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sábado, 5 de agosto de 2023

Entre palavras

 

Desenho nos teus lábios o sono

Enquanto tenho a perfeita consciência

Que este

É apenas o silêncio de uma flor

Nas mãos de um rio,

Lindo e curvilíneo,

 

Desenho nos teus lábios de sono

A inocência da noite

Quando depois de se despedir do dia

Um poema

Uma cama em poesia

Levita e voa em direcção à morte,

 

Desenho nos teus lábios de sono

As quatro pedras da tristeza

Na palavra amarga

Bela

Da palavra que se inventa

E brinca

Na palavra que nunca lamenta

Que o sono que desenho nos teus lábios

Seja um pedacinho de pimenta

Ou apenas… o sol entre palavras.

 

 

 

05/08/2023

sábado, 29 de julho de 2023

Filme sem saber que o era

 

Talvez ontem tenha acontecido o que vai acontecer hoje.

 

À janela

 

Não sabíamos quem éramos, apenas tínhamos a perfeita noção que cada um de nós, escondia no peito a janela que nos dava acesso aos cheiros e aos sabores do mar; um pequeno barco, ensonado ainda, galgava os socalcos dos sonhos e a Primavera tinha acabado de regressar.

Não sabíamos e somos ainda, veleiros perdidos neste mar de enganos, de cidades adormecidas pelas primeiras chuvas do Inverno, e da janela que trazíamos ao peito, às vezes, ouvíamos o silêncio do desejo galgando a montanha do prazer.

Não sabíamos, não sabíamos quem éramos,

 

Da casa sem janela

 

Éramos nós.

Éramos nós os jardineiros da poesia que a cada dia, em cada pedaço da manhã, deixávamos sobre o perfume das roseiras as últimas palavras da noite.

Ouviam-se então as lamentações do desejo da carne. Rezavam, imitavam os rochedos com os lábios pincelados de além-mar sem ninguém, o furor da madrugada, esquecida numa qualquer mesa de um bar, acordava.

A casa, a casa não tinha janelas, tão pouco os gemidos teus poderiam algum dia, conhecer,

A luz do dia.

E éramos só nós, e em cada um de nós, uma casa, uma casa sem janelas.

 

O corpo – em gemidos I

 

Não sabíamos se éramos. Na minha mão escondias-te, semeava sobre a tua pele pequenos círculos de luz, pequenas lágrimas cinzentas que dos meus lábios acordavam, como quando acorda sobre o teu olhar a primeira estrela da manhã.

Se éramos, depois o soubemos.

Pequenas avenidas habitam o teu corpo, avenidas de silêncio quando sabíamos que todo aquele silêncio,

Era apenas um poema desenhado no teu seio esquerdo; maré de engano, cidade perdida neste longínquo destino,

Sem saber,

Desconhecendo se éramos e não o sabíamos, ou se apenas não sabíamos que éramos.

 

O corpo – gemidos II

 

O clítoris do engano. E se o fomos, em teu corpo o seremos, eternamente o desejo.

Alimentava o teu cio com os livros que li, com os livros que um dia escreverei, e percebia, e percebia que aos poucos, muito lentamente, uma nuvem de veneno se desprendia dos teus lábios, eu bebia-o,

O morria sobre ti.

E ressuscitava anos mais tarde,

Abraçado ao teu cabelo.

 

O quadro sem nome

 

O estranho homem, que não sabíamos quem era, e muitos anos depois, acordou no quarto ao lado, sem perceber que já tinha sido, o que vai ser hoje.

Na parede escondia-se, na parede se tinham esquecido dele.

Lá fora, lá fora apenas a última geada da noite nos esperava, e ele, sem nome, dizia-nos que ser homem estranho, vestido de quadro, finalmente, era um orgulho.

Orgulho.

O estranho, que um dia será, quando depois percebeu que já o tinha sido,

Levantou-se,

Despiu o quadro,

Sentou-se,

E hoje,

E hoje dorme sobre uma lápide de sono.

Mesmo assim, o clítoris do engano. E se o fomos, em teu corpo o seremos, eternamente o desejo.

 

Uma fenda de luz no teu olhar

 

Inventa-se em ti, quando ainda o éramos, inventa-se em ti a melodia da ribeira a contornar a ponte, e que vai galgando cada pedaço do teu corpo, para…

Anos mais tarde,

Chegar finalmente ao mar.

 

O beijo

 

Que foi. Que foi dos lamentos do que ainda somos, por engano, almas esfomeadas, almas desventradas pela sombra, almas mortas, em corpo vivos, em corpos que buscam o prazer nos segredos do mar.

O beijo que era, ou será se foi, enquanto não o era até que soubemos que junto ao rio, até que soubemos que junto ao rio,

O beijo,

Que foi, deixou de o ser.

Hoje é um vadio ambulante, hipotecou todas as palavras numa livraria qualquer, e de beijo que foi,

Hoje,

É o beijo que será quando cair a noite sobre o que éramos; e ardeu neste pedaço de papel.

 

 

 

29/07/2023

Francisco

domingo, 23 de julho de 2023

Retracto

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Estás com muito bom aspecto

E até pare que os anos não passaram por ti.

