sábado, 7 de fevereiro de 2015

Recordações tridimensionais

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A tela vazia e só
no centro do alpendre doirado
as palavras embalsamadas
que se misturam nas cores adormecidas
por uma mão em descanso
com medo de conversar...
a cidade engolida pela sentença do amanhecer
dormir
e não acordar
quando as imagens se despendem da noite embriagada
não regressar aos teus braços
nunca,

até que a ponte se transforme em alegria
e a madrugada
comece a desembrulhar a tela vazia,

as equações do prazer
na ardósia eterna da paixão
o silêncio Deus envenenado pelas sombras dos lábios narcisados
a fala entranhada nas montanhas do abismo
e o corpo desenlaça-se do secreto olhar das amendoeiras em flor
a tela
nua
apaixonada pelas recordações tridimensionais do rio minguado
as areias húmidas sobrevoando o teu corpo de porcelana
até que a ponte...
e a madrugada...
apareçam para desembrulhar a tela vazia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Fevereiro de 2015


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