um lençol de medo, e as cornijas da insónia descendo até às pálpebras dos candeeiros a petróleo, o medo, a noite que se come e ejacula pequenas gotículas de silêncio, é tarde
Meu amor,
E amanhã o trim trim do triste caixote de madeira...
Hoje não estou,
Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem perceber porquê,


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2015


Estrelas de papel

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E voas sobre os telhados de vidro
desassossegas-te quando acorda a noite
e percebes que a tarde morreu junto ao mar
inquietas-te
constróis sorrisos fingidos
que só a madrugada compreende
e nunca tens medo de cerrar os olhos
e nunca tens medo das estrelas...
em papel
que eu te deixava sobre a mesa-de-cabeceira...
e voas
como as andorinhas travestidas de silêncio...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Morto... o corpo em combustão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Embriagadas palavras
que ao silêncio pertencem
escuras avenidas
da cidade perdida
voando sobre os alicerces da solidão
há flores esquecidas
nas lápides roubadas...
parcas palavras...
de um corpo em combustão
morto
fugindo da madrugada
fingindo gemidos de prazer...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2015


domingo, 8 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partíamos sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante, a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com algumas recordações, retratos, poucos, e roupas...
E o poeta?
Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia
O Poeta?
Morreu, e que um dia mataria as horas e os minutos...
“mulher clitóris”,
O Rossio erguia-se do manuscrito sem título, perdido, a morte disfarçada de cigarro, o Rossio entranhava-se no meu peito, as Avenidas pertenciam-me, como todas as janelas com fotografia para o mar,
A ponte,
O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem perceber o que era a Saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Fevereiro de2015


E... e amanhã?


As quatro esferas do silêncio
entrelaçadas às três rectas da solidão...
encontrar-se-ão no infinito?
De mão na mão
passeando na cidade faminta das abelhas?
e... e o poema proibido?
Amar-se-á como se amam os pássaros
e as plantas...

O esqueleto simplificado da geometria do cansaço
as lâminas da insónia
como guilhotinas descendo sobre os meus braços...

E... e amanhã?

Um calendário ferrugento
galgando o rio em pequenos círculos de gelo
uma caneta em suicídio
no bolso da paixão
o homem arde na fogueira do amanhecer
acreditando que há nos relógios de pulso...
amor
e palavras para escrever...

E... e amanhã?


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Fevereiro de 2015

sábado, 7 de fevereiro de 2015

São horas de acordar, a noite camuflada nas ombreiras da solidão levita entre mim e o espelho sifilítico da memória, sinto na minha algibeira a praia da infância, olho nos teus olhos o medo de me perderes..., e sabes que nasci perdido, nasci numa cidade de sombras, cacimbo e insónias,
Os teus gemidos,
Hoje?
Palavras travestidas de amor que os braços do prazer acariciam, amam, Hoje? Os teus gemidos de prata rodopiando a lareira do amanhecer, vou à janela, e grito o teu nome
Hoje?
Não existes, és como a cidade da minha adolescência, sem horários, sem morada fixa, ou... ou número de polícia, e as tuas cartas encontravam-me no amontoado de escombros com cheiro a poesia,
Eu, eu tremia,
São horas de pegar tua mão e beijá-la, como se beijam as cartas adornadas com corações e flores perfumadas, e eu
A Poesia,
E eu igual ao espelho que vive no meu quarto e me acompanha nas manhãs de Primavera,
O teu corpo sempre igual, escultura abstracta da caligrafia envenenada pelo sexo embainhado nas canções de viver,
A Poesia...!
Morreu,
E o poeta...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Fevereiro de 2015

Recordações tridimensionais

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A tela vazia e só
no centro do alpendre doirado
as palavras embalsamadas
que se misturam nas cores adormecidas
por uma mão em descanso
com medo de conversar...
a cidade engolida pela sentença do amanhecer
dormir
e não acordar
quando as imagens se despendem da noite embriagada
não regressar aos teus braços
nunca,

até que a ponte se transforme em alegria
e a madrugada
comece a desembrulhar a tela vazia,

as equações do prazer
na ardósia eterna da paixão
o silêncio Deus envenenado pelas sombras dos lábios narcisados
a fala entranhada nas montanhas do abismo
e o corpo desenlaça-se do secreto olhar das amendoeiras em flor
a tela
nua
apaixonada pelas recordações tridimensionais do rio minguado
as areias húmidas sobrevoando o teu corpo de porcelana
até que a ponte...
e a madrugada...
apareçam para desembrulhar a tela vazia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Fevereiro de 2015


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Vivíamos numa casa adormecida, tão triste, meus Deus, e tão bela, escrevia nas paredes do quarto e via as minhas palavras engolidas pela humidade, eu era uma criança, tinha sonhos, e o eterno medo do silêncio, quando me deitava e antes de dar um beijo de boa noite ao candeeiro... não rezava porque nunca rezei..., mas
Silêncio,
Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
E depois dos desejados sonhos do meu candeeiro
Porque nunca rezei,
A noite finalmente tomou conta de mim, abraçava-me, pegava-me na mão e levava-me até ao cais dos assombrados marinheiros, os barcos em pequenas romarias à esplanada do sexo, sentavam-me, olhavam a funcionária... e levantavam-se
Ela é muito gira,
Achas?
Gira Gira... é a minha vizinha,
Como?
Silêncio,
Inventávamos poemas no corpo embalsado que uma tia rica lhe tinha oferecido, coisas de ricos,
Como?
Gira Gira...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de2015

Paisagens pinceladas de Inverno

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Não sei a quem pertencem os aplausos da tua alma
porque se movem as imagens sapateadas da neblina assassina
sobre as cadeiras vazias do abismo
sabíamos que habitavam nos teus lábios
abelhas
flores...
e paisagens pinceladas de Inverno
e mesmo assim
abrimos as janelas
derrubamos todas as portas de entrada
porque a noite regressaria brevemente
na companhia dos esqueletos vivos da solidão
não tínhamos frio
porque entre nós os livros de poesia acorrentavam-se às frestas da paixão
uma lareira enlouquecida em silêncio
como enlouquecidos eram os nossos corpos suspensos no luar
a cidade fervilhava
e crescia dentro do sufoco amanhecer
caminhávamos separadamente como duas roldanas descalças
sós...
como árvores em busca da morte
sós...
… não sei a quem pertencem os aplausos da tua alma
e que imagens são estas; “as imagens sapateadas da neblina assassina”.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2015