 

Olho o teu retracto.

Escondo no teu retracto, o meu retracto

Um qualquer

Pode ser no Mussulo

Pode ser aqui

Ou ali.

 

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Parece que os anos se esquecem de ti

E se lembram de mim.

 

Olho o teu retracto

E confesso-te

Que começo a odiar o teu retracto

E todos os meus retractos.

 

Olho o teu retracto

E não vejo nada

Nem um sorriso disfarçado

Tão pouco

Os segredos da madrugada.

 

Olho o teu retracto

E vejo o meu rosto abraçado a um baloiço

E enquanto me transmites a força necessária para eu voar…

Eu olho o teu retracto

E no teu retracto

Escuto os silêncios do mar.

 

 

 

23/07/2023

Luís

sábado, 22 de julho de 2023

Poemas do mar

 

Deixei de escrever poemas para o mar

Deixei de desenhar…

Deixei de desenhar para o mar

 

Deixei de ter palavras

Que sempre pertenceram ao mar

Deixei de escrever palavras

Para o mar

Palavras

Que sempre foram do mar

 

Deixei de escrever poemas para o mar

Que sempre pertenceram ao mar

Deixei de ter sono

Que sempre pertenceu à noite

Deixei de escrever palavras

Parvas palavras

Para o mar

 

Deixei de escrever poemas para o mar

Deixei de desenhar…

Para o mar,

 

E mesmo assim,

O mar…

Sei lá onde poisa este meu mar…

Das nuvens cinzentas

Dos poemas de embalar

Das luas e dos tristes silêncios

Que também eles

Sempre foram do mar.

 

 

 

22/07/2023

terça-feira, 18 de julho de 2023

Ódio



O que leva a Lua

A odiar o Sol,

Ofuscando-o durante a noite,

O que leva a Lua e o Luar

A odiar,

O que leva a Lua

A ter raiva do sol,

E o Sol,

Raiva do mar.

 

 

18/07/2023

Doce olhar

 Escondes-te no pedacinho de luz do teu olhar

No teu olhar

De doce mar,

Escondes-te no silêncio dos teus lábios

Teus lábios de mel

De mel amar,

Escondes-te na inquietude do teu cabelo

Ao vento

Em poesia,

Escondes-te atrás de uma parede invisível

Enquanto a noite se despede de mim,

Enquanto a noite me proíbe de desenhar o teu doce olhar.

 

 18/07/2023

domingo, 16 de julho de 2023

Navio

 

Despeço-me deste navio, deste porto envenenado, deste navio sem rumo.

Despeço-me deste pobre navio, que perdido no mar,

Que esquecido de mim

Que me odeia,

Que tem raiva da minha sombra.

Despeço-me deste navio,

Enquanto do outro lado do rio, uma gaivota em cio,

Me segreda,

Que este navio é um fantasma que a noite trouxe,

Que a noite há-de levar,

Para longe.

 

Despeço-me deste navio que me odeia,

Que não tem nome,

Nem bandeira,

Neste navio em pequenos parágrafos de desejo,

Descendo a calçada,

Subindo ao ponto mais alto…

Daquela muralha,

Despeço-me deste navio,

Deste comandante louco,

Deste comandante poeta,

Quando sei que este navio,

Aos poucos,

É uma janela para o mar.

 

Despeço-me deste navio…

Pedacinho de luz

Que corre sobre a ponte,

Deste navio enferrujado,

Doente,

Cansado…

Despeço-me deste navio com cheiro a putrefacção

E poesia de esquecer,

Neste navio de amar

Quando este navio,

Qualquer dia…

Me abraçar.

 

 

 

16/07/2023

sábado, 15 de julho de 2023

Oceano de Luz

 

Não sei o nome deste Oceano,

Frio,

Escuro,

Onde me escondo,

Não sei o nome deste Oceano

Onde se escondem todas as minhas fotografias,

Mortos,

Quase mortos, outros,

Todos.

 

Não sei o nome deste Oceano,

Onde todas as noites vêm a mim…

Todas as palavras,

Todos os nomes,

Os vivos,

Os mortos,

Cemitério de poemas…

Deste Oceano,

Inventado,

Em delírio.

 

Não sei o nome deste Oceano,

Das madrugadas sem luar,

De luares sem nuvens,

De nuvens sem poesia,

E pergunto-me,

Como poderá a noite viver sem poesia…

Neste Oceano de luz,

De rochedos travestidos de noite,

Quando a noite te pertence,

Também tu, adormecida,

Morta.

 

Dentro deste Oceano.

Não sei o meu nome,

Não sei o nome deste Oceano…

De petroleiros em sono,

Quando um pedaço de insónia

Entra pela janela,

Ao cair da noite,

Nas tuas mãos

Este Oceano de enganos,

De outros tantos pedaços de luz,

Quando o meu nome

É pincelado nos teus lábios.

