quarta-feira, 15 de maio de 2024

O que somos, então?

O que somos, quando não somos

Aquilo que somos

Quando querem que sejamos

Ou quando somos menos aquilo que queremos ser

E eles, querem que tu o sejas.

 

Não quero ser, aquilo que não possa ser

E se somos alguma coisa sem o saber

Que seja breve, o ser

E o saber

E o beber.

 

E já agora, que seja breve

O morrer.

O que somos, então?

Somos pedra,

Somos pão,

Somos migalhas…

Perdidas no chão.

 

O que somos, quando não somos

Aquilo que somos,

 

E confundem-te com uma borboleta com bolinas encarnadas… nas asas.

sempre que a noite quiser...


 

terça-feira, 14 de maio de 2024

O meu corpo

O meu corpo é um farrapo de insónia

os meus ossos são pedaços de tristeza, que voam sobre as lápides da madrugada

o meu corpo gagueja, inventa manhãs de alegria, em palavras

ou em outras madrugadas

o meu corpo é um farrapo mergulhado na dor

é uma estrela negra, e fria

e não vê os sapientes da noite.

 

O meu corpo é um líquido comestível, ou bebível

ou apenas poético.

O meu corpo é uma charrua que lavra o vento

quando a chuva cai na eira de Carvalhais.

O meu corpo…

Não, eu já não tenho corpo.

bom dia... com café


 

domingo, 12 de maio de 2024

Monstro

 

Haverá sempre um monstro dentro de mim
Haverá sempre em mim,
Uma palavra para ti,
Haverá sempre uma lágrima no silêncio de um monstro
Haverá sempre um desenho
Nas mãos de um monstro.
Haverá sempre um corpo
No corpo de um monstro...
Haverá sempre em mim
Um monstro,
Que vive dentro de um monstro.

saudade

muito tempo levou a saudade, muito tempo deste pouco tempo

inventaram a saudade,

e eu, morro de saudade

morro de saudade, da minha infância

morro de saudade, do meu pai

morro de saudade, de muita saudade, da minha mãe

morro de saudade, de quando dormia, sem saudade

muito tempo levou a saudade, e hoje, sou duzentos e seis ossos de saudade

um pouco de arte...

 


qualquer coisa...


 

A luz do silêncio

 

Era uma vez uma palavra
Uma lágrima disfarçada de manhã
Que não tinha nada...
Era uma madrugada na luz do silêncio.

Era uma vez um grito na boca da paixão
Que se vestia de noite
Uma palavra que alguém esqueceu sobre o teu corpo
E nos teus olhos, a luz do silêncio.

E a luz revolta-se nos teus lábios...


Ribadouro, 12/05/2024

barcos...


 

sábado, 11 de maio de 2024

por aí... boas leituras


 

Douro...

 


Deslumbrante Douro...!

Complexo de espuma

 

Das palavras o complexo de espuma sobre o teu corpo
Madrugada não determinada
Pelo cansaço dos teus olhos
A primeira lágrima da manhã

A cidade desapareceu da minha mão
E levou com ela todas as flores e todas as pessoas
E só ficaram as crianças
E o mar

Das palavras um pouco de mim
Corredor da tristeza
Há uma estrela pertinho da lua...
E este complexo de espuma acaba de morrer.

 

 

Ribadouro, 11/05/2024

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Um pouco mais de azul

 

Um pouco mais de azul na tua voz
Um pouco mais de silêncio nos teus olhos
Um pouco mais de luz
Muito mais, nos teus lábios.

Um pouco mais de tudo
Um pouco mais de azul na tua boca
Que traz o mar para ver o mar...
No mar do teu olhar.

Um pouco mais
Que seja qualquer coisa sem nome
No pouco mais de que tenho
Ouvir o azul da tua voz.

quase arte

 

Uma coisa sem nome…





 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Sinto-me poema

 

Sinto-me poema, palavra semeada na alvorada
Não me sinto e
Sou
Um pedaço de espuma para fazer um outro dia
Não me lembro e
Sou
A montanha que procura a mãe.

