Sem ti, das saudades de
Luanda.
O menino que tropeça na
sombra das mangueiras,
E, em cada fim de tarde,
O abraço imaginário do “chapelhudo”.
Caía a noite sobre ti,
E, dentro da sonolenta dor,
os papagaios em papel colorido,
Que voavam em direcção ao
infinito.
Guardo de ti, todas as
fotografias,
Todas as palavras,
escritas, não escritas,
Sobre um corpo moribundo.
O mar,
Lá longe, os braços do
mar,
Corrupiando sobre a maré
dilacerante do nada,
Tinha medo, da “lhá”,
Ouviam-se os gritos melancólicos
dos mabecos,
Esfomeados pelo sono do desassossego,
E, no entanto, eram tão
queridos, como o são todos os animais…
Sem ti, das saudades de
uma Luanda assassinada por um dia de Verão,
Na algibeira, as
pequeníssimas côdeas de saudade,
Descendo a calçada,
Sentava-me no chão, pedia
à sombra das mangueiras, protecção para terminar mais uma aventura, descia do
teu colo e, sabia que tinha regressado do ontem.
Hoje, recordo uma Luanda
apodrecida numa pequena folha em papel,
Um vagabundo poema,
Que não deixa saudades.
Sem ti, de ti,
Este dia sem nome.
Francisco Luís Fontinha,
Alijó – 24/12/2020