 

Não sei o nome deste Oceano,

De ruas sem janela,

De janelas sem os doces cortinados do desejo,

Escondes-te dentro deles,

Sacias a tua sede com o silêncio do meu olhar,

Neste Oceano onde te escondes,

Neste Oceano de montanhas e planícies em fuga…

 

Não sei o nome deste Oceano,

Onde brinco com os meus traços envergonhados,

Quase a desfalecerem de sono,

E, no entanto,

Dentro deste Oceano,

Há uma vírgula que me aprisiona…

Aos versos deste Oceano.

 

 

 

15/07/2023

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Coisas da minha fé em vergonha

 

Isto,

Isto não é nada,

São riscos em pedacinhos de corrida,

São traços,

Dos abraços…

Que uma pobre flor

Semeia na madrugada,

 

Isto,

Isto não é nada,

São cores,

Em flores de papel,

São palavras,

Em geadas palavras,

 

Isto,

Não…

Isto não é nada,

São sombras,

Das coisas de ninguém,

Nos traços de nada,

Dos traços de alguém,

 

Isto,

Isto nunca poderá ser nada.

É uma janela,

Desenhada,

Nesta triste folha em papel…

Uma janela…

De nada,

Numa parede sem ninguém,

 

Isto,

Isto nada é,

Enquanto um outro eu,

Pertencer às manhãs que o mar lançou contra a maré…

De nada,

Isto é…

Isto,

Isto não é nada,

São traços,

São riscos…

São pedacinhos da minha vergonha,

Na vergonha da minha fé.

 

 

 

13/07/2023

Francisco Luís Fontinha

Morte de uma pedra cinzenta

 

Abraça-te,

Suicida-te com a insónia de um poema,

Ergue-te até poisares na lua,

Suscita-te,

Madrugada envenenada

Que se lança ao mar…

E procura

A sombra das estrelas,

Suicida-te com essa pedra cinzenta,

Das palavras,

E nas palavras…

Daquele que tudo lamenta.

 

 

13/07/2023

Francisco


domingo, 9 de julho de 2023

Sem nome

 Podem eles,

Antes que a Lua se esconda nas tuas mãos,

Escrever nos teus olhos,

Desenhar nos teus lábios…

A paixão dos pássaros,

 

Podem eles,

Roubar todas as estrelas,

E roubar todas as noites…

Que eles vão sempre pensar,

Que eles vão sempre acreditar…

Que o amor é uma coisa complexa…

 

Podem eles,

Podem eles escrever em ti,

A equação do sono…

Em busca da insónia…

Que eles mesmos…

Lançaram ao mar.

 

 

09/07/2023

sábado, 8 de julho de 2023

Feliz noite

 Mar adentro, este navio sem comandante,

Deste navio,

Ausente,

Mar adentro,

E peito para fora,

Gritavam,

Elas, sorriam…

E de mar adentro,

Até ao mar que regressou da outra margem,

Uma ponte,

Sem viagem.

 

Mar adentro, este navio sem motor,

À deriva num Oceano de insónia…

E da outra margem,

Ouviam-se os apitos dos homens envenenados pelo tédio,

E pela…

Ausência,

Se estar só,

E viver.

 

Mar adentro, deste navio sem rumo,

Neste navio de espuma,

Transformado em dias,

Entre noites dormidas,

Outras tantas perdidas,

E outras…

A voar.

 

Mar adentro, e tragam a tempestade,

E mandem vir, da outra margem,

A banda filarmónica.

Mar adentro para este corpo de insucesso,

Neste corpo nauseabundo…

De tanta palavra apodrecida,

Putrefacta,

E mar adentro, navio sem marinheiros,

Navio despido,

Que de esquina em esquina…

Procura sexo e poesia,

 

Mar adentro, enquanto respiro,

Enquanto afasto todas estas palavras apodrecidas…

Mar adento, de mim,

Sempre que me deitava num sítio…

Acordava num outro sitio,

Que não pertencia aos dois sítios anteriores.

E, no entanto,

Era tão feliz…

 

De mar adentro,

Fui andando,

Fui caminhando…

Enquanto o mar,

De dentro,

Depois lá fora, muito mais longe…

O triste mar adentro,

Traz o navio,

Dá-lhe um beijo de despedia…

E deseja-lhe feliz noite;

Meu querido.

 

 

 

08/07/2023

Francisco

Sebastião

 Sebastião, o grande louco,

Filho de um louco,

Acreditava,

Acreditava que dentro da insónia

Habitam todas as estrelas mortas,

 

Sebastião não sabia,

Porque era louco,

Um pouco, às vezes de muito pouco…

Sebastião não sabia que as estrelas mortas

São desejos não realizados,

 

Sebastião não sabia,

E sofria,

Sebastião não sabia,

Por exemplo,

Que o cume de uma montanha…

Em poucos minutos…

Transforma-se numa planície,

Tanta coisa, tanta coisa que o Sebastião não sabia…

 

E não sabia,

Porque o Sebastião era um pouco,

Touco,

Pigmeu dançante…

Louco de profissão…

E Tolo em Doutoramento,

 

Sebastião era Tolo,

De pouca inteligência,

Segundo o dicionário “Priberam” …

Mas o que Sebastião não sabia,

Coitado do Sebastião…

Não sabia a raiz quadrada de trinta e seis…

E desconfiava dos números do Euromilhões.

 

 

 

08/07/2023

Francisco