sábado, 23 de abril de 2016

A viagem do paquete amordaçado


Os poemas perdidos, a noite incendeia a solidão do corpo enquanto lá fora o silêncio da morte acorda os pedestres rochedos da insónia.

Desço às profundezas do rio, toco na sua boca como se alguém me empurrasse para a escuridão, feliz aquele que vive só, sem ninguém,

Os poemas perdidos que invadem a tarde junto ao mar, lá longe, os sifilíticos segredos da esperança, perdidos, as palavras, os sons e a melódica tempestade dos guizos,

Perdidos.

Os poemas na minha mão caminhando sobre as areias finas do desejo,

Invento crianças que brincam nos quintais de espuma,

Marés de incenso sobre a secretária desarrumada,

Milímetros quadrados de nada, de ninguém, que só os muros da geada conseguem atravessar, tenho pena do coração da Primavera; triste.

Como eu,

Triste

Nos poemas perdidos,

Amanhã renascerá uma estrela no meu peito e o meu corpo transformar-se-á em lâminas de prazer, amanhã terei os poemas perdidos fora do livro, esqueléticos casebres das montanhas de neblina, rios que invadem a cidade e trazem a morte, dos poemas, e dos livros com poemas,

Triste,

Os poemas perdidos quando incendeiam os dedos amachucados pelos cigarros em despedida,

As fotografias dentro de uma caixa de cartão à espera de serem resgatadas pelas palavras dos poemas perdidos, sem ninguém, procuro nela o meu rosto de infância, imagino-me a olhar os barcos entre apitos e partidas, e o medo absorve-me…

Deixo de ver a cidade, dou-me conta em pleno Oceano, sinto o cheiro das gaivotas percorrendo os trilhos do sono, e dos poemas perdidos…

O sangue que corre nas minhas veias, os dias iguais às noites, as noites iguais às sílabas de luar quando olho pelo camarote um finíssimo fio de nylon que me acompanha até ao meu regresso,

Despeço-me dos poemas perdidos,

Despeço-me da aldeia onde nasci e abraço uma Lisboa camuflada pelas âncoras do Tejo, os caixotes em madeira presos aos meus pés, sem nada, apenas tarecos, apenas pequeníssimas coisas sem nexo,

Os poemas perdidos,

Despeço-me,

Deles, delas…

 

Sem perceber que os poemas perdidos nunca existiram em mim.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 23 de Abril de 2016

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Cansaço de uma Primavera apaixonada


A voz silenciosa da montanha

Montanha envergonhada

No luar.

A voz alicerçada dos mártires que o vento leva

Leva o assobio melódico da Primavera apaixonada

Nos rochedos de chorar.

Cansada.

A voz esconde-se na planície do amanhecer

Amanhecer largando a esperança

Na cidade embriagada.

A voz do meu corpo camuflado pelas roseiras

Roseiras de rosas amarelas à nascença

A voz… a voz triste da alvorada.

Cansada.

A voz silenciosa da montanha

Montanha meu leito

Que regressa à noite a chorar.

A voz maltratada pela floração do meu jardim

Jardim onde habito sem jeito

E espero pelo mar.

Cansada.

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 21 de Abril de 2016

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Árovre “saudade”



Sou a árvore sem medo de acordar
Sou o fruto proibido em cada amanhecer
Sou o silêncio do teu olhar
Nos dias de envelhecer
Sou a árvore da alegria
E a sombra da melodia
Sou a árvore “saudade”
Para recordar este dia
E nunca esquecer
A mulher da minha vida…

Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 20 de Abril de 2016