sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Vivíamos numa casa adormecida, tão triste, meus Deus, e tão bela, escrevia nas paredes do quarto e via as minhas palavras engolidas pela humidade, eu era uma criança, tinha sonhos, e o eterno medo do silêncio, quando me deitava e antes de dar um beijo de boa noite ao candeeiro... não rezava porque nunca rezei..., mas
Silêncio,
Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
E depois dos desejados sonhos do meu candeeiro
Porque nunca rezei,
A noite finalmente tomou conta de mim, abraçava-me, pegava-me na mão e levava-me até ao cais dos assombrados marinheiros, os barcos em pequenas romarias à esplanada do sexo, sentavam-me, olhavam a funcionária... e levantavam-se
Ela é muito gira,
Achas?
Gira Gira... é a minha vizinha,
Como?
Silêncio,
Inventávamos poemas no corpo embalsado que uma tia rica lhe tinha oferecido, coisas de ricos,
Como?
Gira Gira...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de2015

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