Sinto-me e não o sou
Talvez às vezes, o seja
Jardim clandestino das noites de Primavera.
Sinto-me poema
Fera
Amansada pela manhã
Sou e não me sinto
Noite.

Não me sinto estrela, e talvez o seja
Quando os teus olhos me olham e os teus olhos são
Estrelas.
Sinto-me poema, palavra semeada
Na mão da tua alma
Nos lábios de minha amada.

 

A vida é um carrossel sem crianças
É um círculo de luz com olhos verdes
É um poço fundo
Tão fundo como a morte
A vida é o desespero de não ter
Ou em ser
Um homem sem sorte

flores

 

são as flores que te enviei
as primeiras lágrimas do amanhecer
são as flores que te dei
as palavras do meu viver

são as flores a poesia
neste livro de escrever
neste livro sem dia
sem dia para morrer

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Silêncio de Maio

O dia estava lindo, como hoje o dia está lindo. O meu corpo parecia um farrapo, e mesmo assim, o silêncio de Maio era tanto, que eu tremia como varas verdes, junto à ribeira.

Vestiram-me de louco. E eu aceitei andar vestido de louco e eu aos poucos, fui desenhando círculos invisíveis no longínquo corredor com muitas portas, e sem janelas, porque também elas, tal como eu, estavam acorrentadas à Primavera.

Nos braços tinha pele e osso, e no resto do corpo, pedaços de tecido com a costura rebentada.

Deram-me um prato de sopa, mas a minha fome era o sono, e a insónia, era a minha fartura…

Aterrei de cabeça sobre o prato de sopa. Dois a zero; tempo regulamentar de jogo.

Depois, passava a noite a voar dentro de quatro paredes e com três ou quatro gotinhas de não sei o quê, mas faziam-me sonhar, um beliche e uma casa de banho. Até dormir profundamente como dormem os mortos antes de morrerem.

Tinha medo da vida. Tinha muito medo da vida. Abraçava-me a dois ou três livros que levei comigo, enganava o vício com poesia, e de vez em quando, bebia uns tragos de Milan Kundera, e sentia-me feliz porque a primeira semana tinha passado e só faltava mais uma semana. E só faltava eu acreditar.

E eu acreditei.

 

(Francisco)

08/05/2024

são cerejas os teus olhos

 

são cerejas os teus olhos de amêndoa
são primaveras são pedacinhos de ti
os silêncios de luz na noite passada
as palavras meu amor
também são cerejas envenenadas

são feitiço os teus seios de veneno
eles estão em perfeito delírio
e há uma palavra de um pequeno abraço
no feitiço do rio
são cerejas os teus olhos

são diamantes de pluma madrugada
são os palhaços no sorriso de uma criança
são os teus olhos em cereja
na amêndoa amanhecer...
olhar-te e tocar-te

os meus braços que não querem mais os teus braços

 

às vezes, às vezes no pouco que durmo, acordo sobressaltado e penso que estou nos teus braços

fico triste

não queria mais voltar aos teus braços… não quero mais amar-te

30 anos depois da última vez que te abracei loucamente e amei, recordo-te, tenho-te medo e muito respeito

mas se um dia me suicidasse, era nos teus braços que o queria fazer

a heroína é uma merda  

(obrigado; pai, mãe e Dr. Luís Castelo Branco)

galáxia

 

outra galáxia com muitos sonhos para fazer um outro dia
estrelas de espuma para a manhã
e o meu sono acorrentado não tem uma porta aberta para o chão
peço para fazer um desenho sobre a mesma hora
e sei que alguém esqueceu de abrir a morte do silêncio

outro mar engole o meu beijo
outro dia que não tem uma palavra para mim
outro dia que se esquece de acordar às nove horas para fazer um insecto
e voar até às sílabas dos teus lábios

