(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Vivíamos
numa casa adormecida, tão triste, meus Deus, e tão bela, escrevia
nas paredes do quarto e via as minhas palavras engolidas pela
humidade, eu era uma criança, tinha sonhos, e o eterno medo do
silêncio, quando me deitava e antes de dar um beijo de boa noite ao
candeeiro... não rezava porque nunca rezei..., mas
Silêncio,
Mas
sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade,
sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que
roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
E
depois dos desejados sonhos do meu candeeiro
Porque
nunca rezei,
A
noite finalmente tomou conta de mim, abraçava-me, pegava-me na mão
e levava-me até ao cais dos assombrados marinheiros, os barcos em
pequenas romarias à esplanada do sexo, sentavam-me, olhavam a
funcionária... e levantavam-se
Ela
é muito gira,
Achas?
Gira
Gira... é a minha vizinha,
Como?
Silêncio,
Inventávamos
poemas no corpo embalsado que uma tia rica lhe tinha oferecido,
coisas de ricos,
Como?
Gira
Gira...
Que
roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira,
6 de Fevereiro de2015
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