domingo, 8 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partíamos sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante, a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com algumas recordações, retratos, poucos, e roupas...
E o poeta?
Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia
O Poeta?
Morreu, e que um dia mataria as horas e os minutos...
“mulher clitóris”,
O Rossio erguia-se do manuscrito sem título, perdido, a morte disfarçada de cigarro, o Rossio entranhava-se no meu peito, as Avenidas pertenciam-me, como todas as janelas com fotografia para o mar,
A ponte,
O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem perceber o que era a Saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Fevereiro de2015


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