outra galáxia de vidro e só
o meu corpo oceano está envergonhado
apetece-me correr e desistir de sentir o abismo
depois procuro o silêncio da paixão
sabendo que não dormem as borboletas no meu sonho

o dia, morre

o teu sorriso, acorda


Ribadouro, 08/05/5024

terça-feira, 7 de maio de 2024

drag queen

drag queen ela é uma lágrima que alguém tem escondida no olhar
ela é dor na cabeça de uma palavra
ela é desejo que apenas a noite consegue desventrar
ela é a flor
que a mesma noite de há pouco
sabe amar

drag queen ela esconde-se no peito suado de um amante
inventado
ela é a espuma que semeia no mar
o sexo
e a boca

ela é a paixão de quem tem uma palavra para o luar
drag queen ela é a única pessoa que não tem nada
abraça-se a amores proibidos
e ela é um sorriso que não tem uma lágrima

ela é a cigarra que dança e a noite que começa
ela é drag queen ela é uma ribeirinha que não tem uma porta de entrada
nem uma janela para ver o silêncio
ela é
uma espingarda de espuma na boca da vagina

ranhosa

 

é uma ranhosa que não tem janelas para o mar
mau feitio de espuma para fazer um desenho abstracto
no meu quarto
é uma ranhosa mas tem nos olhos os dois lados da manhã
e ela é lindíssima
e tem nos lábios o desejo
e só tem uma lágrima de luz na boca

é uma tristeza de ranhosa
que de ranhosa a casa está ausente
que tem estrelas no sorriso
é uma ranhosa de lágrima para a morte
se a morte é uma cabra
se a morte é uma ranhosa
de mau humor

oceano

 

a videira sangra o beijo
na sua boca tem mil primaveras entre sílabas e mortos
que têm medo que alguém se disfarce de sonâmbulo quando a noite é uma cabra de insónia com sabor a chocolate

a videira conhece cada socalco de desejo que aponta os braços para o rio douro
o poeta não se confunde com as palavras
o poeta ama as palavras e só tem janelas para o rio

a videira é lágrima quando a primavera se masturba no próximo apeadeiro de luz
o comboio é um sorriso lindo e só tem uma palavra na ponta do silêncio...
a linha férrea cessa de amar
porque a videira o súplica e lança para a lua pedacinhos de espuma...
os barcos não amam mais este oceano

lágrima de uísque...

 

o sapato é um submarino de vácuo quando forem 9 horas para a manhã terminar
despede-se da paixão confundindo a terra com o teu nome
desenha flores para fazer um bolo
escreve sapato na garagem
e a garagem não tem janelas
porque é um caixote vestido de sono

a terra é a charrua que lavra a vida
é o poema no jardim do silêncio
e o sapato sempre debaixo da terra mineral que alguém deixou no carro
nos olhos do sapato a morte é um insecto
que nunca sabe o nome do teu cabelo

na tarde da tua vagina um silêncio de espuma
cânfora manhã na despedida do meu beijo
sapato submarino de vácuo para fazer um outro mundo
outra galáxia com muitos sonhos
e só tenho uma lágrima de uísque...

a casa

a casa é um desenho abstracto para fazer um outro mundo
é silêncio de luz e desculpa-se com os ossos que alguém esqueceu sobre a morte
a casa é um caixote vestido de natal
a casa come o quintal e as flores são soldados para a morte
mas a casa também morre...

a casa ama o poeta que odeia a casa
a casa tem janelas com cortinados de veludo e quando a noite não acorda nem abre os olhos,
a casa é uma lágrima

a casa podia ser um livro ou uma vagina
podia ser um sino para fazer um desenho
a casa podia ser alegria
ou a chuva que alguém deixou junto ao pôr do sol
mas a casa é apenas uma palavra



 

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Amo-te

Por cá somos poucos do que fazemos para fingir que o sol está envergonhado

A maré já está longe do silêncio

Tenho de fazer uma lágrima

Depois um insecto dispara uma palavra

Há uma coisa para dissecar

E

Quando chegares avisa para eu fechar a morte...

