quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Equação do esquecimento


Uma equação morre no quadriculado papel da insónia,

Tenho parábolas entranhadas no peito,

Acaricio o foco…

Abraço a directriz,

Aos poucos sinto os traços do amor entre lágrimas de giz

E pedacinhos de ausência,

As curvas planas deambulam sobre o meu cabelo,

Oiço o ranger da madrugada

Na algibeira de um ardina,

As palavras… voam em direcção ao mar,

Uma cigana lê-me a sina…

Coitada… coitada da geometria

Cravada no silêncio da vida,

Coitada da cigana… embrulhada na sombra de uma triste avenida,

Coitado de mim…

Esquecido numa seara de incenso,

Penso,

Não penso,

Sinto em ti o difícil sorriso caindo do alto da montanha,

Ela, a cigana, corre, corre… e ninguém a apanha,

Estou farto da poesia,

E dos sonhos encastrados aos rochedos do medo,

O sono fugiu de mim,

Partiu para outro continente…

Não me levou,

E fiquei só,

Com esta equação no quadriculado papel da insónia…

Vivo,

Respiro,

E fumo… e fumo noites de agonia.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 19 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha​ / Agosto_2015


Francisco Luís Fontinha... Sem-abrigo|

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cais dos náufragos imaginários


Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos imaginários,

Venderam os ossos à escuridão

Trocaram a alegria pela tristeza…

E parecem tão felizes como eu,

Desenho-os na minha mão

Enquanto lá fora

Lágrimas em papel caiem sobre a calçada íngreme da solidão,

Sofro

E tenho medo da paixão,

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos encalhados na fina insónia do corpo,

Saberei porque durmo nesta cama de água salgada…

Saberei porque vivo nesta roldana enferrujada pelas nuvens da manhã,

Ao acordar,

Não estás,

Pertences aos ventos do Tejo…

Entre um beijo de despedida

E petroleiros acorrentados aos jardins de Belém,

Voltarei

Um dia

E este porto…


Sem ninguém,

Voltarei

Um dia

Sem saber o significado de regressar aos teus braços,

Esqueci o odor do teu perfume,

Esqueci a fúria do teu ciúme…

E esqueci a janela do teu olhar

Diluída numa folha amarrotada pelas montanhas da saudade…

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos...

Sem remetente,

Ausente de ti.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 18 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha​ / Agosto-2015 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015


 (Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015)


 (Francisco Luís Fontinha - 17/08/2015)

Triste tempo recheado de fotografias


Não tenho tempo

Para desenhar lágrimas no meu rosto cansado,

Não tenho tempo

Para folhear os álbuns de fotografias…

Esquecidos sobre uma secretária,

Que mais parecem um cemitério, umas mortas, outras perdidas,

Outras… vivas quase mortas,

Gente anónima,

Sem tempo para conversar,

Não,

Não tenho tempo

Para o amor

E esculpir a paixão na madrugada,

Não tenho tempo para construir sonhos

Que acabam sempre por ruir…

Não tenho tempo

Para imaginar-me dentro de um espelho,

Triste,

Derrotado pela força do vento,

Não tenho tempo

Para ninguém…

Apenas estou aqui,

Sentado,

A olhar o meu relógio parado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 17 de Agosto de 2015

domingo, 16 de agosto de 2015

 (Francisco Luís Fontinha - 17/08/2015)

As árvores incendiadas pela solidão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Perdi-me na confusão dos dias,
Senti as facas do destino cravarem-se no meu peito,
Não gemi, não chorei,
Tudo senti…
Sem saber que hoje um pequeno sonífero de paixão
Avassala-me como seu fosse um tonto,
Um imbecil sem guarita…
Um livro morto
Sobre uma mesa caquéctica,
Oiço-o como se ele pertencesse aos ausentes esqueletos de sombra
Descendo os socalcos da madrugada,
Lisboa mora nos meus braços,
Todos os dias sou atropelado por um Cacilheiro em sofrimento,
E sinto-me perdido
Nesta cidade de montras iluminadas,
Não tenho palavras para deixar no teu rosto,
Apenas algumas cartas, apenas alguns cadáveres de rosas roubadas num qualquer jardim sem cais de embarque,
Pertenço-te,
E amo-te,
Neste destino desesperado,
Quando no meu relógio são horas de me esconder nos teus braços,
Espero-te, espero-te sabendo que o teu corpo pertence às nuvens,
Espero-te… espero-te sentindo o peso da saudade nas árvores incendiadas pela solidão,
E quando regressa a noite,
Deito-me numa caixa de cartão,
Escrevendo cartas
Para um remetente sem rua, sem cidade… sem número de polícia… mas escrevo.
 
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Agosto de 2015