(para
todas as rodas dentadas, com amor)
Mataram todas as rosas do
meu jardim.
Incha o corpo da serpente
embrulhado na saliva florida do meu jardim
E, pergunto-me,
Porque morreram as rosas
do meu jardim.
Uma velha roda dentada
Na minha cama deitada
Desmiolada
Triste cansada.
Porquê as minhas rosas
embalsamadas?
Coitadas.
Tristes.
Velhas.
Cansadas.
O torno
Que é mecânico
Beija docemente a velha roda
dentada
Tem muitos dentes
Tem orgasmos
E, tem uma manivela
Que não serve para nada
A não ser
Para ser rodada
Prá frente
Prá cima
Alto
Cuidado;
Se fosse puta, eu
gritava,
Assim,
Como é uma manivela que beija
uma roda dentada.
Nada.
Está perdoada.
Coitadas das rosas do meu
jardim
De tanto brincar
Dormem
Assim
Como o telegrama que
recebi;
Despedido.
Desculpe, não percebi.
Deve ser um mal-entendido
Porque esta maldita roda
dentada
Tem a mania que governa
Mas, meus senhores,
Governar não lhe serve de
nada.
Governar
Só. Uma roda dentada.
Grito pelo aplainamento
Que brinca com a furadora
Morre
Fode
E, pede desculpa à meritíssima
Doutora.
A sentença
A carta de despedida do
enforcado
Foi abandonado
Deixado
Pela roda dentada.
Chamei a fresadora
Veio com ela a furadora
Mais a puta da
rectificadora.
Hoje foi um putedo de
máquinas
Livraram-se do arranque
da apara
E lá continua ela
A desgraçada da roda
dentada.
Parti-lhe os dentes
Todos.
E, tudo
Para nada;
Todo este putedo em minha
casa
Não esquecendo a
soldadura
A electroerosão
A puta que os pariu a
todos.
Mas, por favor.
Não deixem a minha roda
dentada
Deitada
No chão.
Foda-se; que palhaçada.
As fotografias
As rosas
E todas as rodas
dentadas.
(e, Senhores. Isto não é
um poema. Isto é uma orgia mecânica,
Que dorme na minha cama).
Francisco Luís Fontinha,
04/12/2020