 

A saudade do ferro fundido e do meu beijo de uísque

A janela está aberta para o teu púbis

Uivos de luz desculpam-se e escrevem o teu nome na noite

Como se a noite não soubesse que alguém esqueceu aqui o guarda-chuva.

 

Hoje estarás? Triste. Perfeito estado de alma.

As flores são soldados que alguém tem de colher logo pela manhã

Pertencem à terra e ao menos sabem matemática e geometria descritiva

Porque os óculos não são árvores de espuma

Porque são coisas diferentes que dizem saber riscar o teu cabelo na almofada da paixão.

 

Queria dormir na tua boca

Quando acordar a morte dentro deste labirinto de qualquer coisa de insignificante e modesto para mim

Queria perguntar se não me lembro da manhã

E só tenho uma palavra para fazer um desenho...

 

Amo-te.

Ofício

Desperdicei o ofício numa noite de uísque

Quando acordei tinha a mão a segurar o copo

E o copo

Segurava o silêncio

Agarro-me aos teus seios

Se não o fizesse, caía deste Inverno

E nunca mais era Primavera nos menos olhos

 

Os óculos são pedacinhos de nojo nos lábios da manhã

O sol está envergonhado

A Alzira comprou três quilogramas de insónia

E escondeu-se no jardim a fumar cigarros

 

E faremos com que a luz do paraíso seja néons de desejo

Seja a tua pele escondida nos meus lábios

Que o frio e a morte sejam

O erro da paixão

E se o teu púbis quiser tocar a minha mão

Pois que toque

Mas em perfeito silêncio

olhos verdes

o perigo abraça a morte

depois um insecto dispara uma lágrima

indecente

voa sobre as árvores à procura do silêncio

há uma palavra na ponta dos ossos

e nos dedos

um círculo de luz com olhos verdes

Silêncio

Nos braços trago o silêncio da chuva, transporto nos olhos os ossos que alguém esqueceu na noite anterior

Atravesso o frio tal como ele está

Despido

Nu

E despido

E só.

 

Um ferro de luz desculpa-se por não saber que o silêncio do ferro é Fe

O barbeiro está de férias

O capataz cá do sítio

Enjoadito

Coisas do ferro e do capataz.

 

Apaga a luz, meu amor

Fecha os olhos

Imagina o meu beijo nos teus olhos

Imagina o frio em pequenos cortinados de sono…

Apaga a luz, meu amor

E beija-me

E vem dormir comigo no medo da noite.

 

E se fossemos

e não voltássemos,

ao ponto inicial

do sistema de eixos da paixão?

três abelhas

três abelhas na porcelana mel

saboreiam as palavras, comem as sílabas

inventam histórias

com meninos e com meninas

com flores e com flores

até que a noite, os separe

 

ou se cale

ou se deite no teu ventre

três abelhas na porcelana mel

nos teus lábios, o veneno da manhã

porque em cada sítio…

uma abelha te olha

domingo, 5 de maio de 2024

pop dell arte


 aqui, oiço...!

Se Nostradamus fosse vivo, fodia esta terra.

Se o José Castelo Branco estivesse morto, a TVI era uma pasmaceira.

Se Viriato fosse vivo, o cu de judas era mais acolá…

Se a minha avó tivesse testículos, certamente que era o meu avô.

porca lápis



Murça este fim-de-semana tem o festival literário “porca Lápis”. Alijó, tem lixo e desleixo e jardins desprezados.

Nem têm a dignidade de dar o nome à biblioteca Municipal de Biblioteca DR. António Cabral; nem se dignam de criar um prémio literário com o seu nome, poeta de excelência transmontano e duriense.

Assim vamos andando.