São doces, os lábios do
poema.
São as palavras, nos
lábios do poema,
Quando o mar entra pela
janela.
Lá fora, gente dispersa,
contínua, como a água,
A mesma água que jorra
dos lábios do poema.
São estes beijos, meu
amor,
Que travestidos de
palavras,
Vivem nos teus lábios – o
poema;
Escrevo-te enquanto tu,
vestida de flor,
Danças na sombra, a mesma
sombra, que beija os lábios do poema.
Percebo que as roldanas
do amanhecer, antes de oleadas,
Estejam perras, doentes e
cansadas,
Mas, durante a tarde, as
roldanas que vivem nos lábios do poema,
Despem-se; vejo-as
banharem-se no rio onde brincam os lábios do poema.
O ciúme. A paixão dos
versos envenenados pelos lábios do maldito poema,
Dançam, como tu, nos
lábios do poema.
Durmo docemente nas tuas
asas, andorinha Primavera,
E, o amor,
E o amor nos lábios dela,
Os mesmos lábios que
dançam nos lábios do poema.
É hoje, a derradeira
manhã adormecida,
Despida,
Nua e envelhecida,
É hoje, meu amor,
Que todas as palavras são
beijos,
Os beijos dos lábios do
poema.
Francisco Luís Fontinha –
Alijó, 19/11